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 | 01/10/2008 20h48min

Especialistas esclarecem o que fazer diante da crise econômica

Confira abaixo as perguntas e respostas

Atualizada em 13/10/2008 às 12h59min

Com dúvidas sobre como agir e se planejar diante da crise? Especialistas consultados por Zero Hora esclarecem os questionamentos mais freqüentes dos leitores. Confira abaixo as perguntas e respostas:

Se eu quero importar um produto diretamente, faço isso agora? Espero?

A decisão depende da cotação do dólar. Como é difícil prever se a moeda vai se valorizar ou perder força nos próximos dias, é uma opção sujeita a risco. Uma coisa é certa: a moeda não voltará tão cedo ao patamar de R$ 1,60.

Se os produtos importados estão mais caros, quer dizer que as empresas podem aumentar os preços no Brasil também?

Sim. Mas o desaquecimento da economia pode fazer com que evitem o aumento de preços para incentivar o consumo.

Se a inflação pode aumentar, o Copom vai elevar o juro também?

Provavelmente. Mas não existe consenso de que haverá aumento de preços. O Copom já vinha aumentando os juros e pode julgar que novos reajustes seriam um remédio amargo demais quando a economia mundial se desacelera. No curto prazo, economistas acreditam que o Banco Central pode segurar eventuais aumentos na taxa para evitar uma freada forte do consumo. Ou, no mínimo, tende a reduzir o ritmo de alta inicialmente previsto.

Vou viajar para o Exterior. Compro dólar, euro ou uso o cartão de crédito?

O melhor é usar os dois métodos para diluir o risco. Leve parte em dinheiro vivo e utilize o cartão de crédito. Quando você compra com o cartão de crédito no Exterior, a conversão do dólar e do euro para o real é feita no dia do pagamento da fatura, e não no dia da compra. É difícil prever qual será a cotação. Para comprar moeda estrangeira agora, o melhor é trocar um pouco por dia até a data da viagem. Assim, é possível obter uma cotação média.

É hora de entrar ou sair da bolsa?

Entrar é muito arriscado e recomendado apenas para especialistas. Mas o atual momento pode apresentar oportunidades já que papéis de empresas sólidas estão com preço baixo. Pode ser um bom momento de entrar na bolsa para quem tem dinheiro e condições de fazer apostas arriscadas, além de sangue frio para manter o dinheiro parado por meses ou anos até a recuperação das ações. Quem já está no mercado deve avaliar se a carteira está lucrando ou perdendo em relação ao investimento inicial. Se os papéis estiverem apresentando prejuízo, o indicado é esperar até que se recuperem.

Por que os bancos brasileiros são mais seguros que os americanos?

Porque não compraram os títulos podres que estão levando os bancos estrangeiros à falência. Isso ocorreu por que as instituições brasileiras preferiram apostar em papéis sólidos como títulos do governo, que apresentam retorno alto e com muito menos risco. Além disso, os lucros dos bancos brasileiros são invejáveis, mesmo com operações consideradas conservadoras para os padrões de Wall Street e, em razão disso, não sentiram necessidade de fazer as apostas arriscadas que levaram o sistema financeiro americano ao colapso.

Os bancos do mundo oriental e árabe, que têm muito dinheiro, não podem ocupar o papel de Wall Street e injetar recursos no Ocidente?

Dificilmente. Esses bancos e fundos não sofrem de falta de recursos. O principal problema do sistema financeiro europeu e americano é a falta de confiança. Mesmo com dinheiro, árabes e asiáticos (e até instituições da América Latina) não vão correr riscos adicionais para interferir numa crise estrangeira.

Se as bolsas se estabilizarem, quer dizer que a crise passou?

Não. A crise não está na Bolsa de Valores. O mercado de capitais apenas reflete alguns dos problemas. As bolsas estão caindo porque bancos enfrentam dificuldades de honrar compromissos e precisam vender ações para cobrir prejuízos e pagar dívidas. Mesmo que o mercado fique estável ou suba por algum tempo, o problema de falta de liquidez dos bancos vai continuar. Mas, se novos problemas surgirem, é provável que a bolsa volte a cair.

Se vai haver menos crédito no mercado, os juros (para a compra de carro, casa, eletrodomésticos, etc) devem ficar mais altos?


Sim. Os efeitos já estão chegando ao consumidor. O custo de movimentação de dinheiro entre bancos está mais caro e este movimento tem reflexo imediato nos financiamentos.

Como ficam os financiamentos?

