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 | 20/11/2007 07h

Estilo Dunga: O grupo acima de tudo

Técnico da Seleção Brasileira minimiza as individualidades

Mário Marcos de Souza

Tudo começou naquela tumultuada campanha do Tetra em 1994. Dunga, então volante e capitão da Seleção, voltou dos Estados Unidos com a convicção formada de que um grupo unido é mais importante do que qualquer individualidade. O discurso foi mantido ao longo dos anos, às vezes como resposta aos críticos daquele futebol, em outras como ironia em relação ao futebol-arte derrotado em 1982, e, com pequenas alterações, é repetido agora, a cada entrevista coletiva do técnico da Seleção Brasileira. Assim, se você é daqueles que suspira por mudanças na atual equipe titular, é bom ter paciência – Dunga não vai abrir mão de seus aliados deste primeiro ano de trabalho, peças de um grupo afinado.

Mais uma vez, isso ficou claro na coletiva de ontem, num dos salões do Hotel Transamérica, de São Paulo. Quando um repórter perguntou se as mudanças na Seleção só seriam provocadas por lesões ou suspensões de jogadores, como parece ser a rotina atual, o técnico foi claro:

– Se você mudar a todo momento por este ou aquele problema, os jogadores ficarão sem confiança. E sem ela, você não terá um grupo.

É a palavra mágica que define tudo. Se o trio Kaká, Ronaldinho e Robinho não consegue repetir o futebol inventivo dos clubes, não importa – em torno deles, há outros jogadores para cumprir funções específicas em busca do resultado, dentro do manual adotado por Dunga e seu auxiliar Jorginho, e que já rendeu, é verdade, um título de Copa América e bons resultados ao longo de quase um ano e meio de trabalho. Se os laterais Maicon e Gilberto parecem modestos demais, Dunga lembra que o futebol mudou muito – ou evoluiu, de acordo com seus conceitos. A Seleção enfrenta adversários de mais qualidade, com jogadores que, a exemplo dos brasileiros, estão desde cedo na Europa. Mais preparados, portanto. Se falta um pensador para o meio-campo, capaz de parar a bola como faziam Gerson, Rivellino e tantos outros, é culpa dos novos tempos, segundo o técnico.

– Onde você encontra alguém assim? A base dos clubes prepara hoje meias-atacantes em quantidade, não organizadores – explicou. – Assim como não produz mais pontas. É neste novo ambiente que as equipes têm de trabalhar.

Como não há tempo para mudanças tão profundas e a Seleção ainda precisa trabalhar apertada pelo calendário, sem tempo para treinos demorados, você e qualquer torcedor brasileiro terá de se conformar em ver Mineiro e Gilberto Silva como volantes. Dunga faz poucas concessões e parece muito longe de se preocupar com pressões. Ele próprio admite isso – e, por vezes, suas respostas têm cara de um confronto aberto com a imprensa.
Isso ficou claro mais de uma vez. Quando alguém perguntou se ele não temia as críticas, Dunga foi claro:

– Sei que às vezes pareço um cara meio chato, mas, como dizem lá na minha terra, tenho faca na bota.

Nem era para tanto, mas Dunga aproveitou a pergunta, como ocorre várias vezes, para dar indiretas a alguns críticos. Ontem, ele fez referência a alguém que não teria gostado de ver os jornalistas na chuva, enquanto a Seleção treinava em Teresópolis, poucos dias antes do jogo contra o Peru. Dunga não se importou. Afinal, se ele prefere desconsiderar a quase unanimidade em torno da importância do trio Ronaldinho-Kaká-Robinho, por que se importaria com as queixas da imprensa?

– Tenho de me preocupar é com os jogadores – disse, antes de olhar para o lado, com um sorriso irônico, certo de que tinha atingido o objetivo de responder a alguma eventual crítica.

Não é preciso se esforçar muito para perceber que o "meio chato" admitido por Dunga é modesto demais para o que pensam os repórteres. Não há rodinha de conversa em que não surja alguma queixa sobre o jeito Dunga de ser. Nem nos tempos tumultuados da primeira fase de Luiz Felipe na Seleção havia tantas restrições. Todos comentam, mas todos sabem que o técnico não vai mudar. Ele cumpre rigorosamente os termos daquele manual elaborado nos Estados Unidos, quando o grupo entrava em campo de mãos dadas. Não havia diferentes – bem como ele gosta.

MÁRIO MARCOS DE SOUZA/ZERO HORA
 

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