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Requião ameaça produtor que plantar soja transgênica

Governador paranaense explica sua oposição aos OGMs

Um dos argumentos do governador do Paraná, Roberto Requião, para explicar a sua oposição aos transgênicos é a possibilidade de valorização financeira para os produtores paranaenses. Com a queda nas cotações da soja, Requião acredita que quem oferecer um produto convencional, diferente daquele produzido nos EUA e na Argentina, tende a levar vantagem no preço. Outra crítica de Requião se refere à cobrança de royalties, que deixaria o produtor brasileiro como refém das empresas estrangeiras. Confira a entrevista concedida à RBS Rural:

RBS Rural – Nossa equipe percorreu as principais regiões produtoras do Paraná e constatou que alguns agricultores já estão plantando soja transgênica, amparados pela medida provisória que permitiu o plantio. O que o senhor acha disso?
Roberto Requião –  Essa medida provisória repete a anterior, não há nenhuma proteção. Há simplesmente, para quem assinou o termo, a possibilidade de plantar na próxima safra. No Paraná, 0,1% dos produtores se enquadram nesta situação. Nós temos 380 mil propriedades rurais e, segundo o Ministério da Agricultura, 574 produtores assinaram o termo de ajustamento de conduta. Mesmo assim, o ministério não nos informa o endereço destes 574 produtores, e isso nos leva a crer que eles não existem. Se a fiscalização cabe ao Estado, como o ministério pode nos negar os endereços e as cópias dos termos? Acho que alguma coisa não é muito séria neste processo.

RBS Rural – Sem a divulgação dos nomes, o que o governo paranaense pretende fazer para fiscalizar as propriedades?
Requião – Nós fiscalizamos tudo. No ano que passou foram fiscalizadas 5 mil propriedades. Neste ano, serão 10 mil. Cá entre nós, não foi encontrada soja transgênica até agora, a quantidade é realmente muito pequena. No próprio Porto de Paranaguá, onde é feita a análise (de transgenia) para evitar que a carga seja devolvida pelos compradores internacionais, nós não encontramos soja paranaense transgênica.
 
RBS Rural – Qual será a atitude do governo com os produtores que plantarem soja transgênica no Paraná?
Requião – A mesma tomada anteriormente. Quem tiver o termo de ajustamento pode plantar, mas não vai exportar pelo Porto de Paranaguá, porque o porto não tem como misturar a soja. E quem plantar ilegalmente vai ser penalizado.
 
RBS Rural – E quem não assinou o termo de ajustamento?
Requião – Está cometendo uma infração e será punido por isso com, por exemplo, a apreensão da soja.
 
RBS Rural – Há risco de aumentar a ilegalidade do plantio de transgênicos?
Requião – A ilegalidade sempre existe. Tem gente que planta maconha, por exemplo. Mas isso é um absurdo, porque fere os interesses do Brasil. É uma visão oportunista, de momento, que interessa às tradings e à Monsanto, que detém a patente, mas é muito ruim para o nosso país. Nós perderemos a universalidade do nosso produto. Hoje nosso produto é aceito no mundo inteiro. A soja transgênica, não. A França não consome, a Inglaterra não consome, a China não compra para consumo humano, a Índia não quer. Então nós temos uma reserva de mercado, principalmente agora que a soja está tendo uma queda brutal de preço. Se nós temos a soja pura, quando tiver excesso de oferta – por isso o preço cai –, o mundo vai preferir a nossa soja. Além disso, tem o monopólio da Monsanto. Dizem por aí que a Embrapa tem soja transgênica, é mentira. A Embrapa aclimata soja da Monsanto em diversas localidades, ela não domina o processo de transgenia.
 
RBS Rural – Nossa equipe visitou a Embrapa Soja, de Londrina, e constatou que, além da soja Roundup Ready, a instituição tem mais duas linhas de pesquisa, uma outra soja resistente a herbicida, em parceria com outra empresa, e uma variedade transgênica tolerante à seca.
Requião – Nenhum projeto é da Embrapa. A soja transgênica é só da Monsanto.
 
RBS Rural – A soja resistente a imidazolinonas é desenvolvida em parceria com a Basf.
Requião – Eu não conheço a da Basf e não sei a que ela é resistente.
 
RBS Rural – A exportação de soja transgênica pelo porto de Paranaguá vai continuar proibida?
Requião – Não é proibida, é impossível. Se nós misturarmos, a Monsanto cobra royalties. Não existe soja meio transgênica, assim como não existe mulher meio grávida. Nós não temos como segregar a soja, e como 99,9% da soja paranaense é convencional, eu não tenho porque introduzir soja transgênica no nosso Estado e pagar royalties para a Monsanto. Seriam R$ 130 milhões somente este ano.
 
RBS Rural –
O senhor vai continuar tentando transformar o Paraná em área livre de transgênicos?
Requião – Por que não? O Lula me garantiu isso. Mas aí vem o Roberto Rodrigues e diz que é impossível porque tem 574 propriedades que assinaram o termo. Antes eles diziam que 17% da safra paranaense era transgênica. Não era verdade. Daí, pedi os nomes para poder segregar esta soja, mas o Rodrigues diz que é segredo comercial. No Rio Grande do Sul era contrabando, aqui é segredo comercial. É um jogo muito desleal com o nosso país. No Rio Grande, eles sobem o preço dos royalties ou reduzem a oferta de semente no mercado. Eles vão dominar a agricultura brasileira.
 
RBS Rural – Nós ouvimos dos funcionários do porto de Paranaguá que o volume de soja embarcado vem baixando com a restrição ao transgênico. Os produtores do Paraguai se mostraram ressentidos com o governo paranaense. Eles reclamam que estão tendo prejuízo porque não podem mais exportar por Paranaguá, já que quase 100% da soja naquele país é transgênica. Não existe prejuízo para o porto?
Requião – Na Bolívia, o ressentimento é o mesmo: eles produzem cocaína e nós não queremos deixar entrar no mercado brasileiro. Veja, o porto de Paranaguá bateu todos os recordes de exportação da história. Em 2002, antes de eu assumir, exportou 28,5 milhões de toneladas. Em 2003, foram 33,5 milhões e, neste ano, já bateu outros recordes. Então não existe o que você está me dizendo. Agora, no Paraguai, eles produzem 1,3 milhão de toneladas, exportam entre 250 mil e 300 mil toneladas, o restante eles moem no mercado interno brasileiro. Eu não vou deixar que 300 mil toneladas se misturem com a nossa soja e façam com que toda a exportação brasileira pague royalties. Este volume corresponde a três ou quatro navios, quantidade sem expressão nenhuma no porto de Paranaguá. Não vai ser para contentar os paraguaios que eu vou pagar R$ 130 milhões de royalties.
 
RBS Rural – Algumas cooperativas reclamam que até hoje não receberam preço melhor pela soja convencional. O senhor acredita que esta valorização vai ocorrer?
Requião – Eu acho que eles estão ganhando, é que eles não estão conseguindo raciocinar. Eu não posso resolver o problema neurológico deles, de falta de multiplicação de neurônios. O que acontece é que a soja chegou a custar este ano US$ 470 a tonelada no mundo, e o agricultor paranaense não ganhou mais de US$ 180. É porque eles venderam por antecipação para as tradings. Elas ganharam o sobrepreço, o agricultor não. Agora, mesmo que não tivesse um real a mais por tonelada, num momento de superprodução, o mundo compra a soja universal, que não encontra resistência no mercado. Nós estaríamos ganhando dos Estados Unidos.

ALESSANDRA MELLO  -  Zero Hora

 
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