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 | 06/04/2008 14h29min

Se o custo apertar, teremos de avaliar preços, diz presidente da Petrobras

Entrevista: José Sergio Gabrielli

Marta Sfredo  |  marta.sfredo@zerohora.com.br

Não é com o decantado relax baiano que José Sergio Gabrielli de Azevedo, nascido em Salvador, exerce a presidência da maior estatal brasileira desde 22 de julho de 2005. PhD em Economia, formado pela Universidade Federal da Bahia, circula desde 1º de fevereiro de 2003 no alto comando da Petrobras, no qual estreou como diretor financeiro e de relações com investidores. Mesmo claramente irritado com a imprensa, pela dimensão dada ao episódio do roubo dos equipamentos da companhia, que chegou a ser considerado "espionagem industrial", mas foi desvendado pela Polícia Federal como crime comum, Gabrielli mantém o humor ao comentar esse e outros episódios nesta entrevista concedida por telefone a Zero Hora, na terça-feira, com o compromisso de só ser publicada depois da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Rio Grande (RS), na quinta, dia 3.

No dia seguinte, Gabrielli seguiu para o Japão depois de anunciar oficialmente a implantação do que chama de "fábrica de cascos" no pólo naval gaúcho. A seguir, os principais trechos.

Zero Hora - Qual o papel de Rio Grande no projeto de ampliar o conteúdo nacional dos equipamentos navais para produção de petróleo?

José Sergio Gabrielli - Rio Grande é o Dique Seco. É um equipamento necessário para a construção e manutenção de navios e embarcações. E nós estamos querendo avançar. Hoje, quando fazemos FPSOs, que são estruturas de produção de petróleo no mar, geralmente construímos o casco fora do Brasil e fazemos os equipamentos e processos em cima do casco. Vamos transformar o Dique Seco de Rio Grande numa fábrica de cascos. Seriam padronizados, o que reduz custos e aumenta o conteúdo nacional na produção de FPSOs. Vai precisar abrir licitação, porque não é a Petrobras que vai construir, vamos ter de contratar no mercado.

ZH - Quanto será a redução no custo?

Gabrielli - Geralmente, o casco representa 30% do custo do equipamento, então a redução que houver será sobre 30%.

ZH - Os valores subiram muito com a alta do preço do petróleo?

Gabrielli - É, não só os preços do petróleo. O preço do minério de ferro, que é o principal componente, além do aquecimento geral da indústria de frete do mundo.

ZH - O Prominp vai dar conta da mão-de-obra necessária?

Gabrielli - Estamos treinando 70 mil pessoas em 720 diferentes ocupações. É difícil dizer se vai dar conta ou não. Estamos preparados para isso. Se o crescimento vai ser mais acelerado ou menos, só vamos saber depois. Mas foi planejado para atender às necessidades dos projetos.

ZH - Como foi dimensionado antes das descobertas no pré-sal, vai precisar ajustes?

Gabrielli - Claro, o pré-sal vai alterar. Significa que nós vamos ter de ter provavelmente outro Prominp. Este foi montado para atender às necessidades para um investimentos de US$ 112,4 bilhões (até 2012).

ZH - Existe possibilidade de retomada da prospecção na Bacia de Pelotas a curto prazo?

Gabrielli - Temos um portfólio exploratório que vai da Bacia de Pelotas à Bacia do Amazonas. É difícil dizer, especificamente sobre a Bacia de Pelotas, se vamos ou não vamos fazer, porque a programação é ajustada a cada vez que temos uma nova descoberta. É um portfólio dinâmico. Temos sondas de exploração sob contrato e podemos alocá-las em diferentes lugares, em razão do resultado que podemos gerar.

ZH - Isso significa que a camada do pré-sal é prioritária?

Gabrielli - A nossa prioridade é sempre aquela que tem maior prospectividade de descoberta, e mais rápida. O pré-sal, dados os indícios que temos, é uma área com alta prospectividade e baixo risco exploratório. No entanto, apresenta uma série de desafios tecnológicos para produzir. Portanto, temos de combinar atividades de exploração com as de produção.

ZH - Já se sabe quando será o início da produção no pré-sal?

Gabrielli - Nossa previsão é de que em 2009 começaremos o projeto na área do pré-sal. Vamos fazer um teste de longa duração, que deve produzir em torno de 100 mil barris por dia. Isso está programado para começar no segundo trimestre de 2009. Mas os dados sobre condição do reservatório, sobre a dinâmica da produção, só vão ser obtidos depois desse teste de longa duração.

ZH - Se sabe o potencial da área de pré-sal? A cada descoberta, surgem dúvidas...

Gabrielli (interrompendo) - O problema é o seguinte: a gravidez tem um tempo, não tem jeito, certo? Você só vai saber a cor dos olhos da criança quando ela nascer. A gente pode até antecipar, com elementos do DNA, mas não tem jeito.

ZH - Nessa comparação, o levantamento sísmico seria uma espécie de ecografia?

Gabrielli - Mais ou menos. Seria uma ultra-sono das antigas (risos).

ZH - Com que expectativa a Petrobras se prepara?

Gabrielli - Perfuramos dois poços, fizemos dois testes de produção e achamos que temos, de óleo recuperável, entre 5 bilhões e 8 bilhões de barris em Tupi, que é uma área pequena no pré-sal. Nós não temos horizonte sobre todo o pré-sal. Nós temos 15 pontos de perfuração na área toda, alguns com 500 quilômetros de distância um do outro, e resultados ainda iniciais. Precisamos perfurar. Não tem jeito, tem de perfurar mais. Isso leva tempo e não podemos falar antes do tempo.

ZH - Existe a projeção de quando toda a área será conhecida?

Gabrielli - Nós acreditamos que depois dos testes de produção de Tupi, com o avanço das atividades de exploração que temos previstas na região nos próximos dois anos, em dois, três anos nós vamos conseguir ter uma visão muito mais clara do que é a área do pré-sal.

ZH - Como a Petrobras administra a alta do petróleo, ainda mais depois que a Repsol, com 30% da refinaria Refap, pediu reajuste interno imediato dos combustíveis? Como segurar a inflação sem desvalorizar as ações da Petrobras?

Gabrielli - Não, a desvalorização dos papéis é resultado da estimativa de crescimento. Os papéis não estão se desvalorizando por isso. Os investidores são de longo prazo, consideram a valorização de longo prazo da companhia. Na medida em que os preços continuam se elevando e os custos começam a apertar, vamos ter de avaliar a questão de preços.

ZH - Em que momento isso ocorreria?

Gabrielli - Isso vai depender do nível de preços internacionais. Os valores ainda estão muito flutuantes, a variação é muito grande.

ZH - A Petrobras diz que o reajuste de combustíveis depende do preço internacional desde que o petróleo estava em US$ 50 o barril, mas dobrou...

Gabrielli (interrompendo) - Mas o câmbio estava quanto? Essa é a questão. Faça a conta em dólares quanto custava em reais naquela época.

ZH - Então o câmbio é o grande aliado da manutenção dos preços dos combustíveis?

Gabrielli - Exatamente.

ZH - Há perspectiva de indicação de um titular para a presidência da refinaria Refap, que está com presidente interino há meses?

Gabrielli - No momento adequado, a gente definirá isso. O conselho da Refap se reunirá e definirá isso. Será uma decisão do conselho.

ZH - Que lições ficaram do episódio do roubo de equipamentos com dados relevantes ocorrido em fevereiro?

Gabrielli - Primeiro, tudo o que é da Petrobras tem uma dimensão para a imprensa muito maior do que de fato é. Realmente, quando uma empresa que tem mais de 40 mil equipamentos disponíveis e somem três, vira um caso... O clipping (conjunto de notícias sobre determinado assunto ou empresa), por exemplo, são três volumes de mais de 300 páginas. Impressionante o volume de notícias que saiu.

ZH - A Petrobras amplia o refino no Brasil - com a PDVSA - e no Exterior - caso da compra da unidade no Japão. Por que é importante ter refino no Exterior?

Gabrielli - Por duas razões. Primeiro, porque vamos aumentar nossa produção de petróleo. De 1,8 milhão a 1,9 milhão de barris/dia, hoje, vamos para 2,5 milhões de barris/dia em 2015, no Brasil. Vamos aumentar nossa capacidade de refino no Brasil em 200 mil barris na refinaria em Pernambuco, o processamento de petróleo pesado no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) em mais 150 mil e construir uma refinaria premium para exportação de mais 500 mil. Estamos construindo até 2015 mais três, depois de não ter mais refinaria desde 1980 no Brasil. Pretendemos ampliar nossa capacidade de refino para processar o petróleo adicional que pretendemos ter no Brasil e no Exterior.

ZH - E o investimento no Japão?

Gabrielli - Essa refinaria da ilha de Okinawa (Japão), que fechamos a negociação agora há pouco, entra num mercado em que não estamos, o asiático. Permite também por meio de um grande parque de tancagem, um hub (centro de ligação) logístico importante para a exportação e para nossas atividades offshore trading na região do Japão, Índia, China, Cingapura, toda a Ásia.

ZH - Existe grande expectativa sobre o Comperj, inclusive entre empresas privadas. Quando se conhecerá mais sobre o projeto?

Gabrielli - É um complexo muito complexo (risos). Do ponto de vista tecnológico, é muito inovador. As duas rotas principais de produção de eteno, propeno e outros produtos petroquímicos usam nafta ou gás natural como matéria-prima. Nós vamos usar petróleo pesado, é uma tecnologia da Petrobras. É uma tecnologia que já dominamos e estamos avançando. O projeto básico de engenharia e tecnologia já está definido, devemos iniciar em breve a compra dos equipamentos mais críticos. Falta avançar na discussão da composição acionária. Nossa visão é de que não devemos ficar só com o que é mais pesado, só com o osso, precisamos também participar um pouco do filé mignon.

ZH - Qual o horizonte para definir o futuro da Refinaria Ipiranga, que está à deriva?

Gabrielli - Vai precisar de um investimento novo, evidentemente. Vai precisar se transformar, da forma que está não pode continuar. Os sócios estão discutindo isso, mas não tem prazo. Não tem por que ter. Vamos continuar construindo uma solução.

ZH - Existe um certo temor sobre o controle exclusivo da Braskem, uma empresa privada, no pólo petroquímico...

Gabrielli (interrompendo) - A unidade vai ficar sob comando de uma empresa privada, sim. A reestruturação da petroquímica brasileira constituiu dois grandes grupos privados dominantes, um é a Braskem, outro é o grupo Unipar na Companhia Petroquímica do Sudeste (CPS). Avaliamos que o setor não sobreviveria se não houvesse dois grandes grupos controlando os grandes investimentos, com perspectiva de expansão. A diversificação e a pulverização são fatais. Nós estamos presentes nos dois grupos e achamos que o setor tende a crescer com essa consolidação, não se contrair. A expectativa é de que haja crescimento e mais investimento na petroquímica em geral, incluído o pólo do Sul. Mas que a liderança será da Braskem, não tem dúvida, porque nós temos 40% e eles têm 60%. Somos minoritários relevantes, para discutir todos os assuntos importantes, como estratégias de expansão.

ZH - Quais os planos da Petrobras para os biocombustíveis?

Gabrielli - Nós constituímos uma empresa, que está em montagem, para se dedicar a biocombustíveis, produção de biodiesel e atividade produtiva referente à comercialização e à exportação de etanol. Essa empresa tem mais 40 a 45 dias de prazo para sua constituição formal. Vários projetos em andamento serão incorporados por essa empresa, como três plantas de biodiesel em construção na Bahia, no Ceará e em Minas Gerais. Nós e a Refap somos compradores de 100% do biodiesel brasileiro. Vamos aumentar nossa capacidade de produção no Brasil. Podemos vir a considerar a exportação de biodiesel para outros países e estamos, com os japoneses, montando os chamados Cbios, centros de álcool voltados para exportação que terão produção de álcool, de energia elétrica e de biodiesel nas usinas dedicadas à produção de etanol.

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