| 29/03/2007 11h44min
Quase quatro meses depois de iniciado o segundo mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou na manhã desta quinta os termos de posse de cinco novos ministros, em cerimônia no Palácio do Planalto. O primeiro termo assinado foi o de Alfredo Nascimento, que reassumirá o Ministério dos Transportes, seguido pelo de Carlos Lupi, no Ministério do Trabalho, de Luiz Marinho, na Previdência, de Miguel Jorge, no Desenvolvimento, Indústria e Comércio, e o de Franklin Martins, na Secretaria de Comunicação Social. Ainda faltam dois ministérios para Lula fechar a reforma: Desenvolvimento Agrário e Secretaria da Pesca, ambos da cota do PT.
Ao iniciar o discurso, Lula disse que, ao fazer mudanças no ministério, há um misto de alegria, pela chegada de companheiros, e de tristeza, por perder outros. Descontraído, Lula brincou com a forma fragmentada de fazer a reforma ministerial:
– Eu tô gostando dessa coisa de posse de ministros porque a casa está sempre cheia. Quem sabe a gente faz uma troca dessa de vez em quando para a casa ficar sempre cheia – disse.
Logo em seguida, Lula reclamou da equipe do cerimonial, que esqueceu o copo de água.
– Hoje esqueceram a minha água. Ela está sempre aqui em cima, bonitinha. Imagina se eu não tivesse ganho a eleição.
Atenção especial para Furlan
O presidente dedicou especial atenção a Luiz Fernando Furlan. Disse que Miguel Jorge assume o ministério do Desenvolvimento numa situação bem diferente de quando Furlan entrou no governo, ressaltando que ele encontrou o país com saldo comercial de US$ 13 bilhões e entrega a pasta com US$ 46 bilhões. Segundo Lula, Furlan foi um dos maiores ministros do Desenvolvimento que o Brasil já teve, e ajudou a equipe econômica a fazer com o que país chegasse a US$ 110 bilhões nas reservas internacionais. O presidente disse que o governo vai continuar trabalhando para aumentar as reservas.
– Dinheiro no bolso não faz mal a ninguém, principalmente um país como o Brasil, que precisa de muita credibilidade – disse Lula.
Ao falar de Furlan, Lula disse que ele dava muito trabalho à equipe econômica, que precisava ser firme para não abrir demais a mão diante das propostas de Furlan de desonerar impostos.
– Em todas as políticas de desoneração, tem o dedo do Furlan. Sujeitinho impertinente. Tesoureiro tem que ter mão de vaca, tem que estar sempre pronto para dizer não – brincou.
O presidente brincou com o fato de Miguel Jorge, que está assumindo o ministério, não ter diploma universitário, assim como ele.
– Precisamos providenciar isso. O Luiz Marinho já tem.
Deferência a Paulo Sérgio Passos
Ao falar de sua tristeza em perder Paulo Sérgio Passos, ex-ministro dos Transportes, Lula disse que Passos surpreendeu a todos com seu trabalho à frente da pasta e teve um papel importante na preparação do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). Lula disse ainda que Passos foi essencial no desenvolvimento de uma política séria para o setor de transportes.
– Antes, o governo fingia que contratava obras, as empresas fingiam que faziam e a obra não saía. Nós percebemos que era preciso mostrar para os empresários que cumpríamos a nossa parte. Portanto, se preparem para mais obras.
Mudança de última hora em Trabalho e Previdência
Luiz Marinho deixou o Ministério do Trabalho para abrir uma vaga para o presidente do PDT, que iria para Previdência mas foi transferido de última hora. Embora o Trabalho seja uma das pastas preferidas pelo PDT, a mudança surpreendeu, já que o ministério é ocupado por Luiz Marinho, ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), rival da Força Sindical, cujo presidente, Paulo Pereira da Silva, é deputado pelo PDT por São Paulo. Marinho passa para a Previdência com a missão de organizar o debate em torno da reforma. Na quarta à noite, um grupo de 20 sindicalistas esteve no Palácio do Planalto para pedir a Lula que mantivesse Marinho no Ministério do Trabalho.
Lula decidiu criar a Secretaria Nacional de Portos e a entregar ao PSB. O indicado para o posto é o ex-ministro da Integração Nacional, Pedro Brito, apadrinhado do deputado Ciro Gomes (PSB-CE). O novo ministério foi criado para atender uma queixa do PSB. A criação da secretaria, que administrará todas as companhias Docas e os corredores hidroviários brasileiros, representou uma vitória do PSB sobre o PR, que indicou Alfredo Nascimento para o Ministério dos Transportes. O PR ameaçou não assumir a pasta dos Transportes se a pasta fosse fatiada. Na noite de segunda-feira, Lula convidou Alfredo Nascimento para assumir o cargo na Esplanada, mas deixou claro que ele não teria a Secretaria dos Portos. O senador eleito por Amazonas ainda enfrenta outro constrangimento: é acusado de crime eleitoral, sob a suspeita de compra de votos em troca de combustível e utilização de CNPJ falso em seu comitê de campanha eleitoral.
Lula também deixou claro aos seus auxiliares que este não é o melhor momento para substituir Waldir Pires no Ministério da Defesa, apesar das pressões contra ele por causa da crise no setor áereo.
Quatro nomes cotados para Desenvolvimento Agrário
Além de Guilherme Cassel, atual ministro do Desenvolvimento Agrário, três outros nomes estão cotados para a pasta: o deputado Pedro Eugênio (PT-PE), apoiado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag); o presidente do Incra, Rolf Hackbart, que tem o apoio do MST; e Joaquim Soriano, integrante da direção do PT.
Para a Pesca, Lula tende a manter Altemir Gregolin, mas o ex-titular José Fritsch, que deixou o governo para disputar o governo de Santa Catarina, quer voltar ao cargo.
Como fica a divisão dos ministérios
Para atender a todos os interesses, o presidente aumentou a máquina pública. Lula criou mais dois ministérios – além de Portos, Comunicação Social –, totalizando 36. O PT ficou com a maior fatia: 16, ou 44,4% do total de ministérios, incluindo os mais importantes, como Fazenda, Casa Civil, Justiça, Educação e Desenvolvimento Social. O partido perdeu espaço em relação ao primeiro ano do governo Lula, quando tinha 20 dos 34 ministérios. Também ficou sem pastas estratégicas como Saúde e Cidades. O PMDB foi o partido que mais cresceu: pulou de dois para cinco ministérios, incluindo uma das pastas com maior orçamento: Saúde.
No início da negociação da reforma, a bancada do PMDB na Câmara rejeitou a indicação do ministro José Gomes Temporão, afilhado político do governador Sérgio Cabral. Mas, no final, o partido adotou Temporão e o incluiu na cota de ministros do PMDB. O PSB terá dois ministérios. PTB, PR, PP, PDT, PV e PCdoB ficarão com um cada. Sete ministros não são indicações partidárias.
O novo ministério do governo Lula deve reunir-se pela primeira vez na segunda-feira. Segundo o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, será uma oportunidade de confraternização dos novos ministros com os antigos integrantes do governo.
– Servirá para todos ficarem no mesmo patamar para começarmos os trabalhos – disse Walfrido.
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