Eleições | 01/11/2010 01h06min
Uma série de fatores levou à derrota do candidato do PSDB à presidência — além, é claro, dos acertos da campanha adversária. Explicações para o mau resultado dos tucanos podem ser encontradas, por exemplo, nos problemas internos do próprio PSDB — um dos principais líderes tucanos, o ex-governador mineiro e senador eleito Aécio Neves também sonhava com a candidatura ao Palácio do Planalto e só se envolveu na campanha no finalzinho, tarde demais.
Central de boatos
Os eleitores foram bombardeados, via internet, telefonemas ou pelo velho e simples panfleto, de boatos amedrontadores sobre como José Serra faria mudanças no país. Sobraram insinuações de que ele iria estatizar o Banco do Brasil e a Petrobras, retroceder na exploração de petróleo, acabar com o Bolsa-Família. Esse último foi o principal e decisivo fator para que muita gente rejeitasse o voto no tucano. São 11 milhões de famílias beneficiadas pelo plano, atemorizadas com a possível perda do benefício.
Escândalos
Dois escândalos estouraram neste pleito, atingindo tucanos. O principal foi o suposto sumiço de R$ 4 milhões do Caixa 2 da campanha do PSDB. O dinheiro teria sido desviado por Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, ex-diretor de uma estatal de transportes nos governos tucanos paulistas. A verba seria oriunda de doações de empresários.
O outro escândalo é a espionagem que Serra teria ordenado contra seu rival dentro do PSDB, o então governador mineiro Aécio Neves. No contra-ataque, simpatizantes de Aécio teriam encomendado um dossiê sobre repasses de dinheiro para o Exterior feitos por familiares de Serra.
O fator regional
A presidente eleita, Dilma Rousseff, venceu em três das cinco regiões brasileiras no primeiro turno. Serra ganhou a primeira etapa da eleição no Sul e no Sudeste. Apesar de serem regiões com a maior concentração de PIB no país, isso significa poder econômico, mas não se traduz, necessariamente, em votos. Na região Nordeste — onde houve a maior diferença entre os dois principais concorrentes —, a petista recebeu 61,63% dos votos no primeiro turno, contra 21,48% do tucano. Só no Sudeste ele venceu com folga.
Racha no PSDB
O partido fez de tudo para minimizar, mas a verdade é que a candidatura de Serra estava longe de ser uma unanimidade. O ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves desejava ser o candidato a presidente este ano. E comunicou ao PSDB que exigia prévias. Acabou atropelado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que preferiu jogar as fichas em um candidato paulista, com o argumento de que Serra se preparava havia mais tempo e tem mais experiência.
Aécio, contrariado, só se envolveu explicitamente na campanha de Serra ao final, quando as pesquisas já apontavam uma vitória da adversária petista, Dilma Rousseff.
Sem votos no feriadão
Mais de 1,5 milhão de veículos deixaram a capital paulista no feriadão do Dia dos Finados. Isso significa pelo menos 4 milhões de eleitores, que majoritariamente tinham votado em Serra no primeiro turno da eleição, em 3 de outubro, desta vez não foram às urnas. Preferiram a praia à serra, brincavam, em um trocadilho de humor sarcástico, os próprios tucanos. No interior do Estado, onde Serra também venceu no primeiro turno, a abstenção foi igualmente alta.
Desânimo
Serra foi incansável. Concedeu mais de 120 entrevistas coletivas. Visitou dezenas de cidades em um mês (por vezes, três estados em um só dia). Rezou em público, discursou, deu beijo em criança. Mas, ao final, sofreu abalos sucessivos quando as pesquisas insistiam em aumentar, a cada semana, a vantagem percentual de Dilma sobre ele.
O desânimo tomou conta dos cabos eleitorais, mesmo que os sorrisos permanecessem, para consumo externo. Retrato disso foi o último dia de campanha, que não teve passeata, caminhada, cumprimento em eleitor. Nada. Só silêncio.
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