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 | 12/09/2008 04h09min

Protestos convulsionam Bolívia

Desde o início da semana, 10 repartições do governo boliviano foram tomadas e depredadas por manifestantes contrários ao presidente Evo Morales

Humberto Trezzi  |  humberto.trezzi@zerohora.com.br

Pátria financeira e núcleo duro do empresariado gerador da maioria dos empregos na Bolívia, Santa Cruz de La Sierra, distante 200 quilômetros do Brasil, está mergulhada no caos.

Desde segunda-feira, 10 repartições do governo boliviano foram tomadas e depredadas por manifestantes contrários ao presidente Evo Morales, que lutam por maior autonomia dos departamentos em relação ao governo central. Eles também exigem a volta da participação do departamento no Imposto sobre Hidrocarbonetos — os recursos estão sendo usados pelo governo federal para o pagamento de um benefício aos idosos.

O descontrole começa no Aeroporto Viro Viro, o único da cidade. Os visitantes que chegam têm de caminhar, se quiserem pegar um carro particular, porque manifestantes contrários ao governo Morales bloquearam a alfândega e o acesso ao aeroporto.

Na tarde de ontem, multidões de forasteiros despejadas pelos aviões — incluindo aí idosos e até freiras — tiveram de mexer as pernas por um percurso de 2,5 quilômetros, rebocando malas e carregando valises. Dependendo do humor dos militantes oposicionistas, táxis são liberados para buscar passageiros.

Mas automóveis e ônibus, não. Os guardas aduaneiros que não aderiram ao movimento foram expulsos. Ninguém revista os carros, mas os manifestantes os impedem de prosseguir.

— Vamos permanecer aqui por tempo indeterminado. O governo federal cortou nossos impostos, vamos atrapalhá-los — resume um dos líderes dos piqueteiros do aeroporto, Mario Morales (“Cuida aí que não tenho nenhum parentesco com aquele que se diz presidente”, alerta o sindicalista).

O próprio aeroporto está mergulhado em confusão. Ali está impossível fazer ou receber telefonemas do Brasil — os manifestantes sabotaram antenas de celular.

Mesmo ligações convencionais não são concluídas. Isso é uma hecatombe, para uma cidade com 1,5 milhão de habitantes (sim, você leu direito, tem o tamanho de Porto Alegre!) situada longe de todas as outras localidades importantes do país e também longe das principais metrópoles brasileiras.

Ainda na tarde de ontem, grupos de sindicalistas e estudantes se apoderaram da Superintendência Florestal (ligada ao Ministério da Agricultura) e do Impuestos Nacionales, a Receita Federal boliviana.

Com isso, as pessoas que desejavam pagar impostos pessoalmente — declarações via internet são raras na Bolívia – não puderam saldar seu compromisso. A intenção dos oposicionistas, ao tomar esse prédio, foi clara: cortar o acesso do governo Evo Morales ao fluxo de arrecadação da província mais rica do país.

Feiras de vestuário fecham portas, com medo de saques. A prefeitura também não realiza expediente externo. Impossível fazer queixas no balcão, porque não se tem acesso ao balcão, nem há ninguém no balcão.

O resultado é que buracos começam a proliferar no asfalto da bonita capital do dinheiro boliviano — sim, Santa Cruz é limpa e organizada, contrastando com a balbúrdia de outras cidades bolivianas situadas nos Andes.

O dia de ontem em Santa Cruz foi calmo, se comparado com o quebra-quebra do início da semana. À noite, porém, pelo menos dois confrontos voltaram a sacudir a cidade. Assim como Morales, os oposicionistas prometem não ceder. Prometem tomar a companhia de abastecimento local. Santa Cruz, que já arde sob sol inclemente em pleno inverno, veria de vez o que é sofrimento.

Humberto Trezzi / 

Santa Cruz de La Sierra, distante 200 quilômetros do Brasil, está mergulhada no caos
Foto:  Humberto Trezzi


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