O meia francês Zinedine Zidane, do Real Madrid, disse hoje que decidiu encerrar sua carreira depois da Copa do Mundo porque, como jogador acostumado a vencer, não queria mais jogar por jogar e, na sua opinião, estava sem condições de voltar a brigar por títulos.

Vestindo um agasalho branco, mostrando a sua timidez habitual, Zidane respondeu a mais de 50 perguntas de jornalistas espanhóis, franceses, ingleses, italianos, japoneses, argentinos, uruguaios, costarriquenhos e argelinos. No fim da entrevista coletiva, foi ovacionado pelos repórteres.

– Estou aqui por uma questão importante para mim, que é dizer que depois desta temporada eu deixarei o futebol. É uma decisão que eu já amadureci, não é uma decisão de um dia. Além disso, quero deixar o Real Madrid planejar a próxima temporada para procurar outra alternativa, se quiser. Quero que o clube tenha tempo para se preparar – declarou Zidane.

– Falei com o presidente e eu gostaria fazer algo ligado às crianças. Há muitas coisas a serem feitas com o Real Madrid e tenho muito a ensinar. Vou continuar morando na Espanha – acrescentou.

Zidane, numa autocrítica, destacou que não queria passar mais um ano sem conquistas.

– Sempre disputei títulos e não quero jogar por jogar. Quando entro em campo é para ganhar, e ultimamente isso não tem sido possível. Talvez porque não estou muito bem. Não estou mais rendendo a mesma coisa que cinco anos atrás – admitiu.

O adeus, desta vez, é definitivo.

– Quando voltei à seleção francesa, ainda estava jogando pelo Real Madrid. Agora decidi parar de vez. No máximo, vou jogar no meu bairro – afirmou, descartando também uma carreira de treinador.

– Não se pode dizer nunca, mas não me vejo na função – disse.

Em campo, sua despedida da torcida do Real Madrid, no Santiago Bernabéu, será no jogo contra o Villarreal, dia 6 ou 7 de maio.

– Será emocionante. Vou dar tudo de mim contra o Villarreal e espero me despedir com uma vitória. Os anos passam e está cada vez mais difícil jogar duas vezes por semana. Há três anos que venho pensando em ganhar alguma coisa para me despedir, e três anos sem títulos – disse.

Zidane revelou que, de dependesse de Florentino Pérez, que era presidente do Real Madrid na época em que renovou seu contrato, ficaria pelo menos mais um ano no clube.

– Se tivéssemos ganho alguma coisa, podia até continuar – admitiu, garantindo que continua amigo do ex-dirigente, com quem conversou depois de anunciar sua decisão.

– Estou triste porque agora vou ficar em casa, vendo o Real Madrid jogar. Mas todo jogador um dia passa por isso. Antes de jogar futebol, também era uma pessoa normal. Sempre vivi assim – acrescentou.

Ele comentou a reação dos companheiros quando anunciou sua aposentadoria.

– Todos me pediram para continuar, pelo menos mais um ano. Fiquei até constrangido, mas o futebol é assim – contou.

A lembrança mais marcante de Zidane é o gol que marcou na final da Liga dos Campeões contra o Bayer Leverkusen, aproveitando um passe de Roberto Carlos. A vitória deu ao Real Madrid a sua nona Copa da Europa.

– Ele sempre me disse que passou uma bola quadrada e mesmo assim eu consegui fazer o gol. É uma lembrança importante que temos juntos. Também guardo tudo o que fiz ao longo da minha carreira, na França, na Itália e na Espanha – disse.

– Foi muito importante jogar pela Juventus. Foram cinco anos. Defendi os dois maiores clubes do mundo. Há outros muito importantes, mas, quando comparamos as conquistas, vai ser difícil superar Juventus e Real – comentou.

Ele só lamentou não ter comemorado mais conquistas com a camisa do Real Madrid.

– Fui contratado para ganhar títulos. Mas o que passou, passou. Não podemos voltar atrás. Fico com os bons momentos. Agora, temos é que ganhar os quatro jogos que restam pelo Campeonato Espanhol – disse.

Nos cinco anos que permaneceu no Real, "Zizou" disputou 151 partidas e marcou 35 gols. Ele estreou no dia 25 de agosto de 2001 em um jogo contra o Valência fora de casa em que a equipe da capital espanhola foi derrotada por 1 a 0.

AGÊNCIA EFE