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 | 09/09/2002 10h12min

Boatos e exageros distorcem peso do terror no Cone Sul

Agentes brasileiros dos serviços de inteligência reclamam que seus colegas dos países vizinhos estão espalhando boatos sobre terrorismo para justificar a ajuda financeira recebida pelos EUA para investigar o assunto. De acordo com eles, os agentes exageram nas informações sobre a movimentação de extremistas árabes nos países do Mercado Comum do Sul (Mercosul) – Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai.

Uma das conseqüências desses exageros é a criação de “cenários imaginários”, termo usado pelos agentes de inteligência para descrever o que é conhecido popularmente como “boatos”. Depois dos atentados de 11 de Setembro, os americanos consideram vital aprimorar a vigilância em regiões que possam servir de rota para a entrada de terroristas em seu território, como é o caso do Mercosul.

A área tem fronteiras problemáticas, como a da cidade brasileira de Chuí – separada apenas por uma rua do município uruguaio do Chuy – e a de Foz do Iguaçu, no oeste paranaense, na chamada Tríplice Fronteira (Brasil, Argentina e Paraguai). Os agentes do sistema brasileiro de inteligência – Forças Armadas, Diretoria de Inteligência da Polícia Federal (PF), polícias militares e Agência Brasileira de Inteligência (Abin) – consideram o serviço de inteligência do Paraguai o mais problemático, devido a uma mistura explosiva: corrupção entre os agentes e pressa de mostrar resultados.

– É difícil saber se o conteúdo das informações dos paraguaios é verdadeiro ou é apenas uma ficção – explica um agente brasileiro.

Ele lembra o caso do comerciante Assad Hamda Barackt, morador de Foz do Iguaçu e dono de uma loja em Ciudad del Este, do outro lado da Ponte da Amizade. Em junho, a pedido do governo do Paraguai, a PF prendeu Barackt. Hoje, ele aguarda em Brasília o julgamento do pedido de extradição paraguaio. Barackt, segundo o serviço de inteligência do Paraguai, é um importante terrorista islâmico que tem ligações com grupos extremistas do Oriente Médio. A CIA – agência de inteligência dos EUA – é fiadora das acusações dos paraguaios contra ele.

Os agentes da Polícia Federal brasileira que investigaram o caso, no entanto, chegaram à conclusão de que ele não é terrorista e pode ter sido vítima de uma disputa comercial. Há várias outras reclamações da comunidade árabe da Tríplice Fronteira contra agentes paraguaios que extorquem comerciantes com a ameaça de que, se não pagarem, serão denunciados como terroristas para os americanos. Uma outra advertência dos agentes brasileiros é com relação aos argentinos.

Na Argentina não existe uma coordenação central das informações que funcione de fato. Há uma competição entre as várias agências. Não é raro uma desmentir a outra. A esse caos é atribuída a falta de uma solução para os dois maiores atentados terroristas já ocorridos na América do Sul, ambos em Buenos Aires, capital da Argentina. Em julho de 1994, o prédio da Associação Mutual Israelita Argentina (Amia) foi alvo de um carro-bomba, com um saldo de 94 mortos.

Em 1992, a embaixada da Israel foi destruída por uma explosão, que deixou 29 mortos. Os problemas dos brasileiros com os agentes uruguaios não são diferentes dos existentes com os argentinos. Com um agravante: há uma forte carga de parcialidade ideológica antiesquerdista nas informações dos uruguaios, segundo os policiais brasileiros.

A reclamação brasileira contra os seus parceiros foi um dos assuntos fortes debatidos nos bastidores de um encontro dos representantes do Mercosul ocorrido no final do mês passado, em Porto Alegre. Foram tratados três temas na reunião: trânsito de estrangeiros na fronteira, Justiça e terrorismo. Este último ponto acabou dominando as conversas, devido à proximidade do primeiro aniversário dos atentados de 11 de Setembro nos EUA.

CARLOS WAGNER

 
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