| 20/01/2005 15h43min
Tudo começou da forma mais otimista possível para a missão de paz brasileira no Haiti. Os soldados foram recepcionados com gratidão pela população local, Ronaldo e companhia fizeram um "jogo da paz" em Porto Príncipe e o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi levar uma mensagem de apoio ao pobre país caribenho.
A missão, patrocinada pela Organização das Nações Unidas (ONU), serviria para mostrar que o Brasil está pronto para assumir um papel de liderança diplomática na América Latina, com uma abordagem menos agressiva que a norte-americana. Mas tudo está saindo mais complicado do que se esperava. As facções armadas estão cada vez mais violentas, e os brasileiros, criticados inicialmente por sua mansidão excessiva, agora se vêem obrigados a assumir a ofensiva nas violentas favelas da capital.
Além disso, a infra-estrutura haitiana está em ruínas, e as generosas promessas de ajuda internacional demoram em se materializar. Por tudo isso, muitos consideram que a missão no Haiti foi o primeiro erro do governo Lula na política externa.
– O Haiti é um atoleiro. Acho que o Brasil deve encontrar uma forma de sair de lá – disse o deputado Ivan Valente (PT-SP), que se opôs ao envio de tropas.
O envolvimento brasileiro no Haiti é consequência da rebelião armada que levou deposição do presidente Jean-Bertrand Aristide, em 29 de fevereiro de 2004. Inicialmente, soldados dos Estados Unidos e da França foram enviados para tentar impor a ordem no país. Em agosto, o contingente da ONU, liderado pelo Brasil, assumiu a tarefa.
Trata-se da maior operação militar brasileira desde a Segunda Guerra Mundial. Ela é parte dos esforços do governo Lula para dar mais influência ao país, que pleiteia uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. O Brasil afirma que os problemas do Haiti são sociais e econômicos e que, embora as tropas estrangeiras possam dar segurança, o país precisa ser reconstruído para que tenha uma estabilidade duradoura. O governo se empenha em ressaltar que se trata de uma força de paz, não de ocupação.
O assessor de política externa do presidente Lula, Marco Aurélio Garcia, vem alertando que uma nova crise pode surgir no Haiti se a comunidade internacional não desembolsar cerca de US$ 1 bilhão que prometeu. O governo interino do Haiti e autoridades dos EUA acusam a força da ONU de ser incapaz de desarmar os ex-militares contrários a Aristide e os seguidores do ex-presidente, que frequentes se enfrentam nas ruas. Os oficiais brasileiros se queixam da demora em completar o contingente estipulado pela ONU.
Atualmente, há cerca de 6 mil soldados e 1,4 mil policiais estrangeiros no país, cerca de mil a menos do que o previsto. Mas, nas últimas semanas, os soldados vêm invadindo favelas em busca de armas. Nessas operações, eles sofreram ataques dos moradores e entraram em confronto com homens armados pelo controle de delegacias e outros pontos estratégicos.
– Eu me recuso a usar a violência cega sem planejamento ou estratégia, o que poderia criar muitas vítimas inocentes, porque você pode desencadear um clima insuportável em todo o país – disse o comandante da missão, general Augusto Heleno Ribeiro.
Os brasileiros que se opõem à missão dizem que ela dá legitimidade à queda de Aristide, que consideram ser fruto de um golpe estimulado pelos EUA. Eles afirmam também que os recursos destinados missão seriam mais bem empregados no combate pobreza e criminalidade no Brasil – isso num momento em que o governo reluta em enviar tropas ao Rio para controlar os morros.
As informações são da agência Reuters.
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