A área cultivada com trigo na Agrocapital Dourados, em Mato Grosso do Sul, deve crescer 20% nesta safra. Um reflexo da expectativa de que os bons preços pagos pelo cereal permaneçam. No entanto, mesmo com a sinalização de um bom momento para o setor, os produtores estão cautelosos.

A cotação do trigo está em alta. A tonelada, que era vendida por US$ 208 no início do ano passado, hoje custa mais de US$ 455, uma conseqüência da redução da oferta do produto em escala mundial. Entretanto, apesar do bom preço, muitos produtores estão cautelosos.

É o caso do produtor César Roberto Dierings, que plantou 400 hectares de trigo. Segundo ele, os custos de produção subiram de 22 para 27 sacas por hectare, o que equivale a R$ 1050. Por isso, o agricultor diz que apenas a boa cotação não é suficiente para minimizar os riscos do investimento na cultura.

– É arriscado plantar trigo em Mato Grosso do Sul. Apesar dos preços estarem favoráveis, o risco é grande e não há um seguro que proteja os produtores.

Em Dourados, a 220 km da capital Campo Grande, as lavouras de trigo devem ocupar seis mil hectares – mil a mais que no ano passado. Mas a realidade no restante do Estado é outra. De acordo com a Conab a área plantada com trigo nesta safra em Mato Grosso do Sul diminuiu de 50,5 mil para algo em torno de 31,7 mil hectares – uma redução de 37%.

O cenário atual é bem diferente do encontrado na década de 80. Na época, a comercialização do produto era estatizada, o que garantia preços atrativos que motivaram os agricultores a plantarem mais de 400 mil hectares em uma única safra. Para os produtores, os incentivos prometidos pelo governo federal são bem-vindos, mas deveriam ter sido feitos antes do início do plantio.

– Todas as medidas que o governo promete para ajudar os triticultores sempre acontecem quando o país enfrenta problemas no estoque do produto. Esses "incentivos" vêm na hora errada, deveriam chegar antes – destaca Gino José Ferreira, presidente do Sindicato Rural de Dourados.

No Brasil, o trigo deve ocupar 1,818 milhão de hectares, um crescimento de 3,5% em relação à safra passada. A previsão é de que sejam produzidas mais de 3,8 milhões de toneladas do cereal.