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 | 29/10/2007 08h09min

Para economista, desenvolvimento exige tripé econômico, ambiental e social

Ignacy Sachs acredita que redução de emissões pode ocorrer atrelada a projetos sociais

Considerado um dos maiores pensadores do desenvolvimento sustentável no mundo, o economista polonês Ignacy Sachs é categórico na defesa da ampliação dos aspectos sociais na perspectiva do chamado desenvolvimento sustentável.

– Precisamos ser triplamente ganhadores, nos âmbitos social, ambiental e econômico – avalia Sachs, diretor do Centro de Estudos sobre o Brasil Contemporâneo na École de Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, na França.

Na sua avaliação, a redução das emissões de gases do efeito estufa, considerados causadores do aquecimento global, não pode ser feita visando somente retornos econômicos:

– É possível aliar projetos que reduzam carbono com projetos sociais. Não é alugando florestas que vamos resolver o problema.

O economista falou durante a primeira reunião do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês) na América Latina, que reuniu membros do painel e ambientalistas no Rio de Janeiro nas últimas quinta e sexta-feira (dias 25 e 26).

Agência Brasil: Desenvolvimento sustentável é só uma questão ambiental?
Ignacy Sachs:
Não. Eu prefiro falar de um desenvolvimento socialmente includente e ambientalmente sustentável e, ainda, economicamente sustentado. Como um tripé: aspectos ambientais, sociais e econômicos.

ABr: Falta valorizar a parte social nesse tripé?
Sachs:
Não que esteja faltando. Mas existe o perigo do lado ambiental ser dissociado do lado social porque, do ponto de vista da eficiência energética, da emissão de gases do efeito estufa, podemos ter os mesmos efeitos para modelos sociais totalmente diferentes. Para mim esse modelo social não é indiferente. Vamos recolocar no debate não só os impactos ambientais, mas os contextos sociais nos quais o desenvolvimento deve acontecer.

ABr: Está em curso uma mudança de paradigmas na discussão de desenvolvimento sustentável?
Sachs:
O ponto de partida é que se considera – por razões erradas – que a única coisa que realmente vale é o crescimento econômico e o resto segue. A tomada de consciência ecológica serviu para mostrar que as coisas não eram assim, que o econômico não pode ser discutido abstraído dos impactos ambientais, porque podemos ter um crescimento predatório, comprometer o futuro etc. Portanto, o debate ambiental serviu para mostrar os limites do economicismo.

Do outro lado, simetricamente, estão os impactos sociais. Quando a gente coloca a problemática social, outra vez mostra os limites do economicismo. Eu diria que – no campo das idéias – o que está acontecendo desde começo dos anos 70 é uma superação do economicismo por meio do reconhecimento da importância dos impactos ambientais e sociais.

Quando só se fala dos ambientais, eu grito: calma! Quando me encontro com grupos de sociólogos que só vêem o social, eu digo: não esqueçam o ambiental. Nós temos que reequilibrar o debate e nos dar conta do fato de que a solução verdadeira é aquela que permite avançar simultaneamente nas três dimensões: no social, no ambiental e no econômico.

ABr: A quem cabe executar ações para alcançar esse equilíbrio?
Sachs:
Cabe a todos. Temos que reconhecer o papel importante do Estado desenvolvimentista, mas devemos, ao mesmo tempo, procurar que o processo de desenvolvimento seja negociado e pactuado entre todos os protagonistas, ou seja, é uma negociação quadripartite: Estado, empresários, trabalhadores e sociedade civil organizada.

AGÊNCIA BRASIL
 
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