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 | 25/07/2005 17h03min

Maria do Rosário diz que PT poderá dar exemplo à sociedade

Deputada defende criação de mecanismos de controle mais fortes no partido

A deputada federal petista Maria do Rosário (RS) não acredita que PT tenha utilizado a prática do mensalão. Em entrevista online ao clicRBS, Maria do Rosário afirmou que quando superar a crise, o partido dará um grande exemplo à sociedade. 

Rosário disse que há muito denuncismo no governo e que, se a prática do mensalão realmente existiu, não era do conhecimento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo Maria do Rosário, Lula é movido por ideais e pelo compromisso com o povo brasileiro e que não teria lógica ele, após superar todas as barreiras para chegar ao cargo, se submeter a um esquema tão primário como o mensalão.

Em sua opinião, todos os que tiverem envolvimento com o suposto pagamento devem ser responsabilizados, inclusive no PT.

– O PT não vai conviver com pessoas que ajam inadequadamente do ponto de vista ético. Somos um partido com democracia interna, mas isso vale, é claro, para as opiniões políticas e todos devemos seguir princípios éticos, independente do nome e cargo – afirmou.

Rosário, que é candidata à presidência do PT, afirma que sua campanha foi lançada antes mesmo do início dos escândalos no governo federal e que não concorda com a linha que a atual direção da sigla estava mantendo. A deputada acredita que as eleições nacionais para a presidência do partido, marcadas para setembro, darão uma nova guinada no PT para que consiga sair da crise atual. Ela diz que o movimento petista que representa quer dialogar com o partido e superar a idéia de divisões denominadas de “esquerda” e de “setores moderados” dentro do PT.

– Acreditamos que a melhor contribuição é apresentar nossas próprias idéias. Não é um projeto pessoal. Estou contribuindo para representar este movimento. E não dá para a gente ver a crise de braços cruzados – afirma.

A entrevista online com a deputada federal Maria do Rosário foi realizada pela jornalista Tahiane Stochero e monitorada por Claudia Ioschpe. Veja a íntegra da entrevista:

Pergunta: Qual a sua posição sobre os acontecimentos em relação à cúpula do PT e o governo Lula?

Resposta: Estamos vivendo uma grave crise política que pode estender-se inclusive para a economia. O governo Lula realizou ações muito importantes mas não conseguiu avançar para uma transição mais ampla do modelo econômico. O governo estabeleceu uma política de alianças para dar sustentação as suas ações no Congresso. Era necessário, mas estabeleceu um viés menos "mudancista". Para o PT, essa crise, no seu seio, é a mais grave da sua história. Realizando o processo de eleições diretas, daremos um passo para sair dessa situação.

Pergunta (internauta): Com Tarso Genro concorrendo pelo campo majoritário, como fica sua candidatura a presidência nacional do PT?

Resposta: Minha candidatura foi apresentada pelo movimento do PT antes mesmo dessa situação de crise por não concordarmos com a linha da atual direção. Gostamos muito do Tarso, mas nosso posicionamento para contribuir com o PT exige mantermos a candidatura e o nosso trabalho. O movimento do PT que eu represento nestas eleições existe em 24 estados brasileiros e seu objetivo é dialogar com o partido como um todo e superar esta idéia de um PT onde quem é de "esquerda" não conversa com "setores moderados". Nosso papel é este e ficamos preocupados em fazer qualquer recuo porque acreditamos que a melhor contribuição é apresentar nossas próprias idéias. Não é um projeto pessoal. Estou contribuindo para representar este movimento. E não dá para a gente ver a crise de braços cruzados.

Pergunta: Após os escândalos de corrupção no governo federal e o PT, para onde caminha o partido? Ele pode vir a se desintegrar?

