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 | 08/05/2008 11h54min

Busca pela pecuária sustentável passa pela pesquisa e disponibilidade de recursos

Canal Rural promoveu fórum para discutir alternativas à degradação econômica e ambiental

Lenara Londero, Uberaba - MG  |  reportagem@canalrural.com.br

Diante de um cenário mundial que reúne, de um lado, uma crescente necessidade de ampliação na produção de alimentos, e de outro, o avanço de problemas ambientais, migrar para modelos de produção agropecuária que privilegiem a sustentabilidade deixou de ser um ideal distante para se transformar em necessidade imediata. O tema foi debatido na manhã desta quinta, dia 8, durante o Fórum sobre Soluções para uma Pecuária Sustentável, promovido pelo Canal Rural dentro da programação da Expozebu, em Uberaba - MG. 

O fórum reuniu o ex-ministro da Agricultura e pecuarista Alysson Paolinelli, o médico veterinário e coordenador do Programa de Agricultura e Meio Ambiente da ONG WWF-Brasil, Luís Laranja, e o zootecnista com pós-graduação em gestão ambiental e diretor executivo do Fundo de Desenvolvimento da Pecuária em São Paulo, João Gilberto Bento. Os participantes elencaram pontos positivos e negativos do modelo de produção agrícola existente no país, e apontaram alternativas para que a agropecuária brasileira abandone práticas ultrapassadas e passe a produzir de forma economicamente, socialmente e ambientalmente sustentável.

Conhecimento em foco

Alysson Paolinelli argumentou em favor da tese de que um dos principais pontos a serem trabalhados é a questão do conhecimento. Defendendo a busca pela eficiência na produção, o ex-ministro destacou que apenas com investimentos em pesquisa científica será possível ampliar a produtividade do campo de forma vertical, sem necessidade de abertura de novas fronteiras agrícolas ou de ampliação das áreas destinadas a pastagens.

- A base da discussão deve considerar a relação custo-renda. Se o que o produtor recebe não paga a despesa, ele não tem como investir e buscar sustentabilidade. Para fugir desse atroz garrote que nós temos, de produzir a cada dia mais barato, precisamos de conhecimento, tecnologia, ciência. É preciso baratear os custos e produzir com eficiência - afirmou o ex-ministro, acrescentando que "produtor no vermelho não produz verde".

Conforme Paolinelli, é preciso investir fortemente na reestruturação de entidades de pesquisa como a Embrapa, que, segundo ele, sofre com a carência de pesquisadores sênior e precisa abrir novas vagas para preencher seus quadros.

- A agricultura brasileira sobreviveu tentando transferir tecnologias de áreas temperadas até a década de 70, e só após o surgimento da Embrapa é que se começou a desenvolver modelos adequados às condições do Brasil. Em 30 anos construímos a chamada agricultura tropical do globo, e é preciso seguir estudando, pesquisando, para que se possa criar esses novos conceitos e formas de produção.

Paolinelli lembrou que tornar a produção mais eficiente é também uma questão de mercado.

- O consumidor quer alimento barato. Nós precisamos ter alimento barato, mas que remunere quem está produzindo, para que ele possa investir na produção. Alimento barato deve ser fruto de pesquisa, de elevação da produtividade, e não de prejuízo econômico para quem produz.

Recursos para financiar a mudança

João Gilberto Bento lembrou que, além de desenvolvimento de novas ténicas, é preciso que haja transferência de conhecimento, trabalho feito principalmente pelas empresas de assistência técnica e extensão rural. E acrescentou que um importante pilar de suporte à busca da produção sustentável está na disponibilidade de recursos para financiar novas práticas agropecuárias.

- É uma necessidade criar políticas de financiamento definidas para o tema da sustentabilidade, porque é preciso sobreviver economicamente. A propriedade que não está bem estruturada, tanto grande quanto pequena, dá margem a práticas insustentáveis. Para garantir a adoção de novos modelos é preciso garantir antes que o produtor possa permanecer no campo.

De acordo com Bento, a maior parte das 4,6 milhões de propriedades agrícolas do Brasil pertence a produtores rurais de pequeno e médio porte, e antes de poder fazer qualquer investimento na redução dos impactos produtivos o agricultor está preocupado em garantir a produção e prover o sustento de sua família. 

- Se a sociedade quer garantir a produção, tem que buscar formas de viabilizar a renda do produtor, seja através de políticas públicas, seja através da elevação da remuneração a partir de um aumento no preço dos alimentos.

Mudanças de perceção

Luís Laranja, coordenador de agricultura e meio ambiente da WWF-Brasil, destacou o crescimento da consciência de que existem problemas ambientais relacionados à produção de alimentos, fato que estimula a busca por soluções. Conforme Laranja, muitos dos problemas que enfrentamos hoje se acumularam ao longo de anos de maneira involuntária, já que não havia conhecimento disponível sobre a maneira correta de se produzir.

- Fico animado com as perspectivas. A partir do momento em que as pessoas estão dispostas a discutir, a debater, e estão preocupadas com a questão, nós temos meio caminho andado para a solução do problema.

Paolinelli também comemorou a mudança na percepção geral sobre a importância da atividade agropecuária na preservação ambiental. 

- Sou engenheiro agrônomo há quase 50 anos, e agora que começo a sentir que o habitante da área urbana está reconhecendo a importância da agricultura. Isso é muito positivo, porque ao reconhecer que essa atividade é importante é que surgem as discussões de como essa sustentabilidade tem que ser exercida.

Modelo deve ser rediscutido

Apregoando a necessidade de uma produção mais eficiente diante de um cenário de crise alimentar, Luís Laranja disse que "o mundo está ficando menor".

- Em 1965 tínhamos em média 1,3 hectare de terra por habitante, e hoje temos o equivalente a 0,6 hectare por habitante. Ou seja: em menos de meio século a nossa horta diminuiu pela metade! Nós temos 260 milhões de hectares ocupados por pecuária e 60 milhões com agricultura. Não é admissível produzir uma rês por ano por hectare, quando se pode chegar a seis, sete, oito cabeças, desde que seja feito investimento no pasto e manejo correto.

Para Laranja, é possível estacionar o avanço da fronteira agrícola e ainda assim fazer com que o Brasil produza até três vezes mais commodities.

- É o modelo de produção que deve ser rediscutido.

Nova postura

O representante da WWF-Brasil ressaltou que a mudança deve ter início dentro da propriedade rural, partindo da conscientização do produtor sobre a importância de seu papel na preservação ambiental.

- Sustentabilidade não é um rótulo a ser agregado à produção. É na realidade um grande ativo do produtor rural, um patrimônio. O produtor quer preservar seus ativos, os recursos hídricos, o solo, porque essa é a herança de seus filhos. E ele tem que ter condições financeiras e orientação para garantir a sustentabilidade com renda. Esse é o grande desafio.

E completou:

- Quando se começa a discutir sustentabilidade porque uma ONG na Europa está fazendo pressão, o processo está invertido, e já começa do jeito errado.

CANAL RURAL
Lenara Londero, Canal Rural / 

Luís Laranja, Alysson Paolinelli e João Gilberto Bento discutiram alternativas para aplicação de modelos de pecuária sustentável
Foto:  Lenara Londero, Canal Rural


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