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 | 20/07/2002 19h42min

Ofensiva dos EUA contra o Iraque é tida como certa

A reedição de um confronto armado protagonizado por Estados Unidos e Iraque em 1991, até há pouco tida como possibilidade remota, já é vista como certa. À medida que se aproxima o primeiro aniversário dos atentados terroristas de 11 de setembro, consolida-se a convicção de que os norte-americanos vão desencadear uma ofensiva a fim de depor o ditador iraquiano, Saddam Hussein. A única dúvida remanescente é quanto à data em que aviões, tanques e tropas começarão a se deslocar rumo ao Golfo Pérsico.

No último dia 8 de julho, o presidente George W. Bush reafirmou – pela terceira vez este ano – a intenção de “utilizar todos os meios disponíveis” para derrubar o ditador. Dias depois, reportagens nos jornais The New York Times e The Guardian, este último de Londres, expuseram com detalhes supostos planos de invasão do Iraque, elaborados pelo Pentágono. Os planos, embora qualificados de “especulação” por Bush, não mereceram um desmentido formal.

De acordo com fontes de Washington, Bush gostaria de ver Saddan longe do poder por duas razões principais. A primeira se deve ao arsenal de armas químicas, biológicas e, brevemente, nucleares, que, no entender de Washington, representam uma ameaça permanente ao frágil equilíbrio do Oriente Médio, sem contar a probabilidade de que algum dia caiam nas mãos da Al-Qaeda, a organização terrorista de Bin Laden. A segunda razão são as grandes reservas petrolíferas do Iraque. Sob o controle dos Estados Unidos, por meio de um regime favorável aos interesses norte-americanos instalado em Bagdá, elas seriam uma arma econômica, reduzindo a dependência do petróleo produzido pela Arábia Saudita e também permitindo lidar com o Irã em condições mais favoráveis. Para manter sauditas e iranianos sob controle, bastaria, por exemplo, acenar com o aumento da produção iraquiana, já que a concretização da ameaça causaria estragos consideráveis na economia dos dois países.

O fracasso das negociações entre representantes da Organização das Nações Unidas (ONU) e do governo iraquiano, quando não se encontraram fórmula que permitisse a volta dos inspetores de armamentos da ONU ao país, reforçou, entre assessores de Bush, a suspeita de que o programa armamentista de Saddam teve ritmo acelerado depois da partida dos inspetores, no final de 1998. Muitos acreditam que os iraquianos ainda dispõem de 12 a 18 mísseis Scud (os mesmos disparados contra Israel durante a Guerra do Golfo), além de mísseis de curto alcance, produzidos com tecnologia própria.

Como o “modelo afegão” não pode ser aplicado ao Iraque (o poderio bélico de Saddam é muito superior ao do deposto Talibã, e a oposição iraquiana, fragmentada e sem armas, não pode ser comparada à Aliança do Norte, a coalizão afegã) e as chances de um golpe palaciano bem-sucedido são mínimas – desde a Guerra do Golfo, houve seis tentativas –, o emprego de um número relativamente baixo de soldados dos EUA ou apenas de integrantes de esquadrões de elite está descartado.

Antes de organizar uma ofensiva antiSaddam, os EUA têm de analisar hipóteses atuais na região. O ditador iraquiano deixou de ser a ameaça que era em 1991: Egito, Arábia Saudita e outros países estão muito mais preocupados com a insatisfação entre suas populações e com o conflito entre israelenses e palestinos. Se Saddam, acuado, conseguisse envolver Israel (o que, com Ariel Sharon à frente do governo israelense, não seria difícil), estaria provocando uma guerra prolongada, que uniria moderados e radicais dos países árabes e provavelmente faria o preço do barril de petróleo subir à estratosfera. A estes problemas podem ser acrescentadas a instabilidade política na Turquia (um aliado vital para qualquer plano de invasão do Iraque) e a necessidade de tranqüilizar Síria e Irã, que, embora não sejam amigos de Saddam, devem preferir, em matéria de vizinhança, o ditador a um regime pró-americano.

No governo de Bush, apenas o secretário de Estado, Colin Powell, é abertamente contrário a uma invasão ao Iraque.

 
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