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 | 01/12/2007 02h40min

Tv digital: revolução toma conta da sala

Novo formato vai mudar relação entre o brasileiro e a televisão

Carlos André Moreira  |  carlos.moreira@zerohora.com.br

TV é sucesso de audiência no mundo todo, mas no Brasil tem dimensões de integração nacional. Presente em 50 milhões de domicílios, muitas vezes é uma presença eletrônica a mais nas residências e até em bares e estabelecimentos comerciais. Daí qualquer coisa que altere a maneira como a televisão é produzida, transmitida e recebida ser digna de um interesse mais atento. E o início das transmissões do sistema digital de TV no Brasil, a partir do próximo domingo em São Paulo, vai mudar — e bastante — essa relação tão arraigada entre o brasileiro e seu mais popular meio de comunicação.

A televisão herdou uma relação ainda mais antiga que o público tinha e continua tendo com o rádio — e era natural que um país com grandes índices de analfabetismo e deficiências de escolaridade consagrasse meios de comunicação sem a palavra impressa.

— A televisão não educa, nem foi feita para isso, mas exerce, num país com problemas de instrução e poder aquisitivo, uma função de apresentação do mundo. A ligação do brasileiro com a TV é resultado de se ter uma produção com boa qualidade e uma população que tem na televisão sua principal fonte de entretenimento e informação — explica a jornalista Cristiane Finger, coordenadora do curso de Jornalismo da PUCRS e doutora em Comunicação em estudos sobre televisão.

Ainda cercada por certa nuvem de imprecisão, a TV digital tem potencial para mudar esse laço tão umbilical com a sociedade. A TV foi ela própria uma revolução tecnológica, mas passou por apenas duas mudanças drásticas em mais de meio século de existência. A primeira foi o videoteipe, que permitiu a gravação dos programas e diminuiu a necessidade de produzir ao vivo — no Brasil esse recurso chegou em 1958. A segunda foi a TV em cores, em fevereiro de 1972.

São, a seu modo, uma mudança que revolucionou a forma como a programação de TV era produzida e uma que transformou a forma como era recebida pelo público. A TV digital é a revolução que tem potencial para transformar os dois extremos dessa relação. Dependendo, claro, de como a discussão for encaminhada, já que de início uma série de possibilidades que seriam abertas pelo sistema, como uma maior interatividade do público, ficarão fora do modelo brasileiro.

Choque de conteúdo

— O que a TV digital vai proporcionar em um primeiro momento é uma qualidade de recepção maior, as imagens serão mais nítidas. O que pode acontecer em longo prazo é mudar a relação do receptor com o conteúdo, tornar o consumidor mais exigente com a multiplicidade de canais e de possibilidades. O que estamos vendo é uma grande preocupação tecnológica mas pouca discussão em termos de conteúdo — adverte o professor Miro Bacin, da Faculdade de Comunicação da Unisinos.

O choque em termos de conteúdo também será notado. A imagem na TV digital é mais horizontal, obedecendo ao padrão natural da disposição dos olhos, um lado do outro. O que em um primeiro momento vai transformar a própria maneira como as emissoras produzem seus programas.

— A TV vai passar por uma adaptação que o cinema já passou. Basta assistir a um programa nos monitores horizontais que já existem para perceber que os planos estão todos errados. As pessoas ficam achatadas e sobra espaço nos lados. A TV de hoje nos encanta porque enxergamos muito mal: a imagem é granulada, pouco nítida. Com a TV digital e a definição do que se vê na tela, vai ser necessário mudar tudo: iluminação, planejamento de cenários. Serão tempos muito interessantes — afirma Cristiane Finger.

Nem todos os pesquisadores que estudam o fenômeno da TV digital, contudo, têm uma visão tão otimista. Enquanto alguns contemplam o início das transmissões como o marco de uma nova era ou o período que vai mudar toda a forma de o brasileiro se relacionar com esse eletrodoméstico já parte da família, outros entendem que o início do sistema no Brasil é apenas o primeiro passo de uma discussão que ainda tem muito a caminhar.

— As mudanças virão, mas não serão tão imediatas, até porque a TV digital, para ter um impacto concreto, precisará da plataforma instalada em todos os domicílios, em todas as camadas sociais, só aí poderemos estudar o alcance do fenômeno. Em um primeiro momento, de tanto que se falou nisso, talvez as pessoas se sintam vagamente decepcionadas ao perceber que a TV Digital entrou no ar e as mudanças foram tão poucas — diz o professor do curso de Midialogia da Unicamp Adilson José Ruiz.

Divulgação  / 

A imagem na TV digital é mais horizontal, obedecendo ao padrão natural da disposição dos olhos
Foto:  Divulgação


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