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Passadas duas semanas de polêmica sobre o mercado de telecomunicações, as linhas congestionadas de informações cruzadas sobre o setor têm mais chances de provocar um “caladão” na telefonia brasileira que a baixa rentabilidade financeira de algumas operadoras. Apesar do prejuízo de R$ 36,44 milhões da Embratel no primeiro trimestre deste ano, dos maus resultados de empresas do setor no Exterior e de a própria Câmara de Política Econômica estar discutindo uma suposta crise do segmento, os problemas são isolados e não representam ameaça de colapso, na avaliação de analistas.
Os especialistas concordam que o mercado está em dificuldades, reflexo do desaquecimento global do setor e do reduzido retorno aos pesados investimentos realizados no país – sobretudo para empresas que anteciparam metas. Não vêem, no entanto, risco de insolvência generalizada que comprometa a prestação de serviços como o apagão energético, em 2001.
– As companhias estão com várias dificuldades, mas não vivemos nada similar à crise do setor elétrico – afirma o consultor Fabio Mattos, da Tendências Consultoria Integrada, de São Paulo.
O analista de investimentos em telecomunicações da Sudameris Corretora, Eduardo Hajime, concorda com Mattos e avalia que o setor enfrenta as conseqüências de um “superinvestimento”. O quadro, entretanto, poderia sofrer reversão, levando ao enxugamento de novos aportes financeiros, caso as empresas não vislumbrem possibilidade de maior rentabilidade – atualmente, em torno de 5% do patrimônio líquido.
– Com a antecipação das metas, as empresas fizeram um investimento compulsório para ampliar a área de atuação e aumentar a receita, mas instalaram linhas demais e agora têm de lidar com capacidade ociosa e altos níveis de inadimplência – diz Hajime, reconhecendo que algumas operadoras têm do que se queixar.
As empresas em situação mais crítica são as prestadoras de telefonia móvel da banda B, como a BCP, de São Paulo, que levantou a polêmica sobre o possível colapso do setor (veja quadro), e as de longa distância, como a Embratel. Os dois segmentos devem ter novos concorrentes pela frente já a partir deste ano. A Anatel, por exemplo, concedeu autorização à Telefônica para atuar na área de longa distância, na semana passada, mas ontem a Embratel conseguiu liminar na Justiça impedindo as operações.
Para Wagner Salaverry, analista de investimentos da Geração Futuro Corretora de Valores, de Porto Alegre, a baixa rentabilidade de algumas teles é momentânea. Como o crescimento da dívida foi a escolha das empresas para bancar os investimentos necessários, Salaverry considera normal os prejuízos atuais e projeta situação mais confortável para os próximos anos.
– A insolvência é pouco provável, pelo menos no curto prazo. Mas, à medida que a consolidação for ocorrendo, as operadoras terão de revisar os negócios e optar por novos nichos de atuação – opina Salaverry.
À frente da Telebrasil, entidade que reúne as principais operadoras e fabricantes do setor, Cleofas Uchôa considera “exagero desnecessário” o diagnóstico de que o modelo de privatização fracassou, dada a situação financeira de algumas companhias e a desaceleração do mercado – que ele considera esperada.
– Nos últimos cinco anos o mundo mudou, e a moeda desvalorizou. O setor vinha crescendo mais de 20% ao ano, o que era insustentável no longo prazo. Vai para um nível próximo dos 10%, o que é muito bom e compatível com o Brasil – sentencia Uchôa.
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