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 | 16/06/2007 15h41min

Avião presidencial de FH e Fokker 100 da TAM quase colidiram no ar

Aeronaves estiveram a 24 segundos de chocarem-se a 700 km/h

FÁBIO SCHAFFNER  |  fabio.schaffner@rbs.com.br

As falhas no sistema de controle aéreo da Aeronáutica quase provocaram um choque no ar entre um avião da FAB, com o então presidente da República Fernando Henrique Cardoso a bordo, e um Fokker 100 da TAM com 108 passageiros e cinco tripulantes. Documentos obtidos com exclusividade por Zero Hora revelam que os dois jatos estiveram a 24 segundos de colidir no céu de Brasília, em junho de 2002, cada uma a mais de 700 km/h.

Onze mapas com fotografias do radar do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo 1 (Cindacta 1), com sede em Brasília, mostram a trajetória das duas aeronaves durante nove minutos e 50 segundos. Neles, o avião presidencial Sucatinha, um Boeing 737-200, decola da capital federal rumo ao Pará. No mesmo instante, um Fokker 100 da TAM cumprindo o vôo 3583, vindo de São Luís (MA), se aproxima do aeroporto Juscelino Kubitschek. Conforme a legislação da Aeronáutica, o código do Sucatinha no radar – FAB 01 – indica que o presidente da República está a bordo.

Os mapas não revelam a data do incidente. Controladores de vôo lotados no Cindacta 1, que pediram para preservar sua identidade, asseguram que a aeronave transportava FH a Tucuruí, no Pará. Em 28 de junho de 2002, ele esteve em Tucuruí para uma cerimônia oficial.

Às 9h39min32s, os dois aviões começam a se aproximar perigosamente. O Sucatinha ganha altitude, a 704 km/h. O Fokker da TAM voa em sentido contrário, 335 metros acima do Sucatinha, a 778 km/h. A distância entre as duas aeronaves é de 21 quilômetros, e a projeção dos vôos já anuncia uma colisão em menos de um minuto.

O momento mais crítico ocorre às 9h39min59s. Segundo os controladores, as aeronaves não conseguem comunicar-se por rádio com o Cindacta 1. Os aviões já trafegam na mesma altitude, 21 mil pés. A distância entre os dois é de 9,8 quilômetros. O choque iminente ocorreria em 24 segundos. O Sucatinha voa a 704 km/h. Em sentido contrário, o Fokker progride a 722 km/h.

– Eles passaram um pelo outro lambendo tinta – resume um controlador de vôo que participou de investigações sobre o incidente, usando um jargão para aproximações perigosas entre dois aviões.

Na fotografia seguinte, 12 segundos mais tarde, os jatos já aparecem fazendo manobras para evitar o choque. Sem comunicação por rádio, os pilotos são alertados do risco pelo TCAS (da sigla em inglês para Sistema de Alerta e Prevenção de Colisão de Tráfego), um sistema anticolisão acoplado ao transponder. Imediatamente o TCAS orienta os pilotos a fazer manobras evasivas. O Sucatinha desce para 20,9 mil pés, e o Fokker 100 sobe para 21,1 mil.

- Só depois do desvio, o piloto da TAM conseguiu falar conosco por rádio. Quem estava no Sucatinha talvez não tenha sentido, mas os passageiros da TAM provavelmente tomaram um susto - diz um controlador.

Controlador diz que não houve punições

Conforme os controladores, o transponder começa a emitir sinais de tráfego a uma distância de sete milhas (13 km) de outras aeronaves. Isso significa que as manobras evasivas podem ter começado instantes antes de os jatos entrarem em rota de colisão. De acordo com um controlador que acompanhou as investigações, apesar das falhas no rádio, teria havido imperícia do controlador que monitorava o avião do presidente.

- Ele estava vendo que o Fokker vinha descendo para 21 mil pés. Tinha que ordenar ao piloto do Sucatinha que mantivesse a altitude de 20 mil. Ele teve sorte porque a região tem um tráfego intenso, e ali a margem de erro é bem menor - diz.

Os controladores ouvidos por ZH dizem que a Força Aérea comandou investigações em torno do incidente, mas ninguém foi punido.

- Talvez o presidente Fernando Henrique ainda hoje não saiba que quase bateu de frente com um avião lotado - afirma o controlador.

Procurada por ZH, a Aeronáutica afirmou sexta-feira que não teve tempo para localizar o relatório do incidente, o que só poderia ser feito na segunda. O Centro de Comunicação Social da Aeronáutica adiantou, porém, que duas aeronaves voando na mesma altitude a 9,8 quilômetros de distância uma da outra e a mais de 700 km/h não representam risco iminente de colisão.

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