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 | 16/02/2009 12h34min

Mercado do boi passa por momento de adaptação de preços

Indicador do boi gordo e do bezerro teve queda, e volume exportado também

Cepea/Esalq - USP

A análise da pecuária no início de 2009 mostra que o setor está em momento de adaptação a uma nova realidade. A época de euforia de preços e de dinheiro fácil e barato teve um freio. Os investimentos diretos em frigoríficos nos últimos anos, abertura de novos mercados para a carne bovina brasileira e o mercado interno aquecido pela elevação da renda levaram a uma forte alta dos preços do boi, da carne e também dos insumos em 2008.

Em meio às oscilações, o Indicador do boi gordo Esalq/BM&FBovespa (São Paulo, CDI – à vista) teve baixa de 2% em janeiro, fechando a R$ 83,90/@ no dia 30. A carcaça casada de boi, comercializada na Grande São Paulo cedeu quase 10% no mês, com a média a prazo a R$ 5,18/kg no dia 30. O Indicador do bezerro Esalq/BM&FBovespa (Mato Grosso do Sul, CDI – à vista) teve queda semelhante a do boi, passando para R$ 631,40/cabeça no dia 30.

Quanto às exportações em janeiro, dados preliminares de janeiro divulgados pela Secex apontam nova queda para o volume de carne in natura embarcada pelo Brasil, de 8% em relação a dezembro de 2008. As cerca de 57 mil toneladas embarcadas em jan/09 ficam quase 40% abaixo do volume de jan/08.

O valor da tonelada em dólar também caiu para aproximadamente US$ 3.000, 15% abaixo do obtido em dez/08 e 25% a menos que em jan/08. Mas, quando analisado o preço em moeda nacional, a diferença torna-se pequena. Considerando o dólar médio de R$ 2,31 para jan/09, o preço médio da tonelada neste mês foi de R$ 6.875,50, 1,8% abaixo dos R$ 7.000,00 em jan/08, com o dólar médio em R$ 1,77.

A oferta cresceu em ritmo menos intenso que a demanda, tendo em vista a perda de atratividade da pecuária frente a outras atividades. Entre 2003 e 2006, os custos de produção tinham crescido 31% e os valores da arroba, caído 18% (média dos 10 principais Estados produtores nacionais), ou seja, os produtores perderam poder de investimento ao passo que outras atividades agropecuários, especialmente a cana, se tornaram mais atrativas.

Como conseqüência, os preços dos animais de reposição começam a ser reajustados já no início de 2007. A recuperação de preços seguiu firme e, em junho de 2008, o mercado futuro negociou a arroba por mais de R$ 100 para a entressafra daquele ano. Os custos de produção, no entanto, conseguem ultrapassar o aumento da receita bruta dos pecuaristas. De janeiro a outubro de 2008, por exemplo, na média de 10 Estados, os custos operacionais efetivos acumularam alta de 30,7%, enquanto a arroba subiu 27% – cálculos ponderados.

A crise mundial afetou diretamente o mercado pecuário, com os preços da arroba (Indicador Esalq/BM&FBovespa) em outubro de 2008 fechando abaixo de R$ 88,00, muito aquém das expectativas de alguns meses atrás. O mercado internacional ficou carente de crédito para financiar as exportações e principalmente para financiar novos negócios.

No início do ano, provas da cautela assumida pelos agentes foram o aumento do número de contratos de opções no mercado futuro de boi e os ligeiros recuos, mas persistentes, dos preços do bezerro, que ainda em patamar relativamente elevado.

A expectativa para 2009 é de um mercado mais volátil, alimentado pelas condições internacionais. No entanto, isto não necessariamente significa que pode ser um ano ruim para os agentes dentro e fora da porteira.

No início de janeiro, muitos frigoríficos, após um período de férias coletivas, retornam às atividades, num cenário ainda de turbulência financeira e de Real desvalorizado frente ao dólar. A atenção dessas unidades se direcionou ao comportamento dos mercados interno e externo de carne, à evolução das escalas, ao volume de animais que seria disponibilizado à indústria e ao preço dos insumos.

Frigoríficos se mostraram apreensivos em relação à capacidade de sustentação dos preços da carne no mercado interno, preferindo evitar as aquisições em valores superiores, ainda que a oferta de animais para abate continuasse baixa. Há de se considerar que a indústria, de modo geral, efetuou a compra de alguns lotes em regiões diferentes ou em preços mais altos, o que possibilitou um certo recuo comprador no início do mês.

No decorrer de janeiro, a pressão compradora continuou e as médias da arroba em várias regiões registraram sucessivas desvalorizações. Altas pontuais chegam a ser observadas, mas basicamente quando frigoríficos voltam ao mercado para preencher escalas.

Apesar das especulações de que o consumidor brasileiro viesse a adquirir um volume menor de carne em função do desaquecimento da economia, o motivo das desvalorizações em janeiro foi mesmo a sazonalidade do consumo – mensal e anual. Além de atacadistas estarem negociando para atender o varejo da segunda quinzena, pesou ainda o fato de ser janeiro, período em que tradicionalmente o mercado de carne enfraquece - entre outros fatores, pelas férias, por vencimentos de tributos e por despesas escolares. Num cenário de demanda reduzida na ponta final da cadeia, mesmo um volume menor de carne ofertada pela indústria acabou por gerar oferta maior que a demanda.

Mais no final do período, frigoríficos de diversas praças pesquisadas pelo Cepea aumentaram os preços pagos pela arroba para conseguir preencher as escalas de abate, que estiveram em torno de quatro dias. Algumas unidades chegaram a aumentar em até R$ 2,00 o valor da arroba. Mesmo assim, a oferta se manteve bastante baixa tanto pela expectativa de novos aumentos quanto pelo fato de a disponibilidade de animais prontos para abate ser realmente pequena.

Essa menor oferta de animais ocorreu pelo desestímulo à produção pecuária em anos anteriores e pelas condições climáticas recentes. Enquanto em algumas praças, como o Rio Grande do Sul, a seca prejudicou as pastagens, dificultando a engorda dos animais, noutras, como no estado de SP, foi a chuva constante que acabou reduzindo pontualmente a oferta (em algumas praças), já que dificulta o transporte dos animais até os frigoríficos.

No mercado de carne, também foi registrado reajuste de preços no final de janeiro, por conta da baixa oferta do produto.

 
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