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 | 15/10/2002 07h12min

Nova medida do BC confunde economistas de bancos

O aumento da taxa básica de juros (Selic) para 21%, terceira tentativa do Banco Central (BC), neste mês, de conter o dólar e manter a inflação sob controle, confundiu agentes do mercado financeiro, ontem. O economista-chefe da BBA Corretora, Alexandre Schwartsman, resumiu esse sentimento:

– Se o problema é de inflação, a decisão não é urgente. Se for para conter o câmbio, é pouco.

O economista-chefe de um grande banco doméstico, que preferiu não se identificar, reforçou:

– A reunião não deveria ter sido convocada para isso, não vai funcionar. Dá impressão de que o BC não está agindo racionalmente.

O economista-chefe da Federação Brasileira das Associações de Bancos (Febraban), Roberto Luis Troster, porém, elogiou a medida.

– A decisão do BC de elevar os juros, depois de determinar o enxugamento de R$ 14,2 bilhões do sistema bancário na semana passada, foi tecnicamente correta e deve favorecer a reversão da escalada do dólar frente ao real – afirmou.

Segundo Troster, o dólar está muito acima do ponto de equilíbrio mais compatível com os fundamentos da economia e como o ajuste estava demorando, o Banco Central resolveu acelerá-lo:

– O BC simplesmente viu o problema e agiu com medidas consistentes do ponto de vista técnico.

Alguns economistas criticaram o fato de o BC não ter esperado o resultado das medidas anunciadas na sexta-feira (aumento de compulsórios e restrições adicionais para aplicar em câmbio). Os bancos têm até amanhã para se ajustarem. Para muitos, o aumento da Selic não terá os efeitos positivos esperados – prova disso teria sido que o dólar retomou a alta.

– A medida não vai fazer muita diferença, pelo contrário só está aumentando a percepção de que as medidas do BC são cada vez mais ignoradas pelo mercado, numa realidade muito próxima do que ocorreu na Argentina – comentou um economista-chefe de banco que não quis se identificar.

Para o economista-chefe da Sul América Investimentos, Luiz Carlos Costa Rego, a elevação das taxas anunciada não bastará para conter a especulação com o dólar, mas pode ser um sinal de que o BC fará o que for necessário para conter a desvalorização do real.

– Se existe crise de confiança, o BC pode usar os juros para segurar a especulação. Mas três pontos percentuais não fazem a diferença para investidores que têm o seu dinheiro guardado aqui e estão com medo de perdê-lo – diz Rego.

Para ele, o BC pode estar apenas avisando o mercado de que a Selic está sendo elevada em três pontos percentuais agora, mas que poderá ser aumentada em outros 10 pontos, se a especulação continuar. O economista-chefe do BicBanco, Luiz Rabi, também disse que o BC errou ao elevar a taxa de juros em apenas três pontos porcentuais:

– Se era para fazer isso, não precisava convocar uma reunião extraordinária, sendo que a ordinária seria na semana que vem.

Sérgio Werlang, diretor do Itaú e ex-diretor do BC apoiou a decisão:

– As expectativas para a inflação futura vinham subindo muito e este aumento de três pontos percentuais será mais do que suficiente para conter a pressão de repasse para os preços. Só não sei por que o BC não esperou o Copom.

O economista Luiz Suzigan, da LCA Consultores, avaliou que o BC quis dar um choque nas expectativas ruins do mercado. Isso porque, se a atual cotação do dólar se mantivesse a R$ 4, a tendência seria de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2003 chegasse a 10%. Para Arturo Porzecanski, economista-chefe para mercados emergentes do ABN Amro, em Nova York, o BC já deveria ter aumentado o juro básico há tempos:

– Nos últimos dois, três meses, a atitude do BC de deixar o real cair e a inflação se acelerar me deixou constrangido, eles estavam praticamente fechando os olhos – afirmou Porzecanski.

 
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