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 | 15/05/2008 07h12min

Acordo com Alemanha permite retomada das obras de Angra 3

Tratado assinado garante que a Alemanha fornecerá componentes até conclusão de usina

Parada há duas décadas, a construção da terceira usina nuclear brasileira pode, finalmente, deslanchar. Nessa quarta-feira, dia 14, em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou com a chanceler alemã, Angela Merkel, um acordo que possibilitará a retomada da obra de Angra 3.

Principal parceiro comercial do Brasil na Europa, a Alemanha acertou o tratado por meio do qual se mantém em vigor o Acordo de Cooperação para os Usos Pacíficos da Energia Nuclear, garantindo o fornecimento de componentes até, pelo menos, a conclusão da usina Angra 3. O acordo do Programa Nuclear Brasileiro foi assinado em 1975.

Com o acerto dessa quarta, foram revisados os documentos assinados ainda durante o regime militar que tinham o ambicioso plano de construir oito usinas e englobavam investimentos em toda a cadeia da energia nuclear, incluindo transferência de tecnologia para o enriquecimento de urânio no país. Na época, estimava-se que o programa total tivesse um custo de US$ 10 bilhões. O governo não divulgou a extensão do novo tratado, chamado de Acordo de Cooperação no Setor Energético, para informar se abrangerá ou não outras usinas.

Planta nuclear é um dos principais projetos do PAC

Em 2006, o governo alemão avisou o Brasil que não queria mais manter o acordo de 1975. O Brasil recusou-se a rasgar o documento e forçou a negociação de um novo acerto, que assegurasse a conclusão de Angra 3, um dos principais projetos da área de energia do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Uma vez concluída a usina, o governo brasileiro deverá trocar a cooperação alemã pela de outro país europeu. França, Inglaterra e Bélgica já manifestaram interesse em fornecer tecnologia e equipamentos.

Para o ex-presidente da Eletrobrás, Luiz Pinguelli Rosa, é importante o país não abandonar seu programa nuclear e manter investimentos no desenvolvimento de tecnologias. Em fevereiro deste ano, Lula e a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, por exemplo, anunciaram que os dois países irão desenvolver um reator nuclear para aliviar a demanda crescente de energia elétrica nos dois países.

O atraso nas obras de Angra 3 já custou ao Brasil US$ 900 milhões, apenas em custo financeiro, seguros e manutenção dos equipamentos comprados na década de 1970.

O valor consta do relatório elaborado pela Eletronuclear para balizar os estudos pela retomada do projeto, já aprovado pelo Ministério de Minas e Energia, e terá impacto no custo final da energia gerada pela usina, cuja construção o governo espera iniciar ainda este ano.

Divisão no biocombustível

Não diminuiu a guerra de comunicação entre Brasil e Alemanha na questão dos biocombustíveis. A chanceler se recusou a antecipar o aumento da mistura do etanol à gasolina de 5% para 10%, em 2009, como queria Lula. Angela disse que seguirá o cronograma europeu, que prevê a mistura de 10% apenas em 2020.

Preocupação com a Amazônia

Angela Merkel mostrou preocupação com a expansão da produção de soja na Amazônia e o conseqüente desmatamento na região. Lula afirmou que não abrirá mão da soberania do país. Foi assinado acordo com repasse de 40 milhões de euros (cerca de R$ 103 milhões) para preservar a Amazônia e combater a Aids.

Berlim ou Bonn?

Lula escorregou na geografia. Cometeu um equívoco ao se referir à capital da Alemanha, quando concedia entrevista ao lado da chanceler alemã, Angela Merkel. Em vez de mencionar Berlim, citou Bonn, capital entre 1949 e 1989. A partir de 1990, a capital alemã foi transferida para Berlim.

Xeque do petróleo

No encontro, Lula ressaltou as megarreservas de petróleo e de gás natural na costa brasileira.

– Se vocês vierem daqui 10 anos, vocês vão chamar o presidente do Brasil de xeque. Xeque da América do Sul – afirmou, ao dirigir-se aos jornalistas alemães que acompanham a visita oficial da chanceler ao Brasil.

Concordância sobre a ONU

Uma questão na qual os dois líderes concordaram foi sobre a representação na Organização das Nações Unidas (ONU). Para eles, a entidade "têm a cara dos anos 40".

– Estamos convencidos de que Alemanha e Brasil há muito tempo deveriam ter posto permanente no Conselho de Segurança – disse Lula.

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