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 | 28/05/2008 16h18min

Retomados protestos no campo em meio à tensão entre governo e produtores na Argentina

Falsa ameaça de uma bomba na sede da Federação Agrária em Buenos Aires agravou o tom do conflito, que está há 79 dias sem solução

Milhares de produtores agropecuários retomaram nesta quarta-feira, dia 28, a greve comercial e os protestos na Argentina, um dos maiores exportadores de alimentos do mundo, enquanto o governo tomava medidas para impedir o bloqueio de estradas.

Uma falsa ameaça anônima sobre a colocação de uma bomba na sede da Federação Agrária em Buenos Aires obrigou a esvaziar o prédio, o que aumentou a tensão que cerca o conflito, que está há 79 dias sem solução.

– Não é a primeira vez que recebemos ameaças e a história se repete – declarou Ulises Forte, vice-presidente da entidade, uma das mais combativas das quatro organizações agropecuárias que lutam contra o aumento da pressão do Fisco e as regulações oficiais.

A disputa teve um impacto negativo na Bolsa de Comércio de Buenos Aires, além de reduzir as vendas de maquinaria agrícola e as exportações de carne bovina, entre outros problemas.

O Mercado de Fazenda de Buenos Aires, o maior do país, leiloou nesta quarta duas mil cabeças de gado, quase a metade do normal, e seus operadores prevêem sua paralisação a partir desta quinta-feira, dia 29.

A indústria frigorífica, que sofre pelas restrições à exportação de carne de bovina, um dos fatores de conflito, fez um estoque para os próximos dez dias, anunciaram seus porta-vozes.

O governo de Cristina Fernández de Kirchner, que mantém silêncio perante o reatamento da greve comercial convocada até terça-feira, mobilizou a Gendarmaria para impedir que piquetes de grevistas interrompam o trânsito de caminhões nas rotas.

As associações agropecuárias em conflito, que reúnem cerca de 290 mil produtores de todo o tipo, pediram a seus filiados que não bloqueiem estradas, mas muitos grevistas que se dizem "independentes" avisaram que obstruirão a passagem de caminhões com grãos e de transporte internacional.

O maior foco de tensão se situa nos arredores da cidade de Gualeguaychú, no nordeste do país, onde centenas de agricultores e criadores de gado protestam à beira da estrada 14, fundamental para o comércio de mercadorias entre os membros do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai).

Em Gualeguaychú, a 270 quilômetros de Buenos Aires, a Gendarmaria garantiu a passagem de caminhões, a maioria de empresas de transporte internacional, mas a irritação dos grevistas causa temor de que ocorram incidentes.

Houve interrupções parciais do trânsito de caminhões por rotas em cinco cidades do oeste da província de Buenos Aires, a mais rica produtora de alimentos do país, sem que houvesse choques com as forças de segurança.

Marcelo Borrego, produtor agropecuário de General Villegas, em Buenos Aires, disse a rádios de Buenos Aires que 500 grevistas interromperam temporariamente o transporte de grãos à exportação e de gado para abate em três rotas da zona.

Disse que também foi bloqueado o transporte de carga em uma estrada que leva à província de Mendoza, no oeste, vizinha ao Chile, mas esclareceu que essa medida não teve maior impacto porque as empresas "estão avisadas" dos protestos e optam por outras rotas.

Dirigentes do campo afirmam que os protestos não afetarão o fornecimento de alimentos, como ocorreu com a greve e bloqueios de estradas que o setor realizou durante as últimas três semanas de março.

Calcula-se que o protesto afete exportações de grãos no valor de bilhões de dólares e fontes da indústria de maquinaria agrícola informaram que as vendas caíram 50% a partir de março em relação às do mesmo mês de 2007.

O Banco Central vendeu US$ 2 bilhões de suas reservas, com o que conseguiu frear a alta do preço da moeda americana no mercado de câmbio local.

O preço dos bônus argentinos acumula uma queda de 20% na média, em alguns casos até níveis menores aos de sua emissão em junho de 2005, advertem agentes das bolsas de valores.

As exportações de carne bovina, restringidas para impedir que os preços domésticos sigam o ritmo de alta do dos alimentos nos mercados internacionais, registraram até abril uma baixa anualizada de 52%, até as 18.600 toneladas.

AGÊNCIA EFE
 
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