Depois reunião com a bancada do partido na Câmara no final da noite desta quarta, dia 21, o PT decidiu, por 57 votos favoráveis e oito contrários, suspender por tempo indeterminado os deputados João Fontes (SE) e Luciana Genro (RS).

Os radicais serão retirados das comissões permanentes e especiais que integram. Fontes é titular da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e suplentes em outras duas. Luciana Genro compõe a Comissão de Relações Exteriores e é suplente de outras três, inclusive a CCJ. Ambos também não participarão mais das reuniões da bancada e serão impedidos de falarem em nome do PT.

A medida foi tomada depois que o deputado João Fontes (SE) entregou ao jornal Folha de S. Paulo uma fita de 1987, contendo declarações de Lula contra as reformas hoje encaminhadas por ele ao Congresso.

A divulgação do material recebeu críticas do presidente do partido, José Genoino. Para ele, João Fontes ultrapassou todos os limites. Segundo Genoino, é inaceitável o fato de o deputado petista ter divulgado material no qual Lula critica seus atuais aliados, entre eles o ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP). Fontes alegou ter divulgado o discurso para mostrar que "defende hoje as mesmas posições que Lula defendeu".

Para o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), a atitude do deputado rompe qualquer contrato ético de convivência, e demonstra que João Fontes e Luciana Genro já tinham decisão política de sair do PT. O que mais incomodou a cúpula do PT e parlamentares da ala governista foi que, pela primeira vez, um parlamentar da ala radical atingiu diretamente o presidente da República.

Para o presidente do PT, a história deixa claro que as declarações de Lula em 1987 não refletem mais a linha atual do partido. Ele disse também que a atitude de Fontes não entrará na pauta de discussão do partido. A decisão final da bancada petista será apreciada pela Executiva Nacional.

Segundo o líder do partido, deputado Nelson Pellegrino (BA), os dois parlamentares continuam filiados ao partido, mas estão suspensos das atividades da bancada. O deputado João Fontes justificou-se, afirmando que não cometeu nenhum delito e que não houve nenhuma intenção de ferir a figura do presidente da República, assim como não houve qualquer ofensa. Ele considerou ainda injusta a punição, da mesma forma que a deputada Luciana Genro, e disse que vai se defender no Conselho de Ética.