Resposta: O PT tem uma história muito bonita e é herdeiro de muitas lutas que o povo brasileiro fez. A democracia exige partidos políticos com densidade ideológica, programática. Ninguém retira do PT esta sua trajetória, mas o atual momento determina que o PT mude para ser o que sempre foi, que volte a ser um partido que dê voz a todos e não apenas coordenado por um único grupo com um projeto de poder para si. O PT não vai se desintegrar porque tem uma base social muito forte em todo o Brasil e também no meio desta situação dirigentes sérios que vão coordená-lo.

Pergunta (internauta): Seu slogam é “Quero meu PT de volta”. A senhora acha que o atual PT não é o seu?

Resposta: Este slogan foi pensado como uma fala para todos os militantes, portanto, não apenas "meu", mas seu, nosso.  Na verdade, esta situação de dirigentes envolvidos com o que não deviam é tão grave que todos nós sabemos que perdemos o PT se eles continuarem no comando.

Pergunta: Como candidata a presidência do PT, quais são suas propostas de mudança no partido?

Resposta: Preparamos um programa de ação voltado a valorizar as instâncias de base que no PT não são apenas os diretórios municipais e estaduais, mas os núcleos e os setoriais que se reúnem em torno de lutas de comunidades, categorias profissionais e pelos direitos humanos. A presença na luta das mulheres, da livre orientação sexual, anti-racismo, da juventude e também a busca de uma cultura de paz. Além disso tem o PT junto aos movimentos sociais e populares como a reforma agrária, a reforma urbana e o controle das instituições públicas pela sociedade. Nosso programa apresenta também a proposta de que as finanças estejam sob o controle de uma comissão, com auditorias permanentes e sistemáticas. Achamos que é importante a realização de um congresso do partido e dar voz e poder de decisão a todos os grupos organizados, superando a absurda idéia de um campo majoritário que sufoca os demais.

Pergunta (internauta): Com a atual crise que se instalou no Partido dos Trabalhadores, a deputada acredita que haverá um descrédito da população em relação ao partido?

Resposta: O diagnóstico que eu faço é a do interesse de grupo sobreposto ao programa e a política do partido como um todo. O PT definitivamente não é o que aparece nestes depoimentos de alguns filiados e ex-filiados. Ele é sua militância e somos mais de 800 mil filiados no Brasil. Mas para superar a séria ameaça a nossa credibilidade é preciso afastar quem comprovadamente for responsável por tudo isso.

Pergunta: E a militância do PT? A senhora acredita que os jovens e filiados antigos possam vir a deixar o partido?

Resposta: Se o PT conseguir superar esta crise, indo fundo nas coisas que estão erradas, será o primeiro partido do Brasil a fazer isso de verdade. Nós estamos trabalhando com essa idéia. Os sonhos não podem acabar se a gente continua lutando por eles e a juventude poderá acreditar se o PT conseguir ser verdadeiro no seu diálogo com a sociedade. Essa é a nossa meta.

Pergunta (internauta): Quem perde nisso tudo o PT ou a sociedade?

Resposta:
Todos os partidos são importantes mas quando o PT está atingido, justamente pela sua legitimidade social, a sociedade sofre junto. É claro que o melhor é que o que está errado venha à tona mas é preciso que se produzam mudanças profundas nas instituições e no sistema político. Por exemplo, não basta afastar quem está errado no parlamento ou no governo se as regras não são mudadas. Esta crise tem que produzir efeitos que recuperem as instituições, como por exemplo, a reforma política e o controle dos membros dos mais altos escalões da República.

Pergunta (internauta): Deputada, penso que o seu dilema é que está pregando em um tipo de partido que não existe mais. As “instância partidárias” foram destroçadas pelo grupo majoritário, da mesma foram destruídas as pontes existentes entre o PT e os movimentos sociais. Queria um diagnóstico sobre os malefícios que o poder exerceu sobre o PT.

Resposta: Dizem que um partido jamais perde sua identidade pela base, mas pela sua direção. Eu penso que isto explica um pouco da situação do partido e de como a hegemonia absoluta de alguns não contribui para o todo. O poder sempre será exercido por alguém, a questão é quais os mecanismos de controle sobre o poder. Nosso desafio é criarmos estes mecanismos mais fortes no PT. Este partido sempre foi reconhecido por sua seriedade e conduta. E é exatamente que queremos resgatar.

Pergunta: Qual a sua opinião sobre o mensalão? A senhora acredita que existiu o pagamento, por parte do PT, para deputados da base aliada para que votassem com o governo?

Resposta: Existe muito denuncismo e é difícil separar uma coisa da outra. De toda forma é preciso que tudo seja investigado. Dentro da nossa bancada isto nunca foi sequer mencionado. Nós lutamos para aprovar medidas no Plenário e muitas vezes o governo perdeu. Me parece pouco provável que pessoas do PT utilizassem este expediente, mas estamos sendo surpreendidos por tantas coisas e mesmo dentro do partido não temos conhecimento. Particularmente acredito que seria romper a fronteira ética além de utilizar uma estratégia política lamentável, deplorável sobre qualquer aspecto e burra.

Pergunta: A senhora acredita que a postura do presidente Lula está correta? Ele não deveria se pronunciar sobre a crise nos discursos realizados?

Resposta: O presidente Lula não é um ingênuo, ele sabe que alguns opositores não se preocupam sequer com as instituições querendo somente atingi-lo. Talvez por isso tenha optado pela atual tática. enfrentou com atos a corrupção desde o início do governo e sabe-se que a fala do Roberto Jefferson existiu precisamente porque este deputado não encontrou amparo dentro do governo para protegê-lo de qualquer investigação. O presidente certamente avalia a situação.

Pergunta (internauta): E sobre o governo Rigotto, qual sua opinião? A senhora acha que a aliança nacional com o PMDB pode se repetir no Estado?

Resposta: O governo Rigotto não conseguiu fazer o Rio Grande avançar em nada positivo. Vejam a área da segurança, por exemplo, onde infelizmente vivemos cada vez numa situação pior, apesar dos recursos federais que chegam ao Estado, num montante como nunca houve. Eu penso que a nova aliança nacional não ampliou o apoio do governo no Congresso e o governo ficou numa posição muito fragilizada de tanto pedir que estes aliados viessem. No Rio Grande do Sul nossas contradições são muito grandes e intransponíveis.

Pergunta (internauta): Em entrevista, o senador Eduardo Suplicy disse nesta manhã que o PT é a sua história de vida e que ele lutaria até o fim pela manutenção da ética e lisura no partido. O que a senhora pensa sobre isso ?

Resposta: Quero assinar embaixo o que disse o senador. E mais: o PT superando esta crise poderá dar um grande exemplo à sociedade brasileira.

Pergunta: O jornalista Flávio Tavares, em artigo na ZH deste domingo, diz que a crise no governo maculou a legitimidade de Lula e de José Alencar no poder, pois é difícil admitir que desconhecessem o que ocorria junto aos seus narizes. A senhora acredita que Lula sabia da existência do mensalão?

Resposta: Eu acredito que o presidente Lula é movido por ideais e pelo compromisso com o povo brasileiro. Alguém luta a vida inteira para superar todas as barreiras, vence e aí vai se submeter a uma lógica tão primária como esta? Eu acredito que o presidente Lula não tinha qualquer conhecimento do suposto mensalão.

Pergunta (internauta): Como você avaliou as saídas de José Genoino (ex-presidente nacional do PT) e José Dirceu (ex-ministro-chefe da Casa Civil) de seus cargos?

Resposta: Eu penso que o Genoino não tinha mais condições de dirigir o PT, não por qualquer motivo, mas porque demoramos muito para agir e ele perdeu condições de dirigir o partido em um período tão difícil. Eu não acho que todo mundo é igual e mesmo considerando que Genoino tinha que sair da direção penso que antes dele ser apontado com qualquer responsabilidade é preciso comprovação. Se isso vale para todos, vale para quem deu a sua vida a esta causa. De toda forma, Genoino era o presidente e está claro que houve vários e graves equívocos na direção.


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