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 | 02/06/2008 23h31min

Especial: trabalho de pesquisadores pode diminuir perdas na produção de maçã no Sul do Brasil

Série de reportagens do Canal Rural discute os efeitos das mudanças climáticas na agricultura

Cristiano Dalcin  |  reportagem@canalrural.com.br

O frio é quem aciona o relógio biológico das macieiras, fazendo a planta iniciar seu ciclo de desenvolvimento. Como as temperaturas baixas são fundamentais desde o primeiro broto até a queda da folhas, a ameaça do aquecimento global deixou em alerta os produtores brasileiros, que temem que esta nova realidade afete a produção nacional.

– O clima afeta tanto o volume que você produz por hectare quanto a qualidade do fruto que você produz. A gente não deve esquecer que os mercados estão cada vez mais exigentes – relata o vice-presidente da Associação Brasileira de Produtores de Maçã, Laor da Silva Alves.

A safra 2008 deve chegar a 850 mil toneladas no país, sendo que pelo menos 90 mil toneladas vão para o Exterior. De acordo com a associação dos produtores, o número é 15% menor que no ano passado e a culpa por essa redução na produtividade é atribuída à instabilidade climática.

Mutação genética espontânea

Uma propriedade na região norte de Santa Catarina teve papel importante para ajudar a mudar este quadro. Seu proprietário, Jânio Seccon, descobriu no pomar um galho de macieira que floresceu antes de todos os outros. Ele marcou o local para observação e, no ano seguinte, o desenvolvimento precoce se repetiu. Trata-se de uma mutação genética espontânea, segundo os especialistas.

– É um produto que surgiu graças ao acaso, graças aos efeitos da natureza. Esse tipo de mutação é muito, muito raro, e se conseguir um material adequado para as condições locais, tanto em frutas como em qualquer produto agrícola, através de mutação é muito difícil, é muito raro. É um caso muito feliz, uma oportunidade excepcional, que pode acontecer uma vez na vida – afirma o engenheiro agrônomo Frederico Denardi.

Seccon aproveitou bem a oportunidade. Com um único ramo, partiu para a multiplicação através da enxertia.

– Consegui fazer nove mudas, e a partir do terceiro ano fiz mais algumas mudas, chegando a trinta – afirma.

As plantas começaram a produzir em 2003. Um ano depois, com a ajuda de técnicos da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina, ele lançou a nova variedade no mercado. As macieiras Castell Galla, com mais capacidade para enfrentar o calor, dão frutos quase um mês antes da espécie original.

– No início do mês de janeiro, a gente já consegue colher as primeiras, até a metade do mês de janeiro já consegue colher ela. E neste período é o período de melhor preço, porque o que tem de frutas no mercado ou é outras variedades de inferior qualidade ou são frutas de câmaras frias ainda do ano anterior.

Suas macieiras também serviram como material de pesquisa para a Embrapa Uvas e Vinhos, na Serra Gaúcha. Amostras colhidas no inverno de 2007 estão sendo analisadas em laboratório.

– A mudança climática é um cenário que de certo modo assusta este setor, e se nós, hoje, não fizermos alguma coisa, amanhã ou depois a sustentabilidade vai ser comprometida – comenta Henrique Pessoa dos Santos, pesquisador da Embrapa.

Programas de melhoramento

Os pesquisadores querem traçar um perfil do comportamento da macieira original e da mutante diante das baixas temperaturas, um estudo fundamental para garantir a produção no futuro.

– Poderá ser aplicado em programas de melhoramento, que então vão fomentar ou, de certa forma, auxiliar o melhorista, na escolha ou seleção de cultivares mais adaptadas a essas condições de invernos amenos, dentro da perspectiva de aumento da temperatura na região produtora sul brasileira – comenta o pesquisador Luis Fernando Revers.

Na serra de Santa Catarina, principal pólo produtor do país, os técnicos já não têm medo da elevação da temperatura. Pelo contrário, eles acham que agora o Brasil pode exportar conhecimento.

– Nós estaríamos aptos, no caso das macieiras, de sermos exportadores de tecnologia para os países do hemisfério norte, visto que lá eles não têm, nâo desenvolveram tecnologias dessas porque eles não tinham problema, porque eles têm frio suficiente. Agora, num caso desses, eles teriam que recorrer a nós, ao Brasil, para adquirir essa tecnologia – afirma Gabriel Leite, chefe da Estação Experimental Epagri caçador.

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