| 11/02/2009 18h04min
A classe AB, a mais alta da pirâmide social brasileira, perdeu espaço em termos de ascensão social desde o agravamento da crise financeira internacional em setembro, caindo 0,65% no período compreendido até dezembro. A constatação é da Fundação Getulio Vargas, que divulgou hoje, no Rio de Janeiro, estudo sobre a mobilidade social no país com a crise.
No mesmo período dos dois anos anteriores – 2007 e 2006 – a classe AB subiu 3% na pirâmide. O autor da pesquisa, Marcelo Néri, explicou que, se antes, de cada 100 pessoas que estavam na classe AB 20 caíam a cada ano, hoje, essa relação chega a 25.
— É aí que os sinais da crise são mais visíveis — constatou.
Dessas 25 pessoas, quatro caíram diretamente para a classe E. Néri explica que é provável que sejam pessoas que perderam o emprego ou faliram por conta da crise.
— As pessoas com renda mais alta estão vinculadas aos canais de impacto da crise, como o setor exportador, financeiro
e imobiliário. A boa notícia é que esses setores
são menos importantes aqui do que em outros países, em termos de emprego, de indicadores de renda.
Néri observou que o fato de a economia ser relativamente fechada e regulada garantiu uma maior proteção de choque financeiros externos. O levantamento da FGV aponta, no entanto, que a crise não afetou tanto a classe C, onde o movimento de ascensão não foi interrompido. A classe média emergente continua crescendo nas seis principais metrópoles do país (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre).
Intitulado “Crônicas de uma Crise Anunciada: Choques Externos e a Nova Classe Média”, o estudo mostra que, em dezembro de 2008, a classe média (classe C) passou a representar 53,8% da população.
No mesmo período de 2007, esse percentual era de 51,8%. As classes D e E também continuaram encolhendo comparado aos anos anteriores, de acordo com a FGV. Enquanto 6,79% da classe D migrou para classes mais altas, na classe E esse
percentual chegou a 8%.
Marcelo
Néri ressaltou a importância das políticas públicas de transferência de renda e injeção de demanda pública em momentos como este. Ele citou como exemplo o programa federal Bolsa Família que, segundo ele, atende 25% da população brasileira.
Na opinião do economista, o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) é outra ferramenta importante no amortecimento da crise na economia do país, além de melhorar a logística local.
Néri alertou que, embora as políticas públicas sejam necessárias, elas não são suficientes no longo prazo. “Se a gente gastar muitos recursos de maneira errada, no futuro, quando a crise passar, estaremos com o freio de mão puxado”.
Ele defendeu instrumentos que criem microcréditos, abonos, microsseguros e investimento em educação para que o país e as classes mais pobres enfrentem os efeitos futuros da crise.
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