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Haiti  | 13/01/2010 19h42min

Aluno 01 da turma de cabos está entre as vítimas

Gaúcho radicado em São Paulo voltaria para casa no sábado

Atualizada em 14/01/2010 às 11h35min

Estava indicado em sua página do Orkut. Em breve, Douglas Pedrotti Neckel estaria em casa. Mas as indicações de luto entre seus amigos da comunidade virtual indicam que o retorno não acontecerá.

Natural de Cruz Alta, o militar de 23 anos, aluno 01 da turma de cabos e melhor praça do 5º Batalhão Infantaria Leve de Lorena (SP) em 2008, retornará de Porto Príncipe, capital do Haiti, num ataúde coberto pela bandeira do Brasil.

Vítima do terremoto que dizimou a capital do país caribenho, o jovem gaúcho realizava um sonho: servir ao Exército e ajudar ao próximo.

Hoje à tarde, apesar da tragédia pessoal que abalou a família Neckel, radicada há 14 anos em Lorena, interior de São Paulo, Jonatã, 27 anos, falava com orgulho de seu único irmão:

— Ele era um guri correto, de caráter. Eu ficava admirado, olhando, e dizia pra mim mesmo: esse moleque é bom!

Filho de Valmir de Freitas Neckel, 45 anos, e Ana Lúcia Pedrotti Neckel, 44 anos, proprietários da transportadora Transneckel, Neckel destoava de milhares de jovens praças que buscam no Exército uma oportunidade profissional e a garantia de uma vida digna.

— O Douglas (Neckel) poderia ajudar o pai na transportadora, mas preferiu servir ao Exército e ajudar ao próximo — recorda a prima Ana Paula Pedrotti, 30 anos.

Quando surgiu a possibilidade de ir para o Haiti, Neckel, contrariando os instintos familiares, não pensou duas vezes: trancou o curso de Adminstração na UNISAL e acompanhou seus colegas de farda.

— Era o sonho da vida dele — recorda Jonatã.

Nas conversas mantidas pela Internet, familiares percebiam que a experiência no Haiti o transformara. Sua percepção sobre a vida havia mudado em seis meses de imersão num país ancorado na Idade Média — onde a morte espreita bebês e a vida é uma conquista diária para cerca de 10 milhões de habitantes.

— Ele nos contava que seus conceitos estavam mudando. Era uma lição de vida. Ele tinha aprendido a ver a vida de outra forma, dando valor a outras coisas, como a água e a comida, que faltavam no Haiti — revela Ana Paula, contendo o choro ao telefone.

Na tarde de terça-feira, cerca de cinco horas antes de o ventre da terra tremer e arrasar Porto Príncipe, a capital do país, Neckel conversou com Gisele Gomes, sua cunhada, grávida de sete meses. No diálogo rápido, mantido pelo MSN, ele falou que as malas estavam prontas para o retorno, previsto para o próximo sábado, e despediu-se com a seguinte frase:

— Diz para o pessoal que eu amo a todos e que estou com saudades.

Solteiro, Neckel pretendia deixar o Exército após a missão no Haiti. Sua ideia, diz Jonatã, era concluir o curso de Administração e ajudar nos negócios da família.

— Meu irmão dizia que o Exército já tinha dado tudo que ele precisava — detalha.

Neckel morreu sem conhecer a pequena Marina, sua sobrinha que virá ao mundo entre feveiro e março. 

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