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 | 17/09/2008 03h08min

Saiba o que fazer para enfrentar a crise das bolsas

Zero Hora ouviu especialistas no assunto

Como a quebra de um grande banco de investimento nos Estados Unidos que nem tem agência no Brasil afeta o consumidor em Porto Alegre? A crise financeira que devastou as bolsas de valores em todo o mundo no início da semana pode incentivar novas altas de juro pelo Banco Central (BC) brasileiro, aumentar o preço de produtos e ainda apertar o crédito de quem pretende financiar seu primeiro imóvel e o carro novo?

Para responder a dúvidas nesse sentido Zero Hora ouviu especialistas no assunto, corretores de ações, economistas de bancos e professores.

Nesses momentos, o planejamento financeiro se torna ainda mais relevante. O planejamento deve ser elaborado, em geral, com base em três situações distintas. Ou seja, deve contemplar três cenários diferentes. A primeira para o caso de der tudo certo, outra se ficar dentro do possível e por fim para a situação em que dá tudo errado. É preciso ter sempre um plano B à disposição.

Mesmo que o Brasil tenha condições de suportar a sacudida nos mercados globais, acabará afetado indiretamente, seja que retração de compradores de nossos produtos no Exterior e até o arrocho na oferta de crédito para expandir negócios no país. Isso chega ao dia-a-dia na forma de aumento de preços e encolhimento nas oportunidades de emprego.

Ontem, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e os pregões em Nova York deram um refresco, fechando com índices positivos. No entanto, reconhecem especialistas, o mercado está muito instável. O resultado de um dia pode não se repetir no outro. Manter posições é a ordem do dia.

Aplicações em ações

Quem tem aplicação em ações faz o quê?

Quem entrou na bolsa sob o efeito manada, querendo aproveitar-se da momentânea alta do mercado acionário, mas tem previsão para utilizar os recursos, deve sair imediatamente, sob risco de perder ainda mais.

Quem aplicou com visão de longo prazo, apostando no desempenho das empresas e nos fundamentos econômicos do país, não deve mexer no dinheiro, pois a tendência é de recuperação.

Mas necessariamente terá de esperar mais tempo do que o projetado no momento da aplicação para obter o retorno desejado.

Isso também vale para os pequenos investidores, que operam por meio do home broker (via internet)?

Vale para qualquer investidor. Mas a estratégia dos investidores de maior porte pode mudar conforme o grau de exposição e a diversificação dos ativos. Ou seja, pode fazer um remanejamento de recursos de um ação para outra e até mesmo de um ativo para outro como forma de reduzir os riscos do mercado.

Quem está fora do mercado de ações pode entrar agora ou é melhor esperar um pouco?

É difícil afirmar se este é o melhor momento para entrar ou esperar um pouco mais. A verdade é que os papéis caíram bastante nos últimos meses, dando boas oportunidades de compra, principalmente aqueles títulos de grande liquidez. Comprar agora é apenas para quem é do ramo e, mesmo assim, com assessoria, pois a crise financeira pode piorar.

Como avaliar se uma ação está barata ou cara no mercado?

Por meio da projeção dos resultados financeiros futuros da empresa. Ou seja, por meio de uma análise do desempenho econômico de longo prazo, na qual a perspectiva de ganho leva em conta os resultados financeiros obtidos, no mínimo, nos cinco próximos anos. Isso significa avaliar o valor real e quanto cada papel perdeu (ou ganhou) em determinado período.

Quem tem previsão de utilizar agora os recursos investidos em ações deve fazer o quê?

Quem prevê usar o dinheiro em breve, é indicado vender as ações antes que se desvalorizem e quem está fora do mercado acionário deve buscar alternativas de renda fixa, como os certificados de depósito bancário, títulos do governo e caderneta de poupança.

A reação de ontem do mercado acionário é consistente?

A recuperação da bolsa não representa necessariamente mudança de tendência. O volume financeiro, acima de R$ 6 bilhões, revela que houve uma grande demanda de compradores. A sustentação da alta depende de maior participação do capital estrangeiro, que, em situação normal, contribui com cerca de um terço do giro total.

Outros investimentos

Quais os ativos de renda fixa mais promissores no momento?

Quem dispõe de recursos para investir agora deve evitar renda variável, como ações e dólar, e buscar ativos de renda fixa, que tendem a evoluir de maneira equilibrada, pois suas remunerações são fixadas conforme a Selic, atualmente está em 13,75% ao ano.

As estimativas ainda são de elevação da Selic como estratégia do governo de proteger a economia brasileira da crise financeira norte-americana e da pressão inflacionária.

A caderneta de poupança poderá ser afetada pela crise?

Não deverá ser prejudicada. Ao contrário, a poupança deve atrair recursos de outras modalidades como ocorre sempre em momentos de instabilidade no mercado financeiro. A migração de recursos se dará principalmente de cotistas fundos de ações e clubes de investimento.

Adquirir moedas estrangeiras é uma opção segura?

São operações arriscadas aos pequenos e médios investidores, que geralmente vão para esse mercado no momento em que as cotações já subiram em demasia. A investidores de maior porte é recomendado colocar uma parte em moedas estrangeiras como estratégia de diversificação, assim como também aplicar parte desse capital em produtos de renda fixa e na própria bolsa.

Ouro é uma opção?

Esse tipo de investimento, que está bastante concentrado em grandes investidores, como forma de diversificação de portfólios. Quem aplicou nos últimos anos obteve bom retorno, porque a cotação do ouro acompanhou a evolução das demais commodites, especialmente do petróleo, que vem despencado nas últimas sessões.

Quem tem viagem marcada para o Exterior deve comprar logo as moedas necessárias?

Vai depender de quando será a viagem. Se for mais adiante, dá para esperar um pouco, principalmente se for comprar dólares. Quem tem viagem para daqui um ou dois meses já deveria ter aproveitado o período de baixa no câmbio. Que costuma viajar regularmente ao Exterior precisa criar o hábito de ir comprando moedas estrangeiras sempre que puder, reduzindo o ritmo em caso de alta.

Qual é a melhor estratégia ao usar o cartão de crédito internacional?

Os gastos em dólares no cartão de crédito podem trazer algum benefício, mas em euros podem surpreender na hora do pagamento. Neste momento, o ideal é levar dinheiro do país de destino, mas só utilizá-lo se a crise continuar inflando as cotações. Se constatar um recuo no câmbio, o melhor é utilizar o cartão de crédito, trazendo de volta ao país os recursos em moeda corrente.

Fontes: consultor financeiro Augusto Sabóia e Zulmir Tres, diretor da Sparta Assessoria de Investimentos

Bancos e crédito

A quebra de um banco no Exterior pode afetar bancos brasileiros?

No entender de especialistas, os bancos em dificuldade nos EUA são instituições de investimentos com pouca ou nenhuma relação com o Brasil. “Não há nenhuma dependência deles”, diz Luis Carlos Ewald, professor de Finanças da FGV-Rio.

O crédito interno vai encolher?

Os bancos terão menor capacidade para emprestar e é possível que haja uma restrição na oferta de crédito para consumo no Brasil. O crédito tem crescido 30% ao ano e um corte na oferta de dinheiro para consumo se somaria ao esforço do Banco Central (BC) em conter a demanda doméstica, que tem contribuído para elevar a inflação.

Há riscos de contaminação de outros setores da economia?

A redução na atividade de exportação pode contaminar todos os segmentos da economia. Pode ficar mais complicado captar crédito no Exterior, e “muito do crescimento brasileiro está lastreado no crédito”, diz William Eid Júnior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas em São Paulo.

O BC pode apertar o controle sobre os bancos brasileiros?

O BC vem verificando há quatro meses eventuais riscos de liquidez e critérios para a concessão de empréstimos. Em casos em que a cobertura para riscos foi considerada insuficiente, os bancos tiveram de ampliar o volume de capital próprio para a garantia das operações.

Isso aumenta as garantias ou dificulta a vida de correntistas?

Como resultado, os bancos reforçaram os critérios para a concessão de empréstimos. Algumas linhas de financiamento voltadas para empresas de médio porte tiveram seus prazos reduzidos de 180, em média, para no máximo 90 dias.

No segmento de pessoa física, o mercado encurtou os prazos de financiamentos de bens como veículos e abandonou as metas de crescimento mais rápido do crédito consignado, cujos juros máximos são tabelados.

Consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o economista Júlio Gomes de Almeida disse que o BC comete um erro ao exigir dos bancos mais rigor na concessão de créditos neste momento. Segundo ele, desde o início da crise das hipotecas nos EUA, em agosto de 2007, as empresas brasileiras têm enfrentado dificuldades em tomar recursos no mercado externo. E desde julho, com o recrudescimento da crise, as fontes externas praticamente secaram.

Há alguma garantia para o correntista brasileiro em caso de falência de algum banco?

O Fundo Garantidor de Crédito (FGC), alimentado pelos bancos, garante até R$ 60 mil por CPF de correntista em caso de quebra da instituição financeira, dependendo da aplicação.

Economia brasileira

As empresas brasileiras vão continuar investindo?

Sim. Mais 15 milhões de pessoas entraram no mercado consumidor nos últimos meses. Os investimentos já feitos não terão marcha à ré. Para 2009, com o encarecimento do crédito, pode haver mudança nesse cenário. Por conta disso, o crescimento de 14% para este ano cairá para 8,5% em 2009. A elevação da taxa básica de juro (Selic) também prejudica novos investimentos.

A previsão de crescimento da economia brasileira continua?

Para este ano, não deve haver tempo para desaceleração, se isso ocorrer. O crescimento projetado do PIB pouco acima de 5% é mantido por analistas. A retração, se for percebida neste ano, pode vir pelo recuo do mercado internacional. Haverá uma certa compensação porque “a economia brasileira vem crescendo por um empuxo doméstico”, segundo o professor Leandro de Lemos, coordenador departamento de Economia da PUCRS. Para 2009, o crescimento esperado fica entre 3,5% e 4%, voltando o PIB a se expandir acima disso em 2010, avalia Octavio de Barros, diretor de Pesquisas Macroeconômicas do Bradesco.

Como ficam os exportadores?

Pode-se esperar redução nas vendas externas em razão do encolhimento do mercado comprador. Mas a valorização do dólar deve compensar essa redução. A preocupação, portanto, deixa de ser o câmbio e passa a ser a demanda externa. Para o professor Lemos, da PUCRS, “o dólar valorizado em princípio significaria uma coisa boa, porque exportadores receberiam mais, mas acaba sendo um jogo de soma zero, porque reduz o volume exportado.”

A fuga de investidores estrangeiros do Brasil afeta a economia de que maneira?

Octavio de Barros, diretor de pesquisas macroeconômicas do Bradesco, diz que, depois de passada a crise, “o Brasil seguirá na pole-position como alternativa de investimento.” Na avaliação de Lemos, “inicialmente, impacta as finanças públicas federais, que têm de usar as reservas cambiais para segurar o dólar.” Como conseqüência, poderia aumentar a taxa básica de juro para evitar a fuga de capitais.

A redução das reservas afeta a economia de que maneira?

Se o governo utiliza muito as reservas cambiais, a vulnerabilidade ao capital especulativo aumenta muito, tanto que o risco país disparou 28,8%, para 340 pontos, de sexta-feira para ontem. Também nessa situação o governo se viria obrigado a aumentar a taxa de juros.

De que forma a alta do dólar afeta a economia brasileira?

A alta do dólar impacta de forma negativa, porque encarece os produtos importados, pressionandos custos. A contaminação pode gerar inflação.

Fontes: William Eid Júnior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo, Luís Carlos Ewald, professor de Finanças da FGV no Rio, Constantin Jancso, estrategista do Banco Santander, professor Leandro de Lemos, coordenador do departamento de Economia da PUCRS, e Octavio de Barros, diretor de pesquisas macroeconômicas do Bradesco.

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