| 18/07/2009 17h33min
Além de jornalista, escritor e tradutor, Eduardo Bueno, o Peninha, é torcedor fanático do Grêmio. A paixão pelo Tricolor gaúcho o fez escrever o livro Grêmio - Nada Pode Ser Maior, no qual deixa a imparcialidade longe e conta a história do Grêmio.
Na véspera do Gre-Nal deste domingo, no Olímpico, quando o maior clássico do futebol gaúcho completa 100 anos de História, Eduardo Bueno contou qual é seu Gre-Nal inesquecível. E não poupou o Internacional de algumas alfinetadas. Confira!
"Faz cem anos - mas parece que foi hoje...
Mesmo sendo jogo importante, cheguei atrasado. Cinqüenta e nove anos atrasado. O Grêmio já havia enfiado dez (sim, 10! E vou repetir, agora em algarismos romanos, para deixar mais claro: X) gols no seu suposto rival - e eu não vi nenhum deles. Foi no dia 18 de julho de 1909, mas parece que foi hoje.
Um ano mais tarde, cheguei atrasado outra vez. Ainda bem que,
naquela ocasião, o Grêmio foi generoso com o pobre adversário, recém-saído das
fraldas, e só encaçapou cinco (five, em inglês) tentos.
Outro ano se passou e, em 1911, mais um atraso da minha parte e deixei de ver o Grêmio meter, enfiar, arregaçar outros dez "golos" (como então se dizia) no, vá lá, "rival", que ainda não aprendera a andar ereto: engatinhava. Por ter faltado àquele terceiro encontro, não vi o adversário enfim assinalar seu primeiro gol no Grêmio.
Três jogos. Placar agregado: 25 x 1. É uma boa proporção, penso eu. Revela com precisão a distância que separa os dois times.
Como vim ao mundo um pouco tarde demais, meu primeiro GRE-nal ao vivo só se desenrolou em julho de 1968. Nascido em Porto Alegre dez anos antes, eu havia sido levado para o estrangeiro (mais especificamente São Paulo) na mais tenra infância (em março de 1963). Mas fui repatriado naquele mês e ano: julho de 1968. E meu querido avô, Augusto, levou-me quase que direto do aeroporto para o Olímpico.
Daquela vez, chegamos na hora.
Mas bem que poderíamos ter chegado atrasados e
perdido todo o primeiro tempo. Afinal, na primeira etapa, para dar mais graça à brincadeira de gato e rato, o Grêmio apenas fustigou o adversário, atordoando-o.
Na etapa complementar, enfiou-lhe quatro gols. Só meu amigo, o centroavante Alcindo, o "Bugre", marcou três. "Quatro a pneu, quatro a pneu", dizia meu avô. Não foi só uma goleada: foi também o jogo que deu o heptacampeonato ao Grêmio. Um bom começo para mim.
Desde então, estive em dezenas de GRE-nais. Posso assegurar que venci mais do que perdi ou empatei. Aliás, nem lembro de ter perdido ou empatado nenhum. Só lembro dos que ganhei - em um deles, meu amigo Yura precisou só de 14 segundos para fazer o primeiro gol. Ainda assim, mesmo com tantas vitórias, o "clássico" que mais lembro é justamente aquele primeiro.
Aliás, dizem que o primeiro a gente nunca esquece... Deve ser por isso que uns e outros aqui no Rio Grande do Sul ainda não esqueceram o dia em que levaram dez (10 - "ten", em
inglês, "dix" em francês, X, em números
romanos - para ficar mais claro).
Foi no dia 18 de julho de 1909. Mas parece que foi hoje..."
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