Floripa 284 anos | 19/03/2010 20h12min
Diário Catarinense - É um prazer conversar com a senhora, escolhida como símbolo de Florianópolis.
Ponte Hercílio Luz - O prazer é todo seu (risos). Estou brincando. É que estou com saudades de conversar, de ver as pessoas de perto. Afinal, fui interditada em 1982, reaberta para pedestres, bicicletas e motocicletas em 1988 e fechada novamente em 1991.
DC - Pois então, quando a senhora vai ser reaberta novamente?
Ponte - A previsão era para este ano. Mas encontraram algumas fissuras nas rótulas de apoio, como se fossem os meus pés. A previsão do Departamento Estadual de InfraEstrutura (Deinfra) é para 2011.
DC - E aí, para que a senhora será usada?
Ponte - Para qualquer tipo de tráfego, qualquer tipo de carga, diz o
Deinfra. Ônibus, carros, metrô de superfície ou apenas para pedestres, bicicletas, carroças.
DC - Qual a sua
preferência?
Ponte - Não cabe a mim definir. Há defensores de todas as ideias. O escritor Flávio José Cardozo, por exemplo, escreveu, em 1988, que eu deveria ser usada somente para pedestres, bicicletas, gente a pé. Mas o que mais me emocionou foi a história de quando ele me conheceu: "Foi, sim, uma tarde única. Boquiaberto sob as inquietantes colunas, tolo diante dos portentosos elos e correntes, temeroso com a água entrevista pelo vão das tábuas, vencer a ponte naquele primeiro dia foi como conhecer a África".
DC - O que mais escreveram sobre a senhora?
Ponte - Gosto muito de um texto do Franklin Cascaes. "Se falássemos poeticamente, eu diria que é um pássaro aquático pousado sobre as águas do mar e com as duas asas, uma sobre a ilha e a outra sobre o continente". Bonito, não?
DC - Bonito. Mas fale sobre a sua história.
Ponte - Sabe o que se discutia na época? Muitos queriam mudar a
capital para Lages ou Curitibanos. Então o governador Hercílio Luz (que nome bonito, não?) fez um empréstimo equivalente a dois orçamentos do Estado. E ele nem me viu nascer. Meu nome seria Ponte Independência, mas decidiram homenageá-lo. E hoje sou considerada o símbolo de Santa Catarina. Com 83 anos, tenho 821 metros de comprimento, 45 metros de altura e peso aproximadamente 5 mil toneladas. Sou uma das mais importantes pontes pênseis do mundo e a maior do Brasil. E fico toda iluminada durante a noite.
DC - E o que a senhora representou na época?
Ponte - Eu fui a primeira ligação entre a Ilha e o Continente. Antes, a travessia era realizada em pequenos barcos. O historiador Sandro Costa da Silveira me estudou e disse que eu fui responsável direta pela urbanização da Ilha. Antes, mal entravam carros na parte insular.
DC - Quantos adjetivos! Sempre
a senhora foi vista dessa forma?
Ponte - O
historiador Mário César Coelho diz que eu já fui representada de formas distintas: como um monumento ao progresso ou como uma ruína da modernidade. No seu artigo A ponte cartão-postal, ele lembrou de um texto de maio de 1982 do jornalista Raul Caldas Filho, que mostrava esta ruína da modernidade. A ponte vizinha Colombo Salles reclamava do trânsito: "Não aguento mais todo este peso nas minhas costas". Eu respondia: "Eu jamais passei um aniversário tão sozinha!" Na época, 56 anos. Mas a Colombo Salles procurava me animar: "O que seria da paisagem da cidade sem a sua presença?".
DC - A sua beleza é exaltada por muitos.
Ponte - Pra você ter uma ideia, uma polêmica aconteceu em fevereiro do ano passado. A prefeitura embargou uma obra do Estado que colocava guard-rails no lado direito da Ponte Colombo Salles (sentido Ilha-Continente). Os guard rails tiravam a visão de quem trafegava pela minha
vizinha. Depois de uma discussão, chegaram a um
meio termo.
DC - Os turistas param para tirar fotos da senhora. E os moradores da cidade?
Ponte - Apesar de estarem mais perto, ainda me admiram. O Glaudio Schmitz mora na Ilha, quase embaixo de mim. Ele ainda se emociona em cada pôr do sol. E quando chega uma visita, ela diz: "Você mora no melhor lugar da Ilha". É ao meu lado (risos).
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