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 | 04/09/2010 19h00min

Espionagem eleitoral: como Lula e PSDB disputam controle sobre escândalo

Lula exigiu investigação paralela da Abin para manter-se informado sobre os desdobramentos das denúncias envolvendo a Receita

Fabiano Costa e Fábio Schaffner  |  fabiano.costa@gruporbs.com.br e fabio.schaffner@gruporbs.com.br

Na trincheira petista, Lula exigiu uma investigação paralela da Abin para manter-se informado sobre os desdobramentos das denúncias envolvendo a Receita. No lado tucano, líderes defendem que Serra aproveite a repercussão para tentar abater voo de Dilma.

Acuado pela artilharia da oposição, o presidente Lula determinou uma investigação paralela sobre a violação do sigilo fiscal da empresária Verônica Serra, filha do candidato José Serra (PSDB).

Além de encarregar a Polícia Federal do inquérito oficial, Lula pediu que arapongas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) passem a vasculhar a Receita Federal.

A ordem foi emitida na quarta-feira, durante despacho no Palácio do Planalto com seis ministros do núcleo duro do governo. Diante de Erenice Guerra (Casa Civil), Guido Mantega (Fazenda), Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Paulo Bernardo (Planejamento), Luiz Dulci (Secretaria-geral) e Marco Aurélio Garcia (Assuntos Internacionais), um Lula enfurecido exigiu uma varredura completa no Fisco. Cobrou informações em tempo real sobre as investigações para não ser surpreendido pela imprensa.

— Lula colocou todos de prontidão. Ele quer saber quem acessou, quem liberou, quem entregou, a mando de quem. Quer ser informado de tudo — revela um interlocutor do comando de campanha de Dilma Rousseff (PT).

A campanha e os dossiês: do episódio Lanzetta até a sindicância da Receita

Os arapongas estão encarregados de dissecar a vida dos servidores envolvidos no episódio e dos dois homens que tiveram acesso aos documentos. A intenção é encontrar provas que sustentem o discurso petista, segundo o qual os acessos ilegais são obra de quadrilha especializada na venda de informações. Ao comprovar que a violação do sigilo de Verônica seria um crime comum, o Planalto espera esvaziar os ataques da oposição. A situação, porém, piorou com a revelação de que o contabilista Antonio Carlos Atella Ferreira, falso procurador de Verônica, foi filiado ao PT até novembro de 2009.

— Os tucanos estão desesperados, tentando politizar um crime — diz um dirigente petista.

Erenice faz relatos a Dilma

Preocupada com prejuízos eleitorais, Dilma escalou Erenice, seu braço direito, para repassar relatos diários sobre os vazamentos. O Planalto também destacou o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Machado, para monitorar a atuação da cúpula da Receita. Fundador do PT, Machado é homem de confiança de Mantega e tem influência sobre a ala sindicalista que ocupa cargos de direção no órgão. Nas últimas semanas, o Planalto já temia que uma ação de aloprados vinculados ao partido colocasse em risco a campanha de Dilma. A repercussão do escândalo no Fisco, porém, gerou alerta máximo. Desde então, pesquisas qualitativas diárias medem o impacto das acusações junto ao eleitorado. Para evitar que Serra amplie o discurso de vítima, o partido decidiu lançar uma contraofensiva.

Nos tribunais, já são três processos contra os tucanos, por injúria, calúnia, difamação e por imputação falsa de crime contra Dilma e contra o PT. Os advogados estão orientados a procurar na propaganda de Serra brechas que resultem em perda de tempo de TV. Em outra frente, sindicatos e militantes se preparam para ampliar a mobilização de campanha nas ruas, estratégia usada no escândalo do mensalão.

Por enquanto, a avaliação no QG petista é de que a cobertura da imprensa e os ataques da oposição não foram suficientes para reverter a possibilidade de Dilma vencer a eleição ainda no primeiro turno. A ausência de uma imagem marcante – como a mesa ocupada por R$ 1,7 milhão apreendido com petistas às vésperas da eleição de 2006 – e o fato de que apenas uma pequena parcela do eleitorado paga IR alimentam as esperanças de que o desgaste seja pequeno.

Dossiês que abalaram campanhas

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