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 | 17/09/2005 19h04min

Documentos comprovam ligação entre mensalão e Máfia dos Vampiros

Gravações da PF confirmam laços entre esquemas de desvio de recursos públicos

Jabour é sócio de Peixoto, que é sócio de Pedrosa, que é sócio de Corrêa Júnior, contato de Janene, chefe de Genu, que indicou Cinthia a pedido de Peixoto. Cinthia, assessora na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), promete ajudar Peixoto, que comemora com Laerte, lobista de Delúbio, arrecadador da conta de Valério, que distribui dinheiro vivo a deputados do PT, do PL, do PMDB, do PP e do PTB.

Vampiros e deputados estão unidos por laços de sangue. Gravações e documentos sigilosos, em poder da Polícia Federal (PF), comprovam que personagens de dois dos mais devastadores e complexos esquemas de desvios de recursos já revelados na história do Brasil - a Máfia de Vampiros e o mensalão - atacaram juntos os cofres da União.

Delegados da PF ouvidos por Zero Hora em Brasília explicam que o foco das investigações são as contas do publicitário Marcos Valério no Banco Rural. Em um primeiro momento, foram apurados os destinos dos recursos - método que levou à identificação de parte dos 18 deputados ameaçados de cassação. A tarefa agora é rastrear a origem das verbas. Aí aparecem os focos de fraudes contra o herário nos Correios, no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), em Furnas e, recentemente, na Anvisa. Há indícios - cujos detalhes são mantidos em sigilo pelos delegados - de que os mesmos "vampiros" que lesaram o Ministério da Saúde tenham alimentado as contas de Marcos Valério.

As suspeitas de que as duas quadrilhas radicadas em Brasília rasgaram veios de dinheiro da saúde pública existiam, esparsas, desde 2004. Elas começaram quando empresários e lobistas foram presos na chamada Operação Vampiro, em maio do ano passado, desvelando ao país um rombo de R$ 2 bilhões nas compras de medicamentos para Aids e diabetes e derivados de sangue pelo Ministério da Saúde.

Um ano e meio depois, as investigações apontam que as fraudes extravasaram o Ministério da Saúde. Dois "vampiros", em entrevistas a ZH, confirmaram o esquema.

Lourenço Rommel Peixoto, vice-presidente do Jornal de Brasília, preso por 104 dias e denunciado à Justiça como integrante da Máfia dos Vampiros, confirma as relações e nega sua participação. Segundo Peixoto, as revelações do escândalo do mensalão estão mostrando "como a estrutura de poder atual exercia o poder de 2003 para cá". As teias de relações dos lobistas com políticos não teriam vindo à tona porque os detidos temiam retaliações judiciais.

– Quando a Operação Vampiro estourou, algumas pessoas presas denunciaram o envolvimento de políticos e tesoureiros no esquema. Se alguém como eu, que fiquei 104 dias preso, insistisse nessas informações, estaria atrás das grades até hoje – diz Peixoto.

As relações entre os dois grupos estão registradas em conversas telefônicas gravadas com autorização da Justiça pela Polícia Federal. Diálogos a que ZH teve acesso evidenciam as relações entre empresários como Jaisler Jabour, ex-representante no Brasil do laboratório suíço Octopharma, e Laerte Corrêa Júnior, advogado e lobista, com operadores do mensalão. De acordo com o Departamento de Polícia Federal, que investiga em inquéritos paralelos a Máfia dos Vampiros e o mensalão, o esquema obedece a uma lógica. As relações entre empresários e lobistas que desfalcaram o Ministério da Saúde respingam ainda na Anvisa e nos Correios.

ANDREI NETTO/AGÊNCIA RBS
 
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