Devem ficar mais caros e com prazos menores. Mas economistas são unânimes em afirmar que os empréstimos não devem voltar ao passado, quando um financiamento era praticamente proibitivo.

É melhor comprar a prazo agora ou esperar?

Apesar do aumento do juros nesta semana, as taxas ainda estão atrativas na comparação com os últimos anos. Portanto, o consumidor não fará um mau negócio se assinar contrato nas próximas semanas. Se a crise americana se agravar, os juros vão continuar subindo. Caso o pacote do governo do EUA seja aprovado nos próximos dias, talvez o juro se estabilize até o início do ano que vem. Esperar significa se submeter a sorte aos próximos acontecimentos da crise - aos riscos.

É a hora de comprar dólares e euros?

O dólar e o euro estão subindo e existe consenso de que a moeda norte-americana não voltará aos patamares recentes, quando esteve próxima de R$ 1,60, no curto e médio prazo.

A alta do dólar vai aumentar os preços dos produtos importados?

Sim.

Como vão ficar os preços no Natal? Podem aumentar?

É provável que produtos importados aumentem de preço e que produtos nacionais caiam. O Banco Central vem aumentando a taxa de juros para reduzir a demanda, o que incentiva empresas a reduzir preços. Até o Natal, a política de reajuste das taxas deve aparecer nas gôndolas. Além disso, empresas exportadoras devem ter mais dificuldade para vender seus produtos lá fora e devem descarregar as mercadorias no mercado interno, incentivando queda de preços. Os preços dos alimentos também estão em queda.

O dólar mais alto pode elevar o preço da gasolina, do álcool, do diesel?

Sim. Mas a cotação do petróleo está em baixa devido às previsões de queda na demanda. Por isso, os preços devem se manter estáveis. No caso do álcool, a maioria dos produtos agrícolas básicos está em queda, o que puxa o valor do etanol para baixo.

Isso quer dizer que a inflação pode aumentar? Se sim, em quanto? É possível estimar?

É difícil prever porque os preços são regidos por movimentos conjugados. Existem duas correntes entre os economistas. Alguns acreditam que, na média, a inflação deve perder força porque a demanda vai diminuir. Minérios, petróleo e produtos agrícolas básicos já estão caindo de preço. Além disso, o Banco Central vinha aumentando o juro, freando a inflação. Outros acreditam que os preços podem subir mais rapidamente, principalmente por causa do aumento do dólar e dos produtos importados.

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Veja o que ficou mais caro

Questões do leitor:

Quando a crise é no Brasil, na América Latina ou na Europa, o real se
desvaloriza, e o dólar sobe. Quando a crise é nos Estados Unidos, o real se desvaloriza, e o dólar sobe. Essa é uma questão que eu não consigo entender.
José Jair da Silva/Rio Grande

O real cai frente ao dólar (e euro, entre outras moedas fortes) sempre que há turbulência nos mercados devido aos temores dos investidores. Não importa onde seja a crise, o mercado de câmbio sempre será o primeiro a acusar o clima de incertezas. Uma crise nos Estados Unidos, porém, pode ter impacto sobre a produção no Brasil. O país no epicentro da crise é um dos principais compradores de produtos nacionais, o que interfere no ingresso de recursos, no nível de emprego e, conseqüentemente, no crescimento econômico. Além do mais, o dólar ainda é a moeda mais utilizada no comércio internacional. E, nos últimos dias, vem se recuperando de forma acentuada perante o euro. Pela cotação atual, são necessários US$ 1,38 para comprar um euro. Meses atrás, a moeda única da Europa chegou ao máximo de US$ 1,60.

Uma das minhas maiores preocupações diante dessa crise é se nosso governo bloquear as cadernetas de poupanças, como fez o Collor no passado. Há essa possibilidade? Ariane Tavares / Alvorada

Essa possibilidade não é considerada, porque não há essa necessidade. A inflação está controlada, é preciso manter dinheiro circulando, e a credibilidade da política econômica seria brutalmente afetada.

Trabalho em um restaurante e temos um movimento de clientes considerável, assim como as despesas. É possível que as despesas aumentem e o movimento diminua? Alexandre Henrique Maximiano/ Porto Alegre

A expectativa é de que a crise provoque uma desaceleração no crescimento na economia. Com isso, o consumo, em geral, tende a cair.

Fonte: Fontes: Marcelo Portugal, professor de economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), André Scherer, economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE) e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Estado, Ricardo Araújo, professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e Henrique Campos, diretor de auditoria da BDO Trevisan, e Luiz Montenegro, presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef).

Tenho aplicações em CDB no Banco do Brasil. Quais os riscos de o banco falir? André Luiz Ramos/ Canoas

Não há indicativo de que isso possa ocorrer. Mesmo que a crise se acirrasse, o Banco do Brasil, por ser público, resistiria mais do que outras instituições. Os bancos brasileiros não fizeram grandes negociações envolvendo títulos podres, cuja origem foram hipotecas norte-americanas, por isso estão suportando bem a crise. Mas algumas instituições financeiras internacionais com operações no Brasil podem ter escassez de recursos para emprestar, à medida que têm de enviar dinheiro ao Exterior, para cobrir perdas geradas nos Estados Unidos ou na Europa. Além disso, o CDB, como outras aplicações de renda fixa, é uma opção segura para o atual momento, diz Fernando Ferrari Filho, economista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Nosso município, por estar situado na fronteira com o Uruguai, sempre sofre com a questão cambial. Em alguns momentos, o câmbio fortalece a parte comercial. Em outros, desfavorece. Evidente que para nossa região o ideal é termos um real fraco em relação à moeda uruguaia (pesos), pois desta forma atraímos consumidores do país vizinho. O que necessariamente precisaria ocorrer para que a moeda uruguaia venha a se valorizar diante do real neste momento? Jefferson Lacerda/Quaraí

Nos últimos dias, o peso uruguaio já se valorizou em relação ao real, o que significa que, ante ao dólar, se desvalorizou menos do que a moeda brasileira. Em 14 de setembro, um dia antes da quebra do banco Lehman Brothers, os uruguaios precisavam de 11,53 pesos para comprar um real. Na última quinta-feira, já era menos: 10,76 pesos. O economista Fernando Ferrari Filho, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, explica que isso tende a ocorrer porque a moeda do Uruguai oscila menos, uma vez que a economia do país vizinho é menor e tem menos conexão com o mercado financeiro internacional. Uma turbulência maior no mundo poderia desvalorizar ainda mais o real, mas isso não necessariamente seria bom para a Fronteira, uma vez que ocasionaria desaceleração da economia dos dois países.

No nosso município e região vive-se da agricultura, ou seja pequenos produtores de soja, milho e trigo. Os agricultores estão rolando as dívidas de financiamentos em bancos há anos. Quando vão efetuar o plantio, o custo da semente e insumos é altíssimo, e não tem previsão do preço que venderão seus produtos. Minha preocupação é se ainda pode piorar... Qual a saída para não sermos surpreendidos (quebrar de vez)? Marilei Federizzi/Coronel Bicaco

Infelizmente, a situação para a agricultura pode piorar. Desde o início da crise, já se registra aumento de custos para médias e grandes propriedades, com a alta de juros e escassez de financiamentos. As pequenas escapam um pouco disso por terem mais acesso ao crédito oficial, com taxas já definidas. Ainda assim, devem sofrer da mesma maneira com a tendência de baixa nos preços de produtos agrícolas, seja por desaceleração da economia e da demanda mundial ou saída de especuladores dos mercados de commodities agrícolas (na Bolsa de Chicago, a soja bateu na casa dos US$ 9 o bushel nos últimos dias, após 10 meses operando acima desse valor). Para conter mais perdas, a saída é controle total de gastos e evitar investimentos não essenciais no atual momento, recomenda o economista Argemiro Brum, da Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul (Unijuí).

E para os imóveis, qual a tendência? Wilson Litter/Fátima do Sul (MS)

Os preços do mercado imobiliário estão bastante relacionados à disponibilidade de crédito. Se a instabilidade persistir, e o dinheiro para financiamento rarear, como ocorre no atual momento, deve haver queda de preços. O mesmo se dará se os índices de desemprego crescerem, o que é uma possibilidade. Ou seja, os preços dos imóveis oscilarão de acordo com a própria economia. No entanto, não é esperado estouro de uma bolha imobiliária, como nos Estados Unidos, porque aqui já há mais controle sobre os financiamentos habitacionais (o descontrole nos Estados Unidos levou a explosão de compras e alta inadimplência, ocasionando a atual crise). O consultor Durval Pedroso se diz otimista e espera que haja estabilidade de preços no Brasil.

Comprei um apartamento na planta e, em março de 2009, precisarei de um financiamento bancário. Hoje a taxa gira em torno de 12%. Se subir demais, talvez eu não consiga pagar as parcelas. Há algo que eu possa fazer desde já? Daniela Silveri, de São Paulo

Existe a possibilidade de contratar esse financiamento agora, mas seria necessário mudar as condições contratuais. Como o financiamento só será contratado em março de 2009, pode ser que a situação já esteja mais calma. Então, qualquer coisa feita no momento é arriscada. E não há garantias de que será melhor do que a condição já assegurada na planta. É preciso ter cautela e procurar economizar para poder fazer frente a eventuais despesas extras com taxas de juros e outras.

Como corretor de imóveis, posso indicar a compra de terreno como um investimento sólido e seguro, neste momento, aos meus clientes? Walmir Ayrton Nunes, de Atlântida Sul, Osório

Sim. Terreno é, por excelência, um bem classificado como reserva de valor. Ou seja, nunca renderá muito, em condições normais, porém, nunca perderá o seu valor. Em momentos de instabilidade pode ser um refúgio seguro.

Se eu quiser comprar uma geladeira, por exemplo, vai ficar mais difícil? Paulo Velho, de Porto Alegre

O preço da geladeira não deve mudar, exceto se o dólar continuar se valorizando frente ao real. Se a compra for a prazo, a prestação vai ficar mais cara com um prazo mais curto e de um juro mais caro. Não há diferença se a compra for à vista.

Pretendíamos trocar de carro no final deste ano, mas dependemos de financiamento para a metade. Devemos aguardar até o ano que vem, ou seria melhor já assinar o contrato? Há uma tendência de aumento da taxa de juros. É melhor fazer agora o financiamento ou aguardar? Mônica Giesteira, Porto Alegre

Se não há necessidade imediata, melhor aguardar até diminuir a tensão no mercado financeiro, recomenda Miguel Oliveira, da Anefac. A tendência é de que os juros caiam nos próximos meses, quando houver menos incerteza sobre a extensão da crise. Além disso, acredita Oliveira, se a procura arrefecer, a tendência é de que as empresas voltem às promoções, para estancar a queda nas vendas.

Gostaria de saber se existe risco de o Banco Central “seqüestrar” os investimentos em poupança e capitalização dos correntistas brasileiros. Também gostaria de saber se quem fez plano para a casa própria com parcelas fixas corre o risco de sofrer reajustes. Evandro Luiz, Santa Maria

Não existe a menor necessidade de o Banco Central tomar qualquer medida desse tipo, afirma o economista Paulo Rabello de Castro, da agência brasileira de classificação de risco de crédito SR Rating. Castro observa que temores desse tipo nascem de pecados cometidos pelos governos do país no passado. Em relação aos contratos habitacionais, Adilsson Machado, presidente da Associação dos Mutuários e Moradores das Regiões Sul e Sudeste do Brasil, afirma que, se as parcelas são fixas, não devem sofrer qualquer reajuste. É comum que os planos de financiamento contemplem modalidades como uma parcela fixa acrescida da variação de um indexador, como os índices de inflação.

Fonte: Ana Maria Castelo, economista e consultora da FGV Projetos, Gilberto Braga, professor de finanças do Instituto Brasileiro de Mercado e de Capitais (Ibmec), Claudio Felisoni, coordenador do Programa de Administração de Varejo e diretor-presidente da Fundação Instituto de Administração (FIA).

Moro em Buenos Aires e preciso sempre trocar meu dinheiro por peso. Então gostaria de saber por que a moeda da Argentina não está se desvalorizando tanto quanto o real. Jail Coelho De Almeida

Realmente, no dia 15 de setembro, a partir de quando a crise se tornou mais aguda, eram precisos R$ 0,59 para comprar um peso. Na sexta-feira, o câmbio era feito a R$ 0,67. Para quem precisa trocar reais por peso, a relação piorou. O real se desvalorizou mais ante o dólar, porque nos últimos anos o Brasil recebeu muitos investimentos estrangeiros. Com a economia mais aberta, o país foi afetado pela retirada dos investidores, em busca de alternativas mais seguras ou para repor perdas nos Estados Unidos.

Além disso, exportadores brasileiros eram financiados por bancos estrangeiros, e essas linhas reduziram. Com menos investimentos externos, a Argentina sentiu menos. Mas continua tendo o peso menos valorizado em relação ao dólar do que o real. É difícil projetar o câmbio para futuro, mas poucos esperam que o real volte a valer tanto ante o dólar (e o peso) como antes do início da crise.

Até que ponto a crise pode afetar preços dos eletroeletrônicos? Juliano Frederes Hoff

Já está afetando, em decorrência do alto percentual de componentes importados que esses produtos têm. Pesquisa da consultoria IT Data apontou alta de até 20% em computadores e componentes de informática.

Fonte: economistas Marcelo Portugal e Antonio Fraquelli


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