| 29/07/2002 23h18min
As declarações do secretário do Tesouro americano, Paul O'Neill, sobre possível desvio de recursos da ajuda a países do Cone Sul para "contas bancárias na Suíça" levaram o presidente Fernando Henrique Cardoso a ordenar a convocação da embaixadora dos Estados Unidos.
O ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, foi instruído a chamar nesta segunda-feira, dia 29 de julho, a embaixadora Donna Hrinak para explicar as afirmações de O'Neill.
O secretário norte-americano afirmou que Brasil, Argentina e Uruguai são "países amigos e aliados dos Estados Unidos".
– Mas precisam implementar políticas que garantam que, assim que o dinheiro auxiliar for concedido, trará benefícios e não simplesmente sairá do país para contas bancárias na Suíça – completou.
Dizendo-se "indignado" com a afirmação, FH deixou claro que o governo poderá se recusar a receber O'Neill na próxima semana.
– Se a embaixadora Hrinak não esclarecer (a fala de O'Neill), o governo não terá condições de receber o secretário do Tesouro – afirmou FH no almoço oferecido ao presidente do Timor Leste, Xanana Gusmão, revelou o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello.
A informação foi confirmada por assessores próximos a FH. As declarações de O'Neill deixam o governo em situação delicada. Primeiro, a suspeita do secretário do Tesouro sobre o destino dos empréstimos concedidos por organismos internacionais gerou mais instabilidade na economia. Segundo, as declarações surgem quando o Brasil negocia novo acordo com o Fundo. Na próxima semana, tudo o que o governo esperava extrair de O'Neill era o apoio público a um novo acerto com o FMI.
Pouco antes de receber as instruções do presidente da República, Lafer disparava duras críticas às declarações de O'Neill. O chanceler enfatizou que o governo trata das contas públicas e dos recursos recebidos do FMI e outros organismos internacionais com "absoluto zelo, com absoluto cuidado e com a preocupação de gestão macroeconômica".
– Qualquer outra insinuação não corresponde à realidade e ao esforço de seriedade, de lisura e de transparência que caracterizam o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso e a equipe econômica no trato desse tema – declarou Lafer.
O ministro Marco Aurélio Mello declarou-se "absolutamente indignado" com o secretário americano.
– O que está em jogo é a soberania e a dignidade dos brasileiros.
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