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 | 07/06/2008 22h10min

Renato Gaúcho, o técnico, é linha-dura

Ídolo gremista cobra pontualidade e aplica multa nos jogadores do Fluminense

Diogo Olivier  |  Diogo.Olivier@zerohora.com.br

O Renato treinador, quem diria, é um linha-dura. Cinco minutos antes de começar o dia de trabalho nas Laranjeiras, ouve-se o apito frenético. É ele exigindo titulares e reservas no campo, já. Chegou à palestra depois de o chefe começar a falar? Multa de R$ 100. De chinelos no restaurante? Mais R$ 100. Apareceu no treino meia hora atrasado? R$ 1,5 mil.

Só o que segue imutável na vida de Renato Portaluppi, técnico do Fluminense que neste domingo será ovacionado pela torcida gremista antes, durante e depois do jogo no Olímpico, parece ser a predestinação para a vitória. O ex-padeiro nascido em Guaporé e criado em Bento Gonçalves está na final da Libertadores. E com a credencial de ter derrubado o mítico Boca Juniors. Se derrotar a LDU, do Equador, o maior ídolo da história do Grêmio será também o primeiro brasileiro a conquistar a América como jogador e técnico.

E tudo isso antes dos 50. Renato tem 45 anos. Como jogador, sobretudo nos tempos de Grêmio, onde foi alma, coração e gols nos títulos da Libertadores e do Mundo em 1983, histórias sobre a sua paixão pela noite e pelas mulheres avançavam pelas avenidas e dobravam as esquinas de Porto Alegre. Certa vez, entrou no pátio do Olímpico em tal velocidade que os pneus do carro pareciam cantar "até a pé nós iremos". Aos ouvidos do então presidente Fábio Koff, hoje manda-chuva do Clube dos 13, chegou a informação de que alguns transeuntes, inclusive meninos das categorias de base, teriam corrido risco. Koff mandou o então superintendente Antônio Carlos Verardi multá-lo. Verardi avisou Renato.

— Multa? Como assim? Não aceito!

— Quem sabe tu vais lá na sala do homem e te entende com ele - sugeriu Verardi.

Renato aceitou a sugestão. Subiu até a sala da presidência. De nada adiantou. Koff manteve a multa. Revoltado, Renato disse que iria voltar a ser padeiro em Bento. Koff sorriu. E fez uma contraproposta:

— Quem sabe a gente faz assim: se fizeres gol no próximo Gre-Nal, te pago o salário em dobro.

Renato fez o gol, é claro. Ninguém mais lembra o valor da multa, mas isso é o que menos importa. A questão central é a forma como Renato sempre foi tratado nos clubes por onde passou. Nunca teve hábitos de freira carmelita, mas um álibi irrevogável o acompanhou desde o início. Só não deu certo na Seleção, quando o atraso ao retornar à concentração após uma folga dos treinos para a Copa de 1986 lhe custou o corte do grupo do técnico Telê Santana, ao lado do amigo Leandro, ex-lateral-direito do Flamengo.

— Era muito simples - resume Verardi. - Renato respondia a tudo em campo, jogando. E muito. Sempre.

Verardi ainda lembra do primeiro contato mais forte com Renato, para ele um bom resumo da essência do jogador. Excursão do Grêmio em Barcelona, em 1981. Um atacante havia se machucado. Era preciso trazer aquele menino forte feito um touro dos juvenis. Mas como ele viajaria sozinho de Porto Alegre até Barcelona? Verardi foi esperá-lo no aeroporto, certo de que o seu juvenil iria se perder. Nisso, vê Renato com o uniforme e uma mochila:

— Não te perdeste, guri? - perguntou Verardi.

— Seu Verardi, eu sei ler, né? - respondeu Renato.

Mas o Renato técnico mudou. Cobra disciplina dos jogadores. Fiscaliza as baladas. Promove jantares em família para unir o grupo, como na antevéspera do jogo contra o Boca, no Maracanã. O lateral Roger, ex-Grêmio e responsável pela caixinha dos jogadores na Laranjeira, entrega tudo:

— Ele confere comigo como estão as multas da caixinha. E diz: Quando tu fores técnico, vais ver como é não ter só a si mesmo para cuidar, mas 30 - relata Roger.

O atacante Soares, jogador de Renato no Fluminense, vai além:

— Ele cobra mesmo. Ele sabe que se deixar ir para a balada, dá problema. Até o peso ele confere.

Assim, o Renato que o torcedor do Grêmio aplaudirá neste domingo é um homem diferente. Técnico mais maduro e responsável, embora com a verve intacta (veja a entrevista na página 56). Só que, para o gremista, nada disso é importante. O importante é que Renato será sempre o Renato dos dois gols sobre o Hamburgo, naquela final em Tóquio.

E isso é tudo.

Ele já foi asssim

No Grêmio, Renato não dava muita atenção para normas extra-campo. Andava sem camisa e de óculos escuros pelo pátio do Olímpico, como na foto. Ele é o segundo da esquerda para a direita. A resposta para as críticas ao seu comportamento vinha sempre do mesmo jeito: com gols no jogo seguinte.

Fotocom.net, Divulgação / 

Renato retorna ao Olímpico neste domingo, como técnico do Fluminense
Foto:  Fotocom.net, Divulgação


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