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 | 16/09/2008 04h00min

Bloqueios causam falta de combustível na Bolívia

Agricultores e operários formam filas de quarteirões para comprar gás de cozinha

Humberto Trezzi  |  humberto.trezzi@zerohora.com.br

Quem se aventura a rodar pelo interior da Bolívia se arrisca a ter de abandonar o carro. É que está faltando gasolina, algo surrealista num país exportador de petróleo.

A culpa é dos bloqueios feitos por esquerdistas e direitistas nas estradas, que impedem caminhões carregados de combustível de chegar às principais cidades bolivianas. Zero Hora enfrentou mais de uma hora de fila num posto a 60 quilômetros de Santa Cruz de La Sierra, na espera pela vez de encher o tanque.

Os agrupamentos direitistas liderados pela Unión Juvenil Cruceñista (UJC) removeram suas barricadas no departamento de Santa Cruz, num “gesto de boa vontade para com o esforço de paz coletiva”, como anunciou o líder dessa agremiação, Blanco Marcovic. Mas, na região do Chaco, em Tarija, as barricadas direitistas permanecem.

Já os esquerdistas, aliados do presidente Evo Morales, mantêm bloqueios de estrada em todos os cinco Departamentos (Estados) cujos governantes se opõem ao presidente. É o caso de Santa Cruz, que está virtualmente isolada do mundo.

Ao sul, o bloqueio acontece em Chipacaie. Ao norte, em Yapacaí, numa ponte sobre o rio Apiay, próximo à divisa com o departamento de Cochabamba.


Ouça comentário de Ricardo Seitenfus, professor da UFSM e 
vice-presidente da comissão jurídica interamericana da Organização
dos Estados Americanos sobre a crise na Bolívia

Nos dois locais o bloqueio é feito por militantes do Movimento Ao Socialismo (MAS) e o MST (Movimento de los Indígenas Sin Terra), similar ao brasileiro. Índios quíchuas, guaranis e aimarás, os esquerdistas são em grande parte plantadores de coca e, ao conversarem com ZH, portavam arcos, flechas e tacapes.

Um dos líderes dos esquerdistas afirmou que eles pretendem marchar sobre Santa Cruz com 25 mil pessoas, na próxima semana.

Isolada por terra, Santa Cruz só tem saída via aérea. E também de forma intermitente. As empresas American Airlines e TAM Mercosur suspenderam os vôos para a cidade, por tempo indeterminado.

Cada um tem seu vilão para a crise

Para quem mora no departamento, os tempos são difíceis. Se para os donos de automóveis está ruim, muito pior para a empobrecida massa de agricultores e operários bolivianos. Eles formam filas de quarteirões para comprar gás de cozinha.

Cada família pode comprar um botijão por semana, e o controle é rígido: o comprador é marcado com tinta vermelha no braço e deixa nome na distribuidora. Burocracia que causa filas ainda maiores.

Cada um tem seu vilão preferido na crise. Para o índio quíchua Juan Carlos Choque, que estava na cidade de Yapacani, “isso é coisa de empresários contrabandistas”. Para José Luiz Perera, comerciante em Santa Cruz de La Sierra, “é culpa do Evo e dos comunistas”.

 Humberto Trezzi / 

Em um país rico em gás, agricultores e operários empobrecidos estão tendo de enfrentar longas filas e racionamento para conseguir comprar um botijão
Foto:  Humberto Trezzi


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