| 01/08/2006 23h34min
Esbanjando bom humor depois de ter levado Portugal ao quarto lugar na Copa da Alemanha, o técnico Luiz Felipe Scolari, o Felipão, esteve nesta terça em Caxias do Sul. Ele chegou no final da tarde, junto com a mulher, dona Olga, e imediatamente se dirigiu ao Café Composto, localizado junto ao Posto Scasa, na Avenida Sinimbu.
Ali, Felipão reencontrou o técnico Valmir Louruz, amigo de todas as horas, e a mulher Marli, proprietários do Café. Na chegada da equipe do Pioneiro, Felipão deu uma versão bem particular para a escolha do local.
– Me disseram que havia uma promoção aqui, de cafezinho com pastel a R$ 1. Aproveitei, vim olhando a cidade, vendo as mudanças, até encontrar os amigos – relatou, provocando risos.
Depois, mais sério, falou de Copa do Mundo, Portugal, Seleção Brasileira e amigos de Caxias. Na seqüência, Felipão iria jantar com amigos no castelo Château Lacave e tinha previsão de retorno a Canoas à noite.
Pergunta: Na última Copa do Mundo, não houve
novidades técnicas e táticas. O que ela trouxe de ensinamentos para os técnicos e todos os que vivem o futebol?
Felipão: Penso que o ensinamento principal é aquele que é o cotidiano, o normal, de que vence o coletivo e não o individual. A equipe da Itália, que foi a campeã, venceu pelo coletivo, não tinha nenhum jogador como expoente máximo, mas, sim, um sistema bem organizado e um grupo que fez também, de uma situação que havia de envolvimento no país (escândalo das arbitragens compradas), mais uma bandeira para se tornar a grande campeã. Então, taticamente não teve muita evolução, não teve muita diferença de outros campeonatos, tecnicamente também não, só mais uma vez mostrou que o coletivo supera o individual sempre.
Pergunta: Pode-se dizer que foi uma Copa bem ao estilo Felipão? Afinal, as idéias que você defendia em 2002 vingaram outra vez...
Felipão: Sim. A Copa do Mundo é um torneio, depois da primeira fase são jogos
eliminatórios, onde temos que ter uma equipe
muito participativa, muito bem focada, porque são 90 minutos e tem que passar para outra fase. Então é mais ou menos um estilo que nós sempre jogamos, principalmente aqui no Sul.
Pioneiro: Depois da Copa, o que o levou a continuar em Portugal, tendo propostas do Brasil e outras seleções?
Felipão: O que mais me fez pensar e que depois me fez decidir junto com a família foi o aspecto de que eu tenho um dos filhos que faz mais um ano de Direito e aí forma-se em Portugal. Aspectos familiares que nós conversamos e que fizeram com que eu pensasse e repensasse na proposta de Portugal e lá permanecesse. A seleção de Portugal me dá tudo aquilo que eu desejo como técnico, tenho bons jogadores, um ambiente maravilhoso com meu grupo de trabalho, com os dirigentes, com a federação. Tenho um ambiente fantástico com a torcida, minha família tem uma situação de vida muito tranqüila.
Pergunta: E depois desses dois anos, você pensa em
voltar a trabalhar com a Seleção Brasileira ou
essa é uma página virada em sua vida?
Felipão: Não, não é uma página completamente virada, mas eu não penso no futuro em termos de Brasil, em termos de nada. Só penso na seleção portuguesa, tenho que fazer meu trabalho dentro desses dois anos, pensando em dar o melhor para a seleção. O melhor deste momento é classificar para a Eurocopa, e depois jogar ela em 2008. Eu sempre fiz assim, sempre deixei as coisas seguirem normalmente, para depois tomar decisões. Portanto, vou pensar em Portugal até 2008, a não ser que haja uma rescisão de contrato ou algum problema em 2007 que mude tudo.
Pergunta: O que você achou da indicação de Dunga para técnico da Seleção Brasileira? A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) teria apostado em uma personalidade forte, talvez próxima do seu estilo?
Felipão: Não, eu penso que quem escolheu o novo técnico, no caso a CBF, pensou bem, fez uma escolha dentro de critérios que entendia serem os mais
corretos para este momento. O Dunga tem um
trabalho inteiro pela frente, tem o início da sua vida profissional como técnico e acho que as pessoas, no Brasil, os jornalistas principalmente, têm que esperar até um determinado número de jogos para observarem os treinamentos, as reações como técnico, uma série de situações, para depois darem uma opinião mais concreta se foi correto, se não foi correto, se é uma pessoa que tem todas as condições ou não tem. Tem que deixar o Dunga trabalhar bem à vontade, dentro da sua forma de ser, que é o principal, e depois fazer uma análise. Neste momento, não se pode fazer nenhuma análise, porque o Dunga não é um técnico, ele inicia como técnico. Então, deixem ele trabalhar, deixem à vontade, deixem ele colocar em prática tudo aquilo que foi como jogador e que ouviu dos seus técnicos para daqui a três meses, seis meses, um ano ou dois anos, terem uma opinião. E os resultados também servirão para que a gente possa ter um parâmetro.
Pergunta: Você acompanhou ou ouviu alguma coisa da
convocação de hoje
(ontem), a primeira de Dunga?
Felipão: Não, até porque estava viajando e parei para almoçar, não vinha com o rádio ligado, vinha conversando, vendo a cidade. Quando cheguei aqui, umas duas horas atrás, encontrei muitas diferenças. Então, não sei quem ele convocou ou não, mas foi dentro dos seus critérios. E é isso que eu sempre falo: dentro dos critérios que um técnico tem, a gente sempre tem que manifestar apoio àquelas convocações, porque aquela é a idéia do técnico para que tudo dê certo. Não sei quem foi, mas quem foi, para mim, está bem escolhido. Eu nunca discuto as escolhas dos outros técnicos porque não gosto que discutam a minha.
Pergunta: Nesta quarta-feira, o Caxias tem um jogo importante pela Série C do Brasileiro. Você sabia, tem acompanhado algo sobre o clube?
Felipão: Eu estava falando com o Valmir agora, perguntando sobre os nossos amigos da crônica (esportiva), do tempo ainda que nós jogávamos, sobre quem está
ainda na ativa, e depois como estão as
equipes. É claro que eu tenho conhecimento dos resultados, de algumas situações envolvendo o Caxias e o Juventude. Mas não um conhecimento profundo, de algumas coisas que acontecem dentro dos clubes, como vivi no tempo em que jogava em Caxias. Mas sempre tenho seguido, principalmente os resultados, as contratações, algumas situações para melhor ou para pior.
Pergunta: A sua ligação com Caxias do Sul continua forte, pelos amigos, negócios...
Felipão: Continua forte, sim. Continuo tendo um relacionamento maravilhoso, o nosso prefeito (José Ivo Sartori, PMDB) é um velho companheiro de futebol de salão – no tempo do futebol de salão, agora é futsal. Tenho meus amigos que aqui vivem, o Valmir, Bagatini, o Iaúca, o pessoal com quem nós jogamos. Tenho ex-dirigentes, o Mário Ruaro, o Sérgio (Tomazzoni), do Juventude, o Paulo Zugno... Eu tenho aqui um relacionamento espetacular, alguns negócios ainda e, uma ou outra vez, quando me sobra uma oportunidade, pago
umas visitas aqui, que eu
devo, pois prometo e não venho... Agora, deu certo.
Pergunta: Para finalizar: você é um exemplo de pessoa bem-sucedida, aliando competência e sorte. Um desses fatores acaba pesando mais?
Felipão: Não. Sorte é trabalho. Se eu não trabalhasse, as coisas não aconteceriam. As oportunidades, às vezes, surgem diferentemente para uns e para outros, e nós vamos aproveitando ou não, e pronto. Tenho feito o meu trabalho normalmente e conseguido alguns resultados que me dão condições de estar onde estou atualmente. Acho que tem tantas pessoas com as mesmas condições que não apareceram as oportunidades ou que as oportunidades foram perdidas. Nós, hoje, seguimos dizendo que é bom ter estrela, sim, mas tem que fazer e trabalhar para isso. Então, continuo trabalhando, gosto do que faço, gosto do meu trabalho, e isso é o principal para conseguir o objetivo.
Grupo RBS Dúvidas Frequentes | Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2010 clicRBS.com.br Todos os direitos reservados.