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 | 23/11/2009 10h52min

Projetos sucroalcooleiros com recursos do BNDES afetam comunidades indígenas, afirma diretora do Ibiss

Segundo Estela Scândola, banco deve ser co-responsável nos financiamentos que concede

Os empreendimentos sucroalcooleiros financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estão segregando as populações indígenas em Mato Grosso do Sul, afirmou a diretora-presidente do Instituto Brasileiro de Inovações Pró-Sociedade Saudável (Ibiss), Estela Scândola.

Ela denunciou que as comunidades indígenas estão sendo afetadas pelo plantio da cana em torno de seus territórios e pela participação dos índios na atividade de corte da cana. Ela enfatizou que com as grandes destilarias, o impacto se torna decisivo na vida dessas comunidades.

– Há uma intervenção direta no modo de vida, que esgarça todo o sistema de proteção social existente na comunidade, porque os homens saem para o trabalho e você tem um novo padrão de organização interna que imputa às mulheres uma alta responsabilidade em manter a comunidade – disse.

O segundo impacto negativo está relacionado com a presença acentuada do plantio da cana no entorno das comunidades.

– Esse entorno, de forma decisiva, impacta as comunidades, seja pelo agrotóxico, seja pela ausência de biodiversidade, seja pela contaminação dos rios – afirmou.
Em consequência, há o agravamento da exploração sexual de crianças e adolescentes, além do esfacelamento dos núcleos familiares, e a ocorrência crescente de casos de alcoolismo no retorno dos trabalhadores indígenas das destilarias.

– Eles retornam às comunidades muitas vezes em situação bastante degradante – salientou.

Integrante da rede de 30 organizações da sociedade civil denominada Plataforma BNDES, o Ibiss participará nesta segunda, dia 23, no Rio de Janeiro, do 1º Encontro Sul-Americano de Populações Afetadas pelos Projetos Financiados pelo BNDES.

Estela Scândola reivindicou que o banco deve ser co-responsável nos financiamentos que concede. Segundo ela, a instituição tem de estabelecer exigências para a concessão dos empréstimos às empresas e também fiscalizar o cumprimento dessas normas.

– Isso não tem acontecido. O banco repassa dinheiro para as grandes empresas e elas não têm responsabilidade com as comunidades no entorno dos empreendimentos – disse.

A trabalhadora rural Irene, do município de Rio Brilhante, é uma das representantes do Ibiss no encontro. Durante o evento, ela conta como o assentamento ficou sitiado no meio da cana e dos animais em fuga que invadiam a localidade. Além disso, a pulverização aérea afetou todo o sistema de plantio de alimentos nos assentamentos.

Estela Scândola insistiu que cabe ao BNDES impor as condições socioambientais para as empresas que pleiteiam o financiamento.

– Porque essas duas condições acabam mudando completamente as condições de vida dessas comunidades.

Ela afirmou que não por coincidência, a maioria dos empreendimentos está indo para os lugarejos.

– São pequenas localidades que mudam completamente a forma de organização – avalia.

Em Mato Grosso do Sul, existem 45 acampamentos indígenas que lutam pela área de retomada de terra, sem falar nas comunidades que vivem em áreas demarcadas, disse a presidente do Ibiss. 

AGÊNCIA BRASIL
 
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