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 | 08/06/2005 18h20min

Yeda defende reforma política e investigação no Congresso

Deputada disse que o PT da oposição não existe mais

Para a deputada federal Yeda Crusius (PSDB) não há segredo para solucionar a atual crise política do governo: ela diz que é preciso “cortar na carne” do Congresso Nacional.

– É preciso uma reforma político-eleitoral, uma investigação ampla e transparente– defendeu.

Sobre o PT, a deputada disse que a sigla precisará se “refundar”. Desta forma, segundo ela, o Brasil, evolui, cai na realidade da ação política necessária para recuperar a dignidade do dia-a-dia.

– Aquele (partido) que fazia oposição não existe mais nem no imaginário popular nem na sua unidade interna.

Em entrevista online ao clicRBS, nesta quarta, dia 8, Yeda disse ainda que soube por colegas de partido sobre o oferecimento de dinheiro a parlamentares da Câmara do Deputados em troca de votos a favor do governo. Porém, ela afirma que essas pessoas que participavam do esquema não representam todos do Congresso:

– Isso não é o Congresso Nacional, e sim alguns "100 picaretas" que eu não conheço.

A entrevista online com a deputada federal Yeda Crusius foi realizada pela jornalista Cristina Vanuzzi, do clicRBS, e monitorada por Ana Acker.

Pergunta: Antes do presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, denunciar um suposto esquema de compra de votos na Câmara dos Deputados, que seria organizado pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares, o governo e o próprio PT eram contrários à CPI dos Correios. Agora, a investigação parlamentar tem amplo apoio e pode ser ampliada ao caso "mensalão". O que mudou?

Yeda Crusius: Mudou a informação passada pela mídia a todo o Brasil de que há um esquema de corrupção para cooptar os votos a favor do Planalto. O mecanismo é a extorsão de empresas para a formação de um fundo depositado nas mãos do tesoureiro do PT (denúncia do dep. Roberto Jefferson) para uma "mesada" a deputados que votem cegamente com o governo, o chamado "mensalão", instrumento de corrupção política jamais visto no país. A opinião do povo é "CPI já". O governo tentou barrar com recurso a instalação dessa CPI, e a pressão popular faz com que o novo cálculo seja q o governo perca na Comissão de Constituição e Justiça. E, se aprovado o recurso que inviabilizaria essa CPI, outra, muito mais ampla, seria imediatamente aprovada e instalada no Senado, onde o governo não tem maioria. Mudou, portanto, o conhecimento acerca do pior mecanismo de corrupção parlamentar vinda do PT jamais registrada.

Pergunta(internauta): Deputada, com essas denuncias tu achas que pode dar uma crise na presidência?

Yeda Crusius: Não, porque parece que o Planalto deixou seu comportamento "autista" de não enxergar a demanda social por transparência e eficiência governamental.

Pergunta (internauta): O governo Fernando Henrique Cardoso enfrentou denúncias que provocaram crises semelhantes à atual. Existe diferenças entre o que aconteceu então e o que ocorre hoje? O presidente pode ser responsabilizado por eventuais casos de corrupção perpetrados por integrantes do segundo ou terceiro escalões do governo?

Yeda Crusius: durante o governo Fernando Henrique foram realizadas 22 CPIs, e foi negada a validade de uma CPI genérica, ligada ao movimento "fora FMI, fora FHC", que tratava de uma acusação genérica (ao contrário do que requer o regulamento para CPIs, que é fato determinado), a chamada CVPI da corrupção, e da do dossiê conhecido como "pasta rosa", falso e achacador.

Pergunta (internauta): A oposição se preocupa de alguma forma em evitar o clima de "nenhum político presta", que pode acabar resultando em medidas pouco democráticas? Já se vê muita gente falando que "é melhor mesmo fechar o Congresso".

Yeda Crusius: A oposição fr hoje não é a de ontem, do "quanto pior melhor" e sim se preocupa em garantir o respeito ao pleito de 2002, que elegeu Lula. Pelo contrário, o Congresso, livre, tem hoje um papel fundamental para isto, que é o de usar os instrumentos à sua disposição para depurar os "vendidos e comprados" dos que trabalham como verdadeiros representantes do povo. E nós do PSDB particularmente, estamos introduzindo a "agenda da ética e da transparência", com iniciativas (PECs e projetos de lei) que cortem a fonte da atual corrupção pela raiz. São: critérios para preenchimento de cargos públicos (hoje quantos foram contratados como CCs para conseguir a "mesada" para partidos políticos?), financiamento público de campanha eleitoral, e orçamento impositivo, para que o governo através do tesouro nacional deixe de usar o orçamento como "pagamento" a "fiéis".

Pergunta: A imprensa do centro do país noticiou que o governo liberou recursos para emendas parlamentares numa tentativa de barrar a instalação da CPI dos Correios. Como ocorreu esta negociação? A senhora presenciou este fato?

Yeda Crusius: Mais uma vez, o governo quando enfrenta uma dificuldade ou uma crise, usa a promessa de liberação de recursos já incluídos no orçamento federal para contornar as dificuldades ou a crise. Promete, mas não cumpre depois, não honra os compromissos, nem os mais sérios, e muito menos os de liberação de recursos para parlamentares.

Pergunta (internauta): Dna Yeda, por muito menos que isso o Presidente Color foi destituído do cargo, você acha que o Lula corre este risco?

Yeda Crusius: Se o PT fosse livre, já estaria nas ruas pedindo a destituição de Lula. Agora, com uma oposição responsável, o processo que pedimos é da mais ampla investigação. Conforme o que for sendo comprovado, é o presidente que deverá tomar sua própria decisão, para não terminar como na Argentina. Como terminou Alfonsin, que entregou o cargo antes do final do mandato. Para isso, é preciso que o presidente Lula mostre que tem uma agenda para o país que não seja apenas o controle macroeconômico da inflação pela taxa de juros, e do aparelhamento do Estado brasileiro para o seu partido - hoje completamente desvendado, assim como o fisiologismo que entrega cargos para "parceiros" e não para quem queria servir a um projeto nacional.

Pergunta: O governo relutava em apoiar a CPI pois entendia que a oposição poderia aproveitar o momento político. A senhora entende que a alegação é justificada ou uma tática de defesa?

Yeda Crusius: Segundo os próprios líderes do PT e do governo, este relutava em aceitar a CPI pelo perigo que ela representava na investigação de esquemas de corrupção introduzidos pela forma de nomeação de "gestores públicos". É tão perigoso e pesado, mas ficou perigosamente implosivo depois da entrevista do dep. Roberto Jefferson sobre o "mensalão". É por isso que agora o governo Lula quer restringir a CPI "apenas" ao esquema denunciado na Empresa de Correios e Telégrafos. Mas não é possível mais segurar, porque é demanda da sociedade, da população, e não uma questão entre governo e oposição. O povo não suporta o grau de corrupção denunciado em tudo o que se refere à "coisa pública".

Pergunta: A senhora acredita nas denúncias do deputado Roberto Jefferson,que também está sendo alvo de investigações? Até o momento, o parlamentar não apresentou nenhuma prova. A senhora tinha conhecimento deste episódio antes dele tornar-se público?

Yeda Crusius: No segundo semestre do ano passado, uma colega do PSDB nos informou ter sido procurada para, retribuída por uma "ajuda mensal" de R$ 40 mil, mais "luvas", passar a votar com o governo. Inacreditável! Ela não nos disse a fonte. Saiu para ser secretária do governador de Goiás, e o assunto morreu. Depois, um empresário se manifestou perguntando "vocês sabem de um esquema de "mensalão na Câmara dos Deps?". Fomos atrás, e ninguém confirmou, ou mostrou saber. Inacreditável! Depois veio a denúncia do min. Miro Teixeira, q recebeu essas informações do dep. Roberto Jefferson. Que não quis, àquela época, confirmar publicamente. Agora, volta com denúncia. CPI sim, já, da ECT, e outra, para o mensalão. Isso não é o Congresso Nacional, e sim alguns "100 picaretas" que eu não conheço.

Pergunta (internauta): A senhora acha que, caso o PT consiga a reeleição, essa “prostituição ideológica” a que ele se submeteu seja revista, e que voltem a ganhar força suas correntes internas mais à esquerda, ou até mesmo os recentes dissidentes? A conclusão no Planalto caminha para o sentido de 'erramos ao abrir demais nossas alianças'? Ou a senhora não vê relação nenhuma entre a crise e forma como vêm sendo feitas as alianças?
 
Yeda Crusius:
Sim, tem tudo a ver. Por isso a necessidade imperiosa de mudar a forma de financiar campanhas políticas e partidos políticos. Fidelidade partidária já! terminaria com esse esquema vergonhoso do "deputado de aluguel".

Pergunta: Qual a avaliação da senhora sobre a atual crise política? Como fica a imagem do PT, da oposição e do Brasil? Como investir nas investigações sem afetar a credibilidade e prejudicar a economia?

Yeda Crusius: Não tem segredo. Reforma político-eleitoral, investigação ampla e transparente, "cortar na carne" no Congresso Nacional. O PT vai precisar se refundar. Aquele que fazia oposição não existe mais nem no imaginário popular nem na sua unidade interna. Quando acusavam os outros, membros e direção do PT sabiam do que estavam falando, pois estão provando ser exatamente aquilo que acusavam. O Brasil, quero dizer, evolui. Cai na realidade da ação política necessária para recuperar a dignidade do nosso dia-a-dia.

 
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