| 21/09/2007 07h31min
Há duas semanas, Lucas recebeu seu carro e saiu dirigindo sentado no lado direito, trocando as marchas com a mão esquerda e sem errar uma conversão sequer. Nada parece abalar a adaptação do volante à vida inglesa em Liverpool.
Na verdade, o único desconforto é mesmo com a falta de oportunidades. Lucas foi comprado por € 9 milhões, saiu do Grêmio como titular, esteve na Seleção Brasileira no amistoso contra a Argélia em agosto, mas ainda espera vez no Liverpool. O técnico espanhol Rafael Benitez é cauteloso com os jovens estrangeiros. Usou o volante em 22 minutos contra o Toulouse, pela fase preliminar da Liga dos Campeões, e o chamou para a reserva contra o Porto, terça-feira.
– Me causa ansiedade, no Grêmio jogava sempre. Mas aqui é assim, o Benítez é cuidadoso com os jogadores mais jovens. São muitas competições e ganharei oportunidades – conforma-se.
As poucas chances no time e os treinos em turno único, sempre pela manhã, permitem a Lucas apressar a adaptação. Aproveita para caminhar por Liverpool e passar por lugares históricos, como o museu dos Beatles e o Cavern Club, o bar da primeira apresentação do grupo. Como ainda é pouco conhecido pela torcida, consegue manter uma vida mais normal. Cumpre tarefas que em Porto Alegre seriam complicadas, como fazer as compras no supermercado.
Lucas e a namorada, Ariana, moram em amplo apartamento a 20 minutos do centro da cidade e a outros 20 minutos de Melwood, o moderno CT do clube. O volante evitou jogadores como vizinhos, para ampliar o círculo de amigos. Três vezes por semana recebe em casa um professor de inglês contratado pelo clube. O rendimento nas aulas é relatado ao técnico. Embora seja desnecessário. Quase sempre que cruza com ele no vestiário, o volante escuta a mesma pergunta e um conselho:
– Como está o inglês? Você precisa aprender rápido.
Benitez só usou o espanhol com Lucas na apresentação e em casos urgentes. Depois de dois meses em Liverpool, o volante dispensou o intérprete. Entende as orientações nos treinos e até concedeu entrevista organizada pelo clube - uma vez por mês, um jogador atende a 50 sócios sorteados.
– Levei o intérprete, mas nem precisei dele. Consigo falar bem, só quando o assunto é mais específico que me atrapalho – conta.
Lucas mostra-se encantado com o novo clube e sua organização. A paixão dos torcedores do Liverpool e a energia nos jogos no Estádio Amfield o fizeram lembrar dos tempos de Grêmio, com a ressalva de que os contidos ingleses e as cadeiras impedem qualquer chance de haver "avalanche".
– Os jogos e o cenário na Liga Inglesa são de cinema - conta.
O ambiente no vestiário, porém, é bem diferente. Os jogadores são recatados, e os laços de amizade, restritos. Há companheiros com os quais Lucas conversou apenas em meio aos treinos. Um deles, por exemplo, é o capitão e estrela Steve Gerrard, titular da seleção inglesa e a quem ele cansou de usar no seu time do videogame. O grande amigo nestes primeiros meses é o lateral brasileiro Fábio Aurélio, que o ajudou a procurar apartamento e a se adaptar. O que aconteceu bem mais rápido do que Lucas esperava, mesmo andando na mão inglesa.
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