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O governo insistiu nesta segunda, dia 16, com o argumento de que as denúncias de corrupção que vieram à tona na semana passada dizem respeito a fatos anteriores à atual administração. O objetivo é restringir os efeitos do caso Waldomiro e evitar a instalação de uma Comissão parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o assunto. A estratégia ficou clara no rápido pronunciamento do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, a quem Waldomiro Diniz, ex-subchefe de assuntos parlamentares da Presidência, era subordinado até a reforma ministerial.
– Quero declarar que os fatos denunciados aconteceram em 2002, antes do atual governo, no Estado do Rio de Janeiro. Não foi apontada nenhuma irregularidade durante o atual governo – disse Dirceu no Congresso, após a cerimônia de abertura do ano legislativo.
As denúncias surgiram devido a uma fita divulgada na edição desta semana da revista Época, mostrando Waldomiro pedindo propina e contribuição de campanha para três governadores – dois deles do PT – a um bicheiro nas últimas eleições. Em Milão, onde participava de uma conferência de infra-estrutura, o ministro do Planejamento. Guido Mantega, seguiu na mesma linha.
– Esse problema de corrupção foi algo que aconteceu na gestão anterior de um governo estadual.
O presidente do PT, José Genoino, fez coro.
– Está mais do que claro que essa CPI não tem sentido, pois não é um fato relacionado ao nosso governo.
Mesmo entre a oposição, que busca a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o caso, houve quem concordasse com o argumento do governo.
– Quero ver se já apareceu alguma denúncia em relação à atuação do Waldomiro no governo federal. Por enquanto, não temos isso – disse o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que pretende seguir a orientação da bancada sobre a CPI.
Na linha mais combativa, o também tucano Antero Paes de Barros (PSDB-MT) recolhia assinaturas para a CPI. Ele precisa do apoio de pelo menos 27 senadores para poder pedir a instalação da comissão no Senado. Depois disso, o governo ainda pode emperrar o processo se os partidos de sua base não indicarem integrantes para formar a CPI.
– Evitar a CPI pode ser caro para o governo e caro também para o Dirceu – disse o cientista política David Fleischer, professor da Universidade de Brasília, referindo-se a eventuais barganhas, como distribuição de cargos, para obter apoio de parlamentares. Para Fleischer, o governo pode usar outra estratégia para abafar o caso: concordar com uma CPI desde que ela fizesse uma ampla investigação de financiamentos de campanha. Isso, segundo ele, incluiria o envolvimento do jogo ilegal e do tráfico, as duas fontes mais importantes de dinheiro vivo para campanhas, o que não interessa a ninguém.
– Ou vai ter um impedimento da CPI, o que seria um desgaste grande do governo, ou vai ter uma CPI mais ampla e todo mundo vai trabalhar para
abafar.
Dirceu contou com a solidariedade
dos presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP). Nos discursos da cerimônia de abertura do ano legislativo, eles fizeram questão de manifestar apoio ao ministro. Para Sarney, Dirceu é "homem público cuja biografia é página de vida comprometida com a democracia, marcada pela coerência e dedicação à causa pública".
O presidente da Câmara, ao final de seu discurso, ressaltou que Dirceu poderia contar com ele para todos os desafios e propostas que o governo pretende encaminhar ao Legislativo este ano. Embora o apoio fosse institucional, no atual contexto, a mensagem foi obviamente mais ampla. A vinda de Dirceu ao Congresso para trazer a mensagem de Lula foi decidida nesta manhã no Palácio do Planalto. Até o início da manhã, a idéia era de enviar ao Congresso o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo.
Pela manhã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para a reunião com os ministros da coordenação política para discutir as ações sobre o caso.
Com informações da agência Reuters.
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