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 | 06/06/2008 05h36min

Delson Martini pode pedir demissão hoje

Deputados aliados da governadora consideram insustentável a permanência do secretário-geral de Governo

Marciele Brum  |  marciele.brum@zerohora.com.br

Se o futuro do secretário-geral de Governo, Delson Martini, depender da pressão dos aliados, ele deixará o cargo hoje. O secretário se reuniu com a governadora Yeda Crusius depois das 18h. Extra-oficialmente, integrantes do governo reconheceram que a decisão de exonerar Martini está tomada, faltando apenas definir o momento do anúncio.

Desde quarta-feira, quando a CPI do Detran divulgou escutas telefônicas entre os principais envolvidos na fraude na autarquia que citam o nome de Martini, o clima é de constrangimento na Assembléia Legislativa e no Palácio Piratini.

Quatro meses após assumir a pasta, a permanência do secretário é considerada insustentável entre integrantes da cúpula do Executivo.

— A situação é muito difícil, mas vamos enfrentar. É uma decisão dele e da governadora Yeda Crusius — afirmou o secretário de Infra-estrutura e Logística, Daniel Andrade, que preferiu não comentar o caso.

Apesar de Yeda não ter fechado questão sobre a demissão de Martini nas reuniões ocorridas ao longo do dia de ontem, a avaliação de interlocutores da governadora era de que a saída dele é inevitável.

Após dois encontros com Yeda, a presidente estadual do PSDB, Zilá Breitenbach, confirmou que passou o dia ontem consultando os tucanos sobre o destino de Martini. Ela afirmou que hoje deve haver uma definição. Indagada se o partido tomaria uma posição, respondeu que o secretário deve se antecipar e se manifestar antes:

— Aguarda até amanhã (hoje).

Na Assembléia, a base aliada cobrou a saída do secretário. Questionado se havia alas no Piratini a favor ou contra a manutenção de Martini no primeiro escalão, o líder da bancada do PMDB, Alexandre Postal, respondeu:

— Alas? Delson já é ex-secretário.

O deputado estadual Cassiá Carpes (PTB) exigia a saída do secretário-geral de Governo.

— Isso traz um desgaste muito grande ao governo. A governadora tem de começar a mudar seus secretários para dar uma mostra de seriedade para a sociedade - afirmou Cassiá.

Relator da CPI sugere esperar depoimento de secretário

Uma das vozes isoladas ontem era a do relator da CPI do Detran, Adilson Troca (PSDB). Depois de assinar o requerimento em favor da convocação de Martini pela comissão, o tucano defendeu a permanência dele no secretariado:

— Delson deve vir à CPI como secretário para ter a chance de se defender. Ele deve tentar convencer e mostrar que não tem nada com isso. Tu não podes punir a pessoa duas vezes. Se ele não conseguir se explicar, deve sair.

Ofício de reitor cita Ferst como "interlocutor"

Um documento com data 25 de julho de 2005 assinado pelo ex-reitor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Paulo Jorge Sarkis e apreendido pela Polícia Federal (PF) menciona o consultor e lobista Lair Ferst como "interlocutor" da Secretaria da Justiça e da Segurança. O papel, exibido na sessão de ontem da CPI do Detran pela deputada Stela Farias (PT), foi apreendido em novembro do ano passado no escritório da NT Pereira, uma das subcontratadas no esquema do Detran.

No ofício, destinado ao então titular da secretaria, José Otávio Germano, Sarkis afirma que o programa Trabalhando pela Vida!, da Fundação de Apoio à Tecnologia e Ciência (Fatec), vinculada à UFSM, recebeu visita de representantes da pasta, incluindo o "interlocutor da Secretaria, Sr. Lair Ferst". Para Stela, o documento prova que Ferst se apresentava em nome do governo.

Ontem, prestaram depoimento Rosmari Greff da Silveira, ex-secretária executiva da Comissão Permanente de Vestibular (Coperves) da UFSM, que se recusou a responder a perguntas, e Alexandre Barrios, advogado que deu parecer favorável à dispensa de licitação para contratação da Fatec em 2003.

"Não posso engavetar as demandas"

Gravado pela Polícia Federal numa conversa com o lobista Lair Ferst, o chefe do escritório do governo gaúcho em Brasília, Marcelo Cavalcante, explicou ontem o teor da conversa. Ele afirmou ter agendado junto à Secretaria da Fazenda reunião para uma empresa apresentar um software. No diálogo, Ferst faz perguntas sobre a reunião.A seguir, a síntese da entrevista por telefone a Zero Hora:

Zero Hora — Em uma escuta, o senhor e Lair Ferst conversam sobre uma reunião na Fazenda. Que encontro era esse?

Marcelo Cavalcante — Como representante do governo, encaminhei pedido da Microsoft de apresentação de um programa para a Fazenda. Fiz a solicitação para apresentação da proposta. É uma das minhas atribuições. Não posso engavetar as demandas de todas as instâncias. Nem sabia que tinha ocorrido uma segunda reunião. A Fazenda disse à empresa que a Procergs já atende ao que foi oferecido.

ZH — Qual era o interesse de Ferst na reunião?

Cavalcante — Lair me procurou perguntando se haveria uma reunião na Fazenda. Não sei se ele tinha contato com o pessoal da Microsoft. Desconheço o interesse dele. No final da conversa, eu disse: se for o melhor projeto para o Estado, o Estado vai encaminhar. Mas tem de ficar claro que não há nada dado para ninguém.

Adriana Franciosi / 

Delson Martini afirma que não tem responsabilidade pelo fato de ser citado em gravações telefônicas
Foto:  Adriana Franciosi


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