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 | 23/06/2008 17h02min

FMI pede que governos latino-americanos evitem dar aumentos salariais

Chefe da entidade não dará o exemplo reduzindo os próprios ganhos

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, destacou nesta segunda-feira a inflação como o principal problema a ser enfrentado na América Latina e recomendou aos governos que resistam a dar reajustes salariais que fortalecem o aumento de preços. Após anos de êxito no combate contra a inflação, o aumento atual, influenciado por petróleo e alimentos com preços muito altos, representa a primeira prova real para os bancos centrais latino-americanos, diz o chefe do FMI.

Em uma entrevista antes de sua partida para o México, onde participará amanhã de uma conferência econômica, Strauss-Kahn indicou os salários como a chave para garantir que a credibilidade das autoridades monetárias não voe pelos ares.

— O canal entre o presente e o futuro para a inflação é a questão dos efeitos de segunda rodada — declarou Strauss-Kahn, que os resumiu nos "aumentos de salários que se seguem aos aumentos de preços".

O FMI teme que o nível atual de inflação se incorpore à negociação dos contratos, começando com os dos funcionários públicos, que contam com os sindicatos mais poderosos e freqüentemente marcam a pauta para o resto. Isso solidificaria a inflação em níveis muito superiores às margens de comodidade dos bancos centrais.

— Existe uma crise atual que não é difícil de enfrentar, mas, da forma que foi feito, é necessário evitar conseqüências no futuro — declarou Strauss-Kahn.

Seguir a recomendação do FMI significa uma perda de poder aquisitivo dos trabalhadores a curto prazo, mas a entidade diz acreditar que é o preço a ser pago pela sociedade para impedir o renascimento da inflação. Entretanto, Strauss-Kahn não dará o exemplo, pois seu salário, livre de impostos, está vinculado à inflação da região de Washington.

Nenhum se salva

Na América Latina, nenhum país se salva dos aumentos de preços. No Peru, por exemplo, a inflação ronda cerca de 5% por ano, frente à meta oficial de 2%. No Chile, supera 8%, em comparação com a meta de 2% a 4%, e no Uruguai se aproxima de 10%, frente ao objetivo de 4% a 6%. A todos esses supera a Venezuela, onde a inflação alcançará 25,7% este ano, segundo cálculos do FMI.

O incentivo principal aos aumentos é o preço do petróleo. Em junho do ano passado, o barril do Petróleo Intermediário do Texas (WTI, leve), de referência nos Estados Unidos, rondava os US$ 70, um valor considerado muito alto então, mas que empalidece frente à cotação de quase US$ 135 de hoje. Considerando que o mundo não conta com muita capacidade ociosa de bombeamento, o período da energia cara será longo, de acordo com Strauss-Kahn.

Alimentos

O outro motor da inflação são os alimentos. O milho, por exemplo, aumentou 140% nos últimos quatro anos, até alcançar US$ 281 por tonelada no mercado de Chicago. Além disso, subiram outros tipos de produtos, desde bebidas até a carne. Apesar de esses aumentos terem provocado grande descontentamento popular em alguns países, Strauss-Kahn recomendou aos governos que não caiam na tentação de outorgar subsídios generalizados a certos alimentos, como fizeram Haiti e República Dominicana, por exemplo.

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Ao invés disso, aconselhou transferir renda para as famílias mais pobres, para as quais o aumento do preço dos alimentos básicos é uma tragédia. Strauss-Kahn seguirá falando de inflação amanhã, quando participará em Cancún (México) do Primeiro Encontro de Ministros de Fazenda da América e do Caribe, no qual é esperada a presença de 26 ministros e representantes de entidades internacionais.

EFE
 
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