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 | 06/12/2008 14h10min

Exploração da camada de pré-sal implica maior integração entre universidade e indústria

Tema foi discutido durante o Workshop da Comissão Especial de Petróleo e Gás Natural

A exploração do petróleo e gás nas grandes reservas descobertas recentemente na camada de pré-sal da Bacia de Santos implicará em novos desafios científicos e tecnológicos. Mas, para superá-los, o país terá que melhorar a interlocução entre a universidade e a indústria, além de acabar com o contingenciamento das verbas de pesquisa no setor.

A análise foi feita por especialistas que participaram do Workshop da Comissão Especial de Petróleo e Gás Natural (Cespeg), realizado nesssa semana na sede da Fapesp, em São Paulo.

O evento, com o tema “Pesquisa e inovação tecnológica”, faz parte de uma série de workshops realizados pela Secretaria de Desenvolvimento do Estado de São Paulo, por meio da Cespeg. O objetivo é discutir as questões levantadas pelos grupos de trabalho da comissão.

O diretor do Centro de Estudo do Petróleo (Cepetro) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Osvair Vidal Trevisan, afirmou que o valor dos recursos previstos em lei para o Fundo Setorial do Petróleo e Gás Natural (CT-Petro), criado em 1997, cresceu continuamente até atingir cerca de R$ 1 bilhão. Mas o orçamento operado não chega a 10% desse total.

– Se o contingenciamento acabasse, haveria um aumento muito rápido do número de pessoas preparadas para atuar em pesquisa na área. Esse é um dos gargalos que temos enfrentado, tanto na universidade como na indústria, que, por necessidade, acaba contratando gente sem formação adequada – disse.

Segundo Trevisan, por outro lado é um erro afirmar que não há capacidade de pesquisa na universidade brasileira. O que falta, diz ele, não é qualidade de recursos humanos, mas recursos para ampliar a formação.

– A capacidade existe. Temos centros de excelência com recursos humanos de alta qualidade para pesquisa e desenvolvimento. Mas ainda é pouca gente em relação à demanda, que deverá crescer de forma vertiginosa. Com as verbas garantidas por lei, seria possível agregar novos doutores a esse esforço – afirmou o também professor do Departamento de Engenharia de Petróleo da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp.

De acordo com ele, a situação ficará crítica quando a exploração dos recursos do pré-sal começar efetivamente.

– Com a entrada do pré-sal e de uma produção maior, essa situação ficará mais aguda. Vamos dobrar ou triplicar os recursos legalmente disponíveis para a pesquisa. Se mantivermos a mesma estrutura, essas distorções serão potencializadas – afirmou.

Fases tecnológicas
A gerente de engenharia de produção da Bacia de Santos da Petrobras, Kazuioshi Minami, concordou que a demanda por mais pesquisa deverá aumentar gradualmente. Segundo ele, a produção em grande escala no pré-sal começará já em 2010 - ainda na fase zero do planejamento de testes de longa duração - com uma unidade piloto que deverá produzir 100 mil barris por dia.

– A fase zero, que irá até o fim de 2010, é essencialmente voltada para a obtenção de informação, a fim de diminuir os riscos associados ao desenvolvimento de processos em uma área que não conhecemos - relacionada a reservatório, à área geográfica distante da costa ou à lâmina d’água e dificuldades relacionadas às condições oceanográficas de cada área – disse.

Segundo Minami, a intenção dessa primeira fase é medir e obter informações sobre os reservatórios, avaliar sua produção, definir se há possibilidade de injeção de água ou de gás, se a facilidade de transporte do óleo está satisfatória e se as condições de mar são favoráveis para a implantação de projetos dentro da expectativa da empresa.

– Em 2011 iniciaremos a fase 1A , de implantação de grandes projetos que alavancarão a produção para um patamar de produção próximo da meta da Petrobras, de quase 1 milhão de barris por dia. Nessa fase entrará o conhecimento tecnológico já acumulado e extensões tecnológicas - ou seja, saltos menores, estudos adicionais, incrementais, para comprovar que a tecnologia pode ser estendida para as condições que vamos enfrentar dali em diante – disse.

A fase 1A está planejada para funcionar de 2011 a 2017.

– A partir de 2017, acreditamos que teremos condições de implantar projetos com saltos tecnológicos. Para isso, precisaremos desenvolver interlocutores na indústria, implantando ali um maior número de doutores – disse Minami.

Melhorar a interlocução
Para o gerente de tecnologia do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), Raimar van den Bylaardt, embora a pesquisa básica só vá ser trabalhada pela Petrobras a partir de 2017, o desafio para o setor de tecnologia já começou.

– A pesquisa de fronteira produzida pela universidade é fundamental, mas há necessidade urgente de impulsionar o desenvolvimento de tecnologias de base para dar sustentabilidade tecnológica às empresas envolvidas com o setor de petróleo e gás – disse.

Segundo ele, existem exigências relativas ao índice de nacionalização das empresas que participam do esforço de exploração do pré-sal.

– Essas empresas já têm dificuldades para atender aos índices atuais de conteúdo local. Com o avanço da demanda produzido pela exploração do pré-sal, o desafio ficará mais premente, pois a importação também aumentará. Se não houver desenvolvimento de tecnologias de base locais, essa indústria ficará insustentável – disse.

Para ampliar o índice de nacionalização, segundo Bylaardt, a solução é diminuir a distância entre universidade e indústria no fornecimento de tecnologia básica. De acordo com ele, se a cooperação entre universidade e empresas no Brasil é escassa, a principal lacuna está no nicho da tecnologia de base.

– É preciso mudar a mentalidade nessa interface entre indústria e universidade. A tecnologia de base é condição para chegarmos ao patamar das empresas internacionais. Para desenvolver uma válvula de alta tecnologia, é preciso primeiro dominar os processos de fundição, por exemplo – destacou.

AGÊNCIA FAPESP
 
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