| 23/08/2003 18h06min
O diplomata Sérgio Vieira de Mello, morto no ataque à sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Bagdá, foi lembrado como um "herói do mundo" durante o velório neste sábado, dia 22, no Rio de Janeiro. Na despedida discreta no Brasil, o trabalho pela defesa dos direitos humanos e da paz foi citado como seu maior legado.
Num gesto de reconhecimento à dedicação de Vieira de Mello, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, que veio ao Brasil para a despedida, prometeu dar continuidade ao trabalho do diplomata no Iraque.
– Seu último desejo (antes de morrer) era de que a missão das Nações Unidas não fosse retirada (do Iraque) – afirmou Annan em um discurso emocionado, lembrando o pedido feito pelo brasileiro antes de morrer, quando ainda estava ferido e preso sob escombros após o atentado de terça, dia 19.
Ao lado de Annan, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou a palavra para consolar a mãe de Vieira de Mello, dona Gilda, 83, depois de dar-lhe um forte abraço. Lula disse a dona Gilda que ela deveria pensar em Sérgio como um herói nacional, "ou melhor, um herói do mundo, porque poucos lutaram pela paz como ele".
– Eu penso que a dona Gilda perdeu um filho extraordinário. A ONU perdeu possivelmente um dos mais extraordinários diplomatas, e o Brasil perde o símbolo de um homem que dedicou toda sua inteligência, toda a sua alegria na busca de um mundo melhor, na busca da paz, na busca de um planeta mais humanizado – afirmou Lula, visivelmente emocionado.
Nascido no Rio, onde vivem sua mãe e a única irmã, Sônia, Vieira de Mello iniciou sua carreira diplomática na ONU em 1969, em Genebra. Ocupava desde setembro do ano passado o cargo de alto comissário de Direitos Humanos da ONU e foi indicado por Annan para chefiar a missão no Iraque.
A sua morte no ataque com um carro-bomba à sede da ONU em Bagdá, assim como a dos mais de 20 funcionários em missão no país, chocou o mundo. Depois de participar de missões no Paquistão, Moçambique, Líbano, Bósnia e Timor Leste, o brasileiro era reconhecido por seu trabalho bem-sucedido em áreas de grande conflito.
O Iraque seria mais uma experiência. Talvez por esse passado, sua morte tenha sido tão lamentada.
– Nós não podemos aceitar que Sérgio teve que morrer neste momento, desta maneira ... Nós não podemos aceitar que todo seu brilho, sua energia, sua devoção a sua equipe e sua lealdade aos ideais das Nações Unidas tenham sido abruptamente tirados de nós – disse Annan, chamando-o de "querido filho do Brasil".
Para Lula, "homens como Sérgio não morrem".
– Eu acho que ele está viajando, quem sabe viajando para um outro lugar que tenha um outro problema e que ele com a mesma convicção está pensando em ajudar a resolver – afirmou o presidente, sugerindo à mãe do diplomata, inconsolada, que pensasse dessa maneira para superar a dor. – Ele vai continuar construindo a paz onde ele estiver – afirmou.
O corpo do diplomata brasileiro, transportado por um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) vindo de Bagdá, chegou perto das 8h30min deste sábado à Base Aérea do Galeão, onde foi recebido com honras militares. No mesmo avião, que fez uma escala em Genebra, vieram os dois filhos e a ex-mulher que vivem na França.
Ao desembarcar do avião, o caixão fechado estava coberto com uma bandeira do Brasil, mas no velório, depois das homenagens, também foram colocados uma bandeira da ONU e um pequeno ramalhete de rosas. A cerimônia foi reservada num primeiro momento apenas para familiares e convidados.
Além de Annan e do presidente Lula, o velório do diplomata, que começou por volta das 10h da manhã, foi acompanhado pelos ministros da Fazenda, Antonio Palocci, das Comunicações, Miro Teixeira, e das Relações Exteriores, Celso Amorim, o prefeito Cesar Maia, entre outras autoridades, familiares e amigos.
O corpo de Vieira de Mello deve permanecer na sede da Prefeitura até domingo. A última viagem é rumo à França, onde será realizado o enterro.
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