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Dólares do BC contêm a disparada das cotações

O governo argentino respirou aliviado nessa terça-feira, dia 26, quando o dólar encerrou o dia a 3,15 pesos nas casas de câmbio, depois dos 3,90 pesos no fechamento da véspera. Nos bancos, graças à injeção de dólares do Banco Central (BC), o preço final foi de três pesos. Milhares de pessoas invadiram o centro portenho à procura da moeda americana.

A expectativa é de que, apesar da queda de 19,23% nas cotações do câmbio livre, o movimento continue intenso hoje. Centenas de pessoas dormiram ao relento e esperaram a abertura de bancos e casas de câmbio. Pela manhã, a chegada de fura-filas resultou em empurrões, gritos e socos. Policiais e carros blindados foram chamados para esses locais.

Os únicos que comemoraram o segundo dia de histeria foram os “coleros” – pessoas que cobram 10 pesos para guardar lugares nas filas (“colas”) para outras pessoas. Ao longo do dia, a cotação do dólar caiu gradualmente, com o repasse de dólares aos bancos para que os vendessem a preço até cinco centavos acima da cotação do BC. A cotação baixou de 3,10 pesos para três pesos no fim do dia. Nas casas de câmbio o preço era mais alto.

– Essas intervenções podem ser feitas, mas não todos os dias. Isto é preocupante – disse o economista Raúl Ochoa.

Apesar da queda de ontem, alertou ele, o dólar pode continuar subindo na próxima semana, depois dos feriados de Semana Santa e do Dia das Malvinas. Segundo Ochoa, saem 50 milhões de pesos (US$ 15,8 milhões) por dia do “corralito” (restrição a saques bancários), que vão para a compra de dólares, aumentando a cotação:

– Esta drenagem de dinheiro obriga o BC a uma intervenção permanente. É preciso criar mecanismos que tornem interessante deixar o dinheiro no banco, como juros mais elevados. Enquanto isso não mudar, o problema continua.

O presidente do BC, Mario Blejer, que mantém reuniões com integrantes do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington, afirmou porém que pode fazer muito pouco para deter a escalada do dólar se “as pessoas estão dispostas a pagar qualquer preço pela moeda americana”. A cotação do dólar, acrescentou, “é reflexo de tudo, a confiança na Justiça, nas instituições, e evidentemente, também no programa econômico”.

Segundo Blejer, “não é possível aumentar a confiança de um dia para outro”. Uma nova missão do FMI deve chegar ao país na segunda-feira e preparar um possível acordo para 21 de abril. O secretário-geral da Presidência, Aníbal Fernández, disse que a alta do dólar “não é uma hecatombe”. Minutos depois, porém, afirmou que “várias crises” terão de ser suportadas no futuro próximo.

A maior preocupação do governo, segundo ele, “deveria ser” o aumento dos preços de alimentos e de outros produtos, e não a cotação do dólar. Ele não descartou a possibilidade de volta à conversibilidade. O presidente Eduardo Duhalde, afirmou, não foi “dogmático” em relação a nenhum tema, exceto a dolarização. O que parece certo é que o governo prepara novas medidas para tentar manter o câmbio sob controle. O presidente Duhalde sofre pressões tanto dos parlamentares de seu partido, o Justicialista, como da União Cívica Radical (UCR).

– Estamos empenhados em aplicar um conjunto de medidas que permita a estabilidade do câmbio – admitiu o chefe de Gabinete, Jorge Capitanich, ao ser perguntado sobre a adoção de uma nova conversibilidade ou a dolarização da economia.

A UCR pede que o governo apresente medidas contra a escalada do dólar, que, segundo o líder do bloco radical, Horacio Pernasetti, devem ser anunciadas durante o feriado de Páscoa. Exige ainda um plano B, no caso de não vir ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI). Duhalde não considera essa hipótese. Para o economista Santiago Gallichio, da consultoria Exante, o governo pode anunciar a volta ao câmbio fixo, sem necessariamente nova conversibilidade.

– Dolarizar a economia ou criar uma nova conversibilidade significa admitir que seus adversários, como (o ex-presidente Carlos) Menem venceram – diz Gallichio.

Mario Brodersohn, conselheiro econômico do ex-presidente Raúl Alfonsín, é pessimista:

– O mercado fará a dolarização forçada, queira o governo ou não.

Cobrado por vários lados, Duhalde tenta costurar o apoio dos governadores. Para liberar ajuda, o FMI exige cortes de gastos (ou demissão de funcionários públicos) e o fim da emissão de bônus com que os governos provinciais pagam os seus funcionários.

– Duhalde tem problema sério de governabilidade. Seu governo se choca com vários setores – diz o analista Oscar Raúl Cardozo. – Ele precisa decidir o rumo econômico. Pode optar pelo caminho interno e se isolar do mundo, ou seguir o FMI e perder sustentação política.

 
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