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 | 12/02/2006 19h08min

Agroindústria recua 0,9% em 2005

Crescimento da pecuária não recuperou perdas da agricultura

Em 2005 a agroindústria nacional recuou 0,9%, num movimento inverso ao registrado pela média da indústria nacional (3,1%) no mesmo período. O desempenho dos setores vinculados à pecuária (3,7%) não foi suficiente para compensar a queda dos segmentos associados à agricultura (-4,0%), de maior peso na agroindústria. Em bases trimestrais, a agroindústria apresentou retração de 3,5% no primeiro trimestre, se recuperou no segundo (3,6%) e voltou a recuar no terceiro (-1,5%) e no quarto trimestre (-2,8%).

O fraco desempenho da agroindústria no ano de 2005 está relacionado a uma conjuntura desfavorável principalmente para os setores associados à lavoura, que sofreram influência de fatores climáticos, da queda dos preços internacionais de algumas commodities agrícolas, valorização cambial e aumento dos custos de produção.

A estiagem na região Sul e em parte de São Paulo e Mato Grosso do Sul provocou quebra na safra, conforme dados do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), que apurou produção de 112,5 milhões de toneladas de grãos em 2005, resultado 5,7% inferior à colheita de 2004 (119,3 milhões de toneladas). A diminuição da rentabilidade agrícola e o aumento dos custos de produção reduziram a capacidade de compra do produtor, causando expressiva queda no grupo dos produtos industriais utilizados pela agricultura (-20,5%), que foi o principal responsável pelo recuo da agroindústria.

O grupo de inseticidas, herbicidas e defensivos agrícolas obteve expansão de 16,2%, devido sobretudo ao combate à disseminação da ferrugem asiática nas plantações de soja, cultura responsável por quase a metade do uso de defensivos agrícolas no país. O grupo desdobramento da madeira recuou 5,1%.

Os setores associados à pecuária, apesar dos focos de febre aftosa em rebanhos bovinos no Mato Grosso do Sul e a suspeita no Paraná, no último trimestre do ano, continuaram se beneficiando do bom desempenho das exportações de carne bovina, suína e de frango. Esse setor foi estimulado pelos bons preços internacionais e pelo aumento da quantidade exportada, devido à restrição de oferta no mercado mundial, em função de crises sanitárias, como o "mal da vaca louca", que atinge os rebanhos da Europa, Canadá e Estados Unidos; e da gripe aviária, que continuou afetando a Ásia e chegou a países do leste europeu.

Conforme apurado pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex/MDIC), o volume exportado dos principais produtos da agroindústria, na comparação 2005/2004, apresentou os seguintes resultados: carnes de bovinos congeladas (22,4%), carnes de bovinos frescas ou refrigeradas (-3,1%), pedaços e miudezas de aves (18,2%), carnes de suínos congeladas (16,2%), açúcar de cana (21,0%), celulose (11,3%), fumo (7,1%), álcool (12,4%), madeiras serradas (-6,6%) e couros e peles de bovinos (17,4%).

No complexo soja houve recuo na exportação de bagaços e outros resíduos da extração do óleo de soja (-0,4%) e crescimento em óleo de soja (4,3%) e grãos de soja triturados (16,6%). Porém, devido à queda nos preços internacionais dos derivados da soja, as receitas provenientes da exportação desses produtos sofreram significativa redução.

Em 2005 o setor de produtos industriais derivados da agricultura apresentou decréscimo de 1,0%. Dentre os cinco subsetores que perderam dinamismo, a maior queda veio dos derivados de milho (-15,4%). Esta cultura, além de ter sido afetada pelo baixo preço e redução da área cultivada, sofreu com a escassez de chuvas nas principais regiões produtoras, especialmente no Paraná, maior produtor nacional.

No caso da laranja o recuo de 4,2% deveu-se à estiagem ocorrida no início da formação dos frutos em São Paulo, à redução da área colhida, além de uma série de doenças que afetaram a produção de suco concentrado. A queda no fumo (-1,7%) refletiu a seca nos principais estados produtores (Rio Grande do Sul e Santa Catarina) e a redução da área plantada. A soja (-1,3%), principal grão exportado pelo Brasil, sofreu com a estiagem prolongada nos Estados da região Sul, com a ferrugem asiática e a baixa nos preços internacionais, em função da safra recorde norte-americana que elevou os estoques mundiais.

Vale citar ainda o recuo dos derivados da cana-de-açúcar (-3,6%), em função do estímulo à produção de álcool, para atender a demanda doméstica, face o crescimento da frota de automóveis bicombustível, em detrimento da produção de açúcar, de maior peso no subsetor. Do lado positivo, destacaram-se: celulose (4,4%), impulsionada pelas exportações; trigo (3,0%) e arroz (5,6%). Esses dois últimos produtos, tradicionalmente voltados para o mercado interno, podem estar refletindo o crescimento da massa salarial e, consequentemente, um maior consumo de alimentos.

O setor de produtos industriais utilizados pela agricultura recuou 20,5% em 2005, resultado bem distinto dos registrados em 2004 (1,1%) e 2003 (11,9%). Este desempenho refletiu a queda nos grupos de adubos e fertilizantes (-10,9%) e máquinas e equipamentos (-38,5%), afetados pela redução na renda dos agricultores, decorrente dos seguintes fatores: quebra na safra, redução das cotações de importantes produtos agrícolas no mercado mundial (principalmente a soja), aumento dos custos de produção e valorização cambial.

A elevação dos custos de produção de adubos e fertilizantes está relacionada, sobretudo, ao aumento dos preços do petróleo, insumo básico para sua produção. No caso de máquinas e equipamentos, o aumento nos custos de produção deveu-se à alta no preço do aço, em função do aumento da cotação do minério de ferro. As exportações também contribuíram para este fraco desempenho em máquinas e equipamentos. Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a quantidade exportada de colheitadeiras foi 33,2% menor, enquanto que as vendas externas de tratores cresceram apenas 1,8%.

Em 2005, o setor de produtos industriais derivados da pecuária apresentou crescimento de 2,9%, refletindo o avanço em todos os subsetores. A produção dos derivados de aves avançou 3,0%, impulsionada pelas exportações, em função dos bons preços internacionais e da restrição de oferta no mercado externo decorrente da gripe aviária, que continua prejudicando importantes exportadores asiáticos. Vale mencionar que o Brasil é o maior exportador de carne de frango do mundo.

O grupo dos derivados de bovinos e suínos, embora tenha tido o impacto negativo dos focos de febre aftosa no último trimestre do ano, registrou ligeiro crescimento de 0,8%, sustentado pelas exportações. Vale ressaltar que até setembro de 2005 esse grupo havia crescido 2,3%, mas no quarto trimestre recuou 3,8%. Atualmente, o Brasil lidera o ranking das vendas externas de carne bovina e é um dos principais exportadores de carne suína.

O subsetor de leite, destinado principalmente ao mercado interno, cresceu 6,3%, enquanto couros e peles apresentou acréscimo de 0,9%.

O setor dos produtos industriais utilizados pela pecuária avançou 6,9% em 2005, em virtude do crescimento tanto do subgrupo rações (6,4%), de maior peso, como de produtos veterinários dosados (9,2%). Este último subgrupo foi influenciado, principalmente, pelo aumento da produção de vacinas para o combate e prevenção da febre aftosa.

IBGE

 
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