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 | 26/03/2005 14h25min

Famílias gaúchas deixam o campo após estiagem prolongada

Agricultores buscam emprego e oportunidades na cidade

A terra rachada, o pasto seco, o gado esquálido. Há mais de três meses esses componentes fazem parte do quadro da estiagem no Rio Grande do Sul. O retrato surge agora mais pungente com um novo elemento: o retirante do pampa. Expulsos do campo pela escassez de chuva, eles dão feições nordestinas à seca gaúcha.

Sem leite na ordenha, colheita na lavoura nem esperanças no cabo do enxada, os agricultores começam a se transferir para as cidades. A migração não tem a proporção do êxodo rural vivido pelo Estado nos anos 60 e 70, quando a população urbana superou a rural. No pampa o fenômeno é unicelular: cada família parte numa jornada individual, quase sempre com destino à zona industrial mais próxima.

Foi assim com Vilson da Costa e a mulher, Sandra Dias. Grávida de sete meses, ela partiu primeiro. Com R$ 40 doados pela mãe e as três filhas pequenas, embarcou num ônibus em Colônia São Paulo, interior de Boqueirão do Leão, no Vale do Rio Pardo. Desceu 80 quilômetros adiante, em Lajeado.

– A Sandra me ligou chorando, dizendo que não tinha água nem para cozinhar. Mandei ela vir imediatamente – conta a mãe, Sueli.

Não há estatísticas oficiais sobre a migração. Os episódios são recentes e se acentuaram nas últimas semanas. Também não há na historiografia estadual precedentes de uma evasão em função do clima.

– Isso é inédito no Estado – atesta o supervisor de Informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ademir Koucher.

Acostumado à rusticidade do campo, em geral o gaúcho resiste à intempérie. Mas o segundo verão seco faz da resignação desencanto. Para o professor do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Rural da UFRGS, Sérgio Schneider, o êxodo consolida a vulnerabilidade do pequeno agricultor. O fenômeno estaria atingindo famílias de jovens produtores, endividadas com crédito e safra.

– Atraídos pelo boom da soja, eles ficam reféns da monocultura. A seca é a pá de cal – diz o doutor em Sociologia Rural.

Segundo Schneider, os maiores focos de expulsão estão no Alto Uruguai, região em que a perda populacional vinha sendo freada desde 2000, com os financiamentos para terras e sementes.

– Os filhos de agricultores aderiram em massa ao crédito fundiário. Terminou o prazo de carência e quando eles têm de pagar, a seca liquidou a colheita – pondera.

FÁBIO SCHAFFNER/AGÊNCIA RBS

 
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