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 | 21/09/2002 14h15min

Alemães decidem seu futuro nas urnas

Candidato a um segundo mandato como chanceler, Gerhard Schroeder chega à eleição mais disputada dos últimos 30 anos na Alemanha, neste domingo, dia 22, tentando se desvencilhar de uma declaração desastrada proferida quatro anos atrás, de que só mereceria a reeleição caso cortasse pela metade o número de desempregados. O desemprego cresceu, atingindo 4 milhões de pessoas, e deu alento ao candidato da aliança de centro-direita União Democrata-Cristã (CDU)/União Social-Cristã (CSU), o sisudo Edmund Stoiber. As pesquisas da última semana revelavam um empate técnico entre os dois, com ligeira vantagem para Schroeder.

No encerramento da campanha, um episódio envolvendo a ministra da Justiça, Herta Daeubler-Gmelin, teve o efeito de uma bomba e reduziu a já escassa vantagem de Shoroeder. Crítica da obsessão do presidente dos EUA em atacar o Iraque, Herta teria comparado George W. Bush a Hitler. Uma pesquisa do Instituto Forsa, divulgada depois da suposta declaração de Herta, reduziu a intenção de voto no Partido Social-Democrata (SPD), de Schroeder, de 40% para 38,5% a 38,9%. Para a CDU-CSU, do adversário Edmund Stoiber, foi mantida a projeção de 37% a 38%.

Stoiber, 60 anos, já esteve em situação muito mais confortável. Até dois meses atrás, liderava com folga a disputa pelas intenções de voto, graças à estratégia de enredar o atual chanceler nos aspectos mais delicados de seu governo. Excluindo a concessão de cidadania aos filhos de estrangeiros nascidos na Alemanha, que antes não tinham direito a um passaporte alemão, Schroeder, 58 anos, não obteve êxito na maioria dos grandes temas de sua plataforma eleitoral de quatro anos atrás. O Leste alemão (a antiga Alemanha Oriental, comunista) não cresceu tanto quanto se esperava, e os investimentos na infra-estrutura depois da reunificação sobrecarregaram a economia.

As inundações que deixaram boa parte da Alemanha submersa há cerca de um mês, porém, provocaram uma reviravolta. Schroeder agiu com rapidez no socorro aos atingidos e saiu do episódio com imagem de estadista. Em quatro semanas, cresceu sete pontos nas pesquisas.

– Nenhuma pessoa deixou de receber salários por causa das chuvas, graças a um programa do governo federal – elogia o diretor de relações públicas da Federação Alemã de Sindicatos da Saxônia, Markus Schlimbach.

Uma reviravolta na política externa também desviou a atenção de Stoiber para Schroeder. Rompendo o compromisso de “solidariedade internacional” feito a Bush, depois dos ataques de 11 de Setembro, Schroeder foi pioneiro ao criticar uma possível intervenção americana no Iraque e afirmar que, em caso de ataque, a Alemanha não apoiaria os EUA nem militarmente, nem financeiramente.

Stoiber não assumiu uma posição clara, e o tema dominou boa parte dos dois debates na TV, os primeiros na história alemã. Schroeder e Stoiber também têm personalidades opostas. Schroeder já se divorciou três vezes e desde 1996 está casado com uma jornalista. Stoiber tem um casamento mais convencional.

A eleição deste domingo não é direta. Os alemães vão eleger seus representantes para o Bundestag (Câmara baixa do parlamento, equivalente à Câmara dos Deputados brasileira), que por sua vez escolhem o chanceler. SPD e CDU, os dois grandes partidos, não devem conseguir sozinhos a maioria dos deputados. Para impor seu candidato, precisarão montar coalizões com agremiações menores. A CDU-CSU deve fazer dobradinha com o também centro-direitista Partido Liberal Democrata (FDP), quarto maior partido no Bundestag. O SPD tem o apoio do Partido Verde.

ITAMAR MELO E LETÍCIA SANDER

 
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