As primeiras palavras do médico legista Sami El Jundi, 41 anos, ao telefone, foram de quem não estava prestando atenção no que dizia, mas no que via.

— Vocês já estão no Nordeste? — foi a pergunta de Zero Hora.

— Estamos no meio dos escombros — respondeu o médico, pausadamente, como se olhasse em volta enquanto falava.

Jundi lidera um grupo de 24 médicos, enfermeiros e técnicos em enfermagem do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) que, convocado pelo Ministério da Saúde, embarcou ontem de Porto Alegre para Alagoas, Estado mais atingido pelas enchentes que atingem também Pernambuco desde o final de semana passado. Logo após a chegada, os profissionais tiveram contato durante a tarde com a paisagem de devastação e suas vítimas.

Os profissionais do GHC estiveram em três municípios arrasados, Santana do Mundaú, União dos Palmares e Branquinha. Foi a situação deste último, à beira de um rio, que mais impressionou o coordenador:

— A água levou bairros inteiros. Agora começaram os problemas de saneamento. A cidade não tem água, esgoto e energia elétrica — relata Jundi.

Os enviados gaúchos serão responsáveis pela assistência à população, em hospitais e postos de saúde.

No domingo partem de Cachoeira do Sul os primeiros militares gaúchos rumo ao Nordeste. O 3º Batalhão de Engenharia de Combate construirá uma ponte em Pernambuco.

Os números da tragédia

Em Alagoas, 35 pessoas morreram por causa das cheias. Na região Nordeste, são 51. O último balanço da Defesa Civil, divulgado na tarde de ontem, indicava mais de 180 mil pessoas afetadas pelas enxurradas. Dessas, quase 70 mil tiveram que deixar suas casas, sendo alojadas em residências amigos e parentes ou em abrigos públicos. Além disso, 15 cidades decretaram estado de calamidade pública.

Nesses locais, já foram distribuídas quase 20 mil cestas básicas. Há 76 pessoas desaparecidas.

Em Pernambuco, a Defesa Civil aponta 17 mortes e mais de 82 mil pessoas fora de suas casas devido aos temporais.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a liberação de R$ 550 milhões para auxiliar as vítimas nos dois Estados. Mais R$ 1 bilhão será destinado para a reconstrução de pequenas e médias empresas. Lula também anunciou a liberação do FGTS para todos os afetados nas cidades que decretaram calamidade.