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 | 10/06/2009 23h29min

Menino é executado a tiros no bairro Nova Guaíba por dívida de R$ 5

Motivo da execução não surpreendeu delegado Thomaz Mercio Pereira, titular da DP de Guaíba

Mariana Mondini  |  mariana.mondini@diariogaucho.com.br

Uma pedra de crack foi a causa da execução do menino Ariel Vieira Costa, 14 anos. Veterano no vício — começou a fumar aos 10 anos —, ele foi morto a tiros, por conta de uma dívida de R$ 5, na noite de terça-feira, próximo à casa onde morava, no Bairro Nova Guaíba, em Guaíba. Os suspeitos do homicídio, já identificados pela Polícia Civil, regulariam de idade com a vítima: 14 e 15 anos.

Eram 19h45min. A mãe de Ariel, Janete Sionara Vieira Costa, 40 anos, conversava com o ex-companheiro, Marco Antonio dos Santos Bernardes, 48 anos, dentro de casa, quando ouviu os disparos.

— Na hora, falei: "meu Deus, o Ariel!" Quando vi, ele estava agonizando — lembra Janete.

Testemunhas relataram que, minutos antes do crime, Ariel conversava com outros dois adolescentes, a aproximadamente 100m de casa, na Rua E. Em um dado momento, os meninos teriam desferido duas pauladas nas pernas de Ariel. Em seguida, a dupla efetuou pelo menos seis disparos, que atingiram o rosto, as costas e o peito da vítima.

O casal, ao sair desesperado para ver o que estava acontecendo, cruzou pelos dois garotos, que caminhavam normalmente. Ao cruzarem pelos pais da vítima, ambos colocaram o capuz. Com o filho nos braços, Janete pediu auxílio para um vizinho para levá-lo ao Pronto Atendimento Regional. Ainda no carro, a caminho do hospital, Ariel não resistiu aos ferimentos e morreu.

O motivo da execução não surpreendeu o delegado Thomaz Mercio Pereira, titular da DP de Guaíba:

— As mortes que eu tenho tido aqui é tudo por causa de R$ 5, R$ 10, o que dá uma ou duas pedras.

No final da tarde de quarta, pouco antes do enterro do filho no Cemitério Municipal de Guaíba, Janete teve uma crise de epilepsia e foi internada no Hospital Regional.

Testemunhas reconheceram os suspeitos

Durante a manhã de hoje, enquanto Janete e Gabriel prestavam depoimento na DP, a equipe de investigação foi ao local do crime, em busca de testemunhas, e localizou os dois suspeitos. Conforme o delegado Thomaz Cleber Mercio Pereira, eles foram reconhecidos pela família e intimados a comparecer na delegacia à tarde. No entanto, somente um dos jovens apareceu, acompanhado do pai. Ele foi ouvido e negou participação no homicídio. O delegado, porém, pretende ouvi-lo novamente na sexta-feira, junto com o outro menor.

De acordo com a família de Ariel, várias pessoas presenciaram o crime, mas, por medo, não quiseram falar com a polícia. Os dois adolescentes são moradores de bairros vizinhos. Seriam ''aviões'' do tráfico, usados pelos traficantes para fazer a distribuição das drogas no varejo.

"Metade do que a gente tinha ele vendeu"

Ariel morava com o pai de criação, Marco Antonio, e um irmão, em um casebre de madeira de um só cômodo, no qual ficam um sofá e três colchões. Uma chaleira e algumas panelas completam o cenário. Marco é catador de lixo para reciclagem. A mãe, Janete, reside em uma casa no Bairro Bom Retiro, também em Guaíba. Quando cursava o terceiro ano fundamental, Ariel largou a escola e passou a usar crack. Segundo parentes, ele viu um amigo fumando, quis experimentar, e viciou. A partir daí, começou o drama da família.

— Metade do que a gente tinha, ele vendeu. Foi internado quatro vezes, mas fugia e ficava rodando pelo Centro. Já amarrei ele com corrente e cadeado na cama e pedi para ele ir para a Fase, porque pelo menos ia estar vivo — lamenta Janete.

A mãe lembra que chegou a presenciar Ariel fumando crack em lata, em cima de bueiros. Segundo ela, por diversas vezes, Ariel apanhou na rua por conta das dívidas.

— Ele comprava uma pedra, largava correndo e não dava o dinheiro. É um caminho sem volta — comenta Gabriel.

Conforme Marco Antonio, o menino foi para um albergue na semana passada, mas fugiu no mesmo dia.

— Ele era muito rueiro, entrava e saía de casa toda hora. Eu amanhecia com a porta encostada esperando ele e chorava pra que não saísse — destaca o gari.

DIÁRIO GAÚCHO
 
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