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 | 22/04/2008 18h52min

Sementes e espigas de milho no Fórum do Software Livre

Agricultor é visto como o programador da vida

André Crespani  |  andre.crespani@clicrbs.com.br

O 9º Fórum Internacional do Software Livre (fisl9.0) ocorreu em Porto Alegre nos dias 17, 18 e 19 de abril. Mas nem só de softwares o evento foi feito. Um estande com sacos de semente e espigas de milho penduradas pelas paredes chamava atenção dos participantes. Era o pessoal do projeto "Semente Livre".

Com apoio da organização do fisl, o "Semente Livre" integra as ações do grupo Guayí (semente no idioma Guarani) e defende a liberdade para os agricultores interagirem livremente com suas sementes, criando novas combinações, mantendo as existentes e trabalhando sobre as criações de outros agricultores.

Em função dessas características, um dos divulgadores do projeto, Nelson Dias Diehl, compara a idéia da semente livre com o software livre. Ela faz uma analogia do agricultor com o programador da vida, que altera o "software" (ou seja, a semente) segundo suas necessidades, adaptando sua criação ao clima, ao relevo, e procurando aperfeiçoar seu produto, tornando mais nutritivo e resistente. Tudo isso de forma natural, enfatiza outra envolvida com o projeto, Vanéte Farias Lopes.

É importante a diferença entre essa "criação" que o agricultor faz selecionando sementes, cruzando variedades da mesma espécie e os transgênicos. Afinal, a semente livre é também livre de transgênicos. Diehl, inclusive, ressalta que a idéia da semente livre combate o monopólio das grandes empresas, que se apropriam dos conhecimentos desenvolvidos ao longo dos tempos pelos agricultores e criam pacotes fechados, novamente de forma semelhante ao que seria o conceito do software proprietário.

Segundo Diehl, o projeto "Semente Livre" une os dois extremos: a sabedoria milenar da agricultura e a atividade contemporânea da tecnologia dos softwares livres.

Arroz Quilombola

Um dos projetos símbolo do "Semente Livre" é o Arroz Quilombola (Oryza Glaberrima). Diehl explica que essa variedade de arroz foi a primeira cultivada no Brasil, trazida pelos escravos africanos no século XVI. Ela, no entanto, foi proibida pela Coroa Portuguesa, e só se manteve em focos de resistência como as comunidades quilombolas.

Resgato no Nordeste, o arroz quilombola foi trazido para o Rio Grande do Sul em 2005. Ele representa, além do resgate histórico para as sociedades quilombolas do Estado, a abertura de uma perspectiva de mercado para esses grupos. A semente, segundo Diehl, tem qualidades de resistência, adaptabilidade e alto valor nutricional.

O arroz quilombola, no entanto, é apenas um exemplo do projeto "Semente Livre". Existem muitas outras opções.

– São mais de 8 mil variedades de arroz – ensina Diehl, lembrando também que existem milhares de variedades de trigo, milho e outros grãos.

Cada região, cada localidade, de acordo com Diehl, tem sua própria semente, com suas características e particularidades. Além disso, o agricultor que trabalha com cada tipo de semente passa para essa semente todo um conjunto de posturas de vida. Elas são desenvolvidas para resistir à seca, ao frio, ao calor, à altitude, segundo o lugar em que são cultivadas. Fatores ambientais e culturais fazem a diversidade.

– E a diversidade é que cria a segurança – resume Diehl.

CLICRBS
André Crespani / 

Projeto "Semente Livre" estava no 9º Fórum Internacional do Software Livre
Foto:  André Crespani


 